Quando eu era criança eu tinha certeza de que viveria da minha escrita. Eu vivia escrevendo, no computador, em blogs, em caderninhos que eu levava debaixo do braço. Era um conforto saber naquela época que eu tinha descoberto algo que eu fazia bem, que era especial em mim. Eu sentia que sabia quem eu era por isso e era bom.

Crescer, conhecer outras pessoas, entrar na faculdade foi perceber que o mundo era muito maior do que eu estava acostumado, e nesse novo mundo, eu não era assim tão bom com a escrita. Muita gente escreve, muita gente se acha especial, muita gente é boa nisso e aquela sensação de que eu tinha um dom se estilhaçou em inúmeros pedaços.

A verdade é que nada do que eu tinha feito até então significava alguma coisa. Os textos, as postagens, os elogios de professores(as) e amigos. Esse é o mundo dos adultos e você não ganha um passe livre por achar que tinha um talento quando criança.

Essa sensação é muito parecida com o que eu senti jogando Yooka-Laylee. Você fez algo muito legal no passado, recebeu muitos elogios, pessoas falavam para você que você tinha um dom para a coisa. Mas você não recebe um passe livre por isso. Existem um monte de outros jogos que fazem tudo o que você quer fazer e fazem melhor ainda.

Eu queria gostar desse jogo, queria ver nele algo especial, dizer que apesar dos defeitos é um grande feito de desenvolvedores com um notável talento. Assim como eu gostaria que eu fosse redescoberto, que as pessoas voltassem a me fazer acreditar que tinha algo de especial acontecendo comigo. Mas, assim como eu, Yooka-Laylee é somente uma sombra do seu passado, cheio de comemorações e promessas de sucesso e, infelizmente, eu não vou insistir para saber o final dessa história.

Reviewed on Sep 09, 2021


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