Existem determinados tipos de mídia que vão além do que consiste a soma de suas partes, além das características que vêm obrigatoriamente do meio em que são publicadas ou expostas. Essa, na minha opinião, é a parte mais bela da arte, quando consegue sair do técnico (onde muitas vezes nem é tão bem executado) e provocar uma transformação, uma reflexão, e até mesmo mudar um estilo de vida inteiramente a partir da transmissão de uma mensagem. Inmost não foi o primeiro jogo que me fez sentir isso, mas senti uma vontade de escrever um pouco mais sobre essa sensação após finalizar esse excelente trabalho da Hidden Layer Games e Chucklefish Studios. Justamente por não ser a melhor produção já distribuída pela Chucklefish, mas é a que tem maior impacto individual em quem joga!

Se você para para olhar Inmost do ponto de vista puramente técnico, como uma avaliação direta do que a "jogabilidade" oferece, ele tem defeitos, não vou negar. Os controles não são tão precisos, a sensação de controlar os personagens e seus pesos não dão aquela sensação gostosinha que estamos acostumados em outros jogos de plataforma, a movimentação pode ser muito lenta, tem alguns bugs leves que podem incomodar e as decisões de onde colocar o texto, sem contraste com o plano de fundo ou momento em que determinado evento do jogo está acontecendo, e talvez poderiam ter feito algumas escolhas com maior impacto para gerar diferentes finais (ou não, do jeito que está ficou bom também).

Ah, mas então por que eu estou dando nota alta para um jogo com tantos defeitos? Porque talvez seja errado olhar para Inmost como apenas um jogo. Eu nunca vi um jogo ter tanta maturidade e criatividade para retratar a dor, o sofrimento, luto, empatia e também o amor. Como alguém que está passando por um dos momentos mais conturbados em relação à luta contra a ansiedade, insônia e problemas familiares, posso afirmar que a mensagem final sobre encarar o sofrimento foi extremamente importante e impactante pra mim. Consegui me conectar de maneira bem pessoal com tudo e com certeza abriu novas perspectivas e novos sentidos para a minha vida.

Além disso, também não é como se o jogo não tivesse seus próprios méritos técnicos, com uma das animações em pixel-art mais lindas que eu já vi, que conseguem exprimir por completo as nuances e sentimentos que a temática e proposta exigem, e a sua narrativa é extremamente bem elaborada e coesa, com acontecimentos paralelos que vão se aproximando até chegar em um ponto em comum. No fim das contas, Inmost não é um jogo convencional, e talvez não seja do gosto de qualquer pessoa. Mas definitivamente vale a pena pelo seu impacto e capacidade de mudar uma vida, ou pelo menos a perspectiva pela qual alguém enxerga a vida. E não estou exagerando, foi exatamente isso que eu senti.