O primeiro capítulo da saga de senua foi um marco impressionante para os jogos narrativos. A ideia de mesclar a esquizofrenia da protagonista com elementos de narrativa e gameplay com um extremo respeito e acuracia transformou o primeiro jogo em uma experiência singular.

Como video-game, ele era bastante simples. Os puzzles envolviam uma brincadeira de perspectiva que eram muito legais, apesar de fáceis, e o combate era sufocante. Sim, mesmo seguindo a filosofia simples dos puzzles, as lutas contra inimigos e chefes conseguiam deixar o jogador empolgado para os momentos de ação, como a luta contra o fenrir. Além do que, a história de Senua e sua viagem direto para Hel era tocante. O arco da protagonista mesclava a todo momento a realidade com as figuras imaginárias de sua condição e o final é um soco no estômago.

Ao anunciarem o segundo capítulo, eu estranhei. Havia nececssidade de continuar uma história que foi fechada de maneira magistral ? Senua completa sua jornada da melhor forma possível e o final não parece deixar pontas soltas, muito pelo contrário. Será que a Ninja Theory conseguiria escrever uma história tão boa que justificaria o retorno de Senua ? Infelizmente, a resposta, depois das quase 9 horas de campanha, é não. Hellblade II falha na principal característica de uma continuação, melhorar o original.

Vamos tirar logo o maior ponto positivo de Senua's Saga, os gráficos está entre um dos melhores que já vi. A expressão facial, as texturas, a iluminação, a fumaça, a sensação de impacto das animações de luta, tudo foi construido com um primor técnico sublime. O trabalho de vozes, também, está louvável, ainda mais com a adição de personagens que acompanham a protagonista durante a jornada. Apesar disso, o trunfo está na Senua de Melina Juergens que muda bastante a perfomance sendo uma figura bem mais imponente e resolvida, mas ainda duvidando de suas ações.

Apesar disso, todos os outros pontos do jogo são inferiores ao primeiro. O primeiro é o combate, botões de ações foram removidos, bem como as grandes batalhas contra chefes, e os tipos de inimigos são pívios, além do que só enfrentamos um por vez. Os puzzles ficaram mais fáceis ainda e se tiver 10 durante toda a jornada é muito. Para falar a verdade, o que o jogador mais faz durante a campanha é segurar o analógico para frente durante levas e levas de corredores, uma espécie de experiência guiada daquelas de circo que você deve apenas assistir e interagir pouco.

Sinceramente, nada disso importaria se a narrativa fosse aprimorada, o que não é o caso. Hellblade II precisava responder o final aberto do primeiro e eles fizeram isso da pior maneira possível. Se no primeiro jogo a ambiguidade das situações deixava o jogador confuso, não demora muito tempo para o segundo capítulo escancarar os seus elementos mágicos. Senua parece ser uma coadjuvante na sua própria história e as vozes de sua cabeça, que eram essenciais para o entendimento da personagem, tornaram-se um artifício de exposição. É ridículo ver como a esquizofrenia de Senua e todo o respeito que tiveram pela a condição dela foi jogado fora completamente.

A narrativa em si é muito morna e não tem muito o que contar, o primeiro capítulo e o quinto são talvez dois dos melhores momentos do jogo. Existem dois capítulos inteiros, de 6, que nada acontece. 60% do jogo é apresentação de elementos e 40% é a resolução da pior maneira possível desses mesmos elementos. A única coisa positiva nova é o povo Huldufólk, localizados como Elfos, que conseguem resgastar um pouco da ambiguidade das situações do original.

Por fim, Hellblade II afogou-se num mar de decepções. Gráficos exuberantes e animações de tirar o fólego não conseguem esconder a sujeira que são sua história, personagens e jogabilidade. Senua merece bem mais do que a Ninja Theory conseguiu entregar nessa sequência.

Reviewed on May 23, 2024


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