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Alexandre Nero – Não Aprendi Dizer Adeus

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Two years ago, more or less on this day, I started dating a girl with whom I thought I’d spend the rest of my life. We initially bonded over our shared fascination for a widely-hated villainess in an indie RPG. My previous experiences with romance had led me to believe that I was slow to love, but things escalated faster than I anticipated. Five months after we exchanged our first words, we were together. We were often vulnerable with each other, spent a lot of quality time together, exchanged countless compliments and pet names and gifts and I-love-yous, everything sappy you’d think about in a fairy tale. We were long distance, but planned to live together eventually, a shared dream. My happiest memories are of the times she visited me. We unceremoniously got engagement rings and only after did I understand – really understand, as more than intellectual acknowledgement – what this meant: in the future, I would wake up next to my wife, a real person with whom I have reciprocal love, every day.

We’ve been apart for 7 months. As it turns out, I’m not the type of person for whom she feels attraction. It was stunning, appalling, upsetting, devastating. For both of us, because, as we learned with each other, lack of attraction is not synonymous with absence of love. The anguish, regrets, wishes and apologies we shared in our grieving prove that. Grief is the love that remains, the overwhelming love we cannot give, the love that leaves us paralyzed in shock because it’s real. It’s too real, it’s unbearably true.

When a work like Quest for Moomoo asks me to let go of something, I hesitate. I don’t know how to do that. It’s happened in my life multiple times before, but I’ve never felt like I was the one to do it. One moment I’m attached to something, and the next it’s gone. I ruminate and ponder about what was, what could’ve been, and why it’s my fault that it ended. Some of these thoughts are truer than others. It’s not an uncommon or alien experience – ask anyone who has felt this helplessness and they’ll describe something similar. I feel, however, that I’ve spent a large portion of my life as a passive, external observer, experiencing reality happening around me but rarely with me or about me. This grief has been no exception. Right now, I am incapable of visualizing any future for myself. Not in regards to my own mortality, but… letting go of my fiancée also required letting go of my life project and of one of the only things that truly made me feel belonging.

Time stops for no one. She’s a different person now, and I’m best friends with that person. I still desire companionship and romance, but I can’t want the same relationship I had before. The bride-shaped hole in my heart isn’t asking to be filled. There isn’t even anything in the world that’d fit those memories anymore! Instead, it’s demanding that I outgrow it, that I become someone who’s capable of loving a different person. Terrifying and painful as it is, I cannot abstain from this process. I’m learning to cultivate my own happiness as I get older and help other people get older.

One day I will know what to do with my ring. I don’t know when that is. Until then, I’ll continue looking for my Lil’ Buster. It’s what I know how to do right now.

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Dois anos atrás, mais ou menos nesta data, comecei a namorar uma moça com quem acreditava que viveria o resto dos meus anos. Vinculamo-nos inicialmente por meio de um fascínio compartilhado para com uma detestada vilã de um RPG indie. Minhas experiências anteriores com romance me fizeram acreditar que eu demorava para me apaixonar, mas nossa relação se transformou mais rápido do que pensei. Cinco meses após nos falarmos pela primeira vez, estávamos juntos. Frequentemente nos mostrávamos vulneráveis um ao outro, passávamos bastante tempo juntos, trocamos inúmeros elogios e apelidos carinhosos e presentes e eus-te-amo, todas as coisas melosas que você consegue imaginar de um conto de fadas. Nosso relacionamento era à longa distância, mas planejávamos morar juntos eventualmente, um sonho compartilhado. Minhas memórias mais felizes são das vezes que ela me visitou. Não fizemos cerimônia para nossas alianças de noivado e só depois eu entendi – realmente entendi, mais que mera constatação intelectual – o que isso significava: no futuro, eu acordaria ao lado da minha esposa, uma pessoa real com a qual tenho amor recíproco, todos os dias.

Estamos separados há 7 meses. Ao fim das contas, não sou o tipo de pessoa pela qual ela sente atração. Foi atordoante, espantoso, desconcertante, devastador. Para nós dois, porque, como aprendemos um com o outro, falta de atração não é sinônimo de ausência de amor. As angústias, os arrependimentos, os desejos e as desculpas que partilhamos em nosso luto provam isso. Luto é o amor que fica, o amor esmagador que não temos a quem dar, a saudade que nos choca e congela porque é real. É real demais, é insuportavelmente verdadeiro.

Quando uma obra como Quest for Moomoo me pede para deixar algo para trás, eu hesito. Eu não sei fazer isso. Já passei por isso mais de uma vez na vida, mas nunca tive a sensação de que fui eu que fiz. Em um momento estou apegado a alguma coisa, e no próximo instante, ela se foi. Eu remoo e pondero o que era, o que podia ter sido, e por que é minha culpa que acabou. Alguns desses pensamentos são mais verdadeiros que outros. Não é uma experiência incomum ou estranha – converse com qualquer pessoa que já sentiu esse desamparo e ela descreverá algo semelhante. Sinto, contudo, que passei grande parte de minha vida como observador passivo e externo, experienciando a realidade ao meu entorno, mas raramente uma realidade na qual estou envolvido ou que se trata de mim. Esse luto não tem sido exceção. Atualmente, não consigo imaginar qualquer futuro para mim mesmo. Não em relação à minha mortalidade, mas... ao deixar minha noiva, também precisei deixar o meu projeto de vida, bem como uma das poucas coisas que realmente me fez sentir pertença.

O tempo não espera ninguém. Ela é uma pessoa diferente hoje, e essa pessoa é minha melhor amiga. Eu ainda quero companheirismo e romance, mas eu não posso querer a mesma relação que tinha antes. O vazio que minha noiva deixou em meu coração não requer preenchimento. Nem há mais nada no mundo que encaixaria nessas memórias! Em vez disso, ele exige que eu cresça até ficar maior que ele e até me tornar alguém capaz de amar uma pessoa diferente. Por mais apavorante e doloroso que seja, não posso me abster desse processo. Estou aprendendo a cultivar minha própria felicidade à medida que envelheço e ajudo outras pessoas a envelhecerem.

Algum dia saberei o que fazer com minha aliança. Não sei quando. Até lá, continuo buscando minha Lil’ Buster. É o que sei fazer por ora.

Reviewed on Oct 20, 2023


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i'm gonna go cry now