seja você um fantasma que se esgueira e neutraliza os seus alvos sem deixar rastros ou um arauto da destruição que deixa uma trilha de morte e sangue por onde passa, Dishnored se mostra impressionante na liberdade profunda e ao mesmo tempo acessiva que dá ao jogador.

Ocupando o papel de Corvo, um guarda real que foi traído e erroneamente acusado do assassinato de sua própria imperatriz, o jogador é levado numa narrativa sobre interesses aristocráticos, conspiração e um certo senso de vingança.

O jogo trabalha numa estrutura de fases que contam com mapas semi-abertos extremamente bem polidos e cheios de cenários interessantes para a expressão do jogador. Todo objetivo proposto pelo jogo pode ser concluído de diversas abordagens que dependem apenas da maestria e familiaridade do jogador com os sistemas e mecânicas que progressivamente vão se mostrando ao longo da narrativa.

Essa ênfase na multiplicidade de abordagens válidas para cada situação do jogo é a alma de um gênero que infelizmente não é muito presente no meu repertório, os "immersive sims". O número grande de possibilidades e formas de concluir os objetivos pode por vezes ser um fator intimidador e que dificulta o acesso de novatos do gênero aos expoentes mais famosos do mesmo, mas Dishonored é impressionante por, apesar da grande profundidade, ser muito acessível e intuitivo com seus sistemas e regras. O design dos níveis é feito de forma maestral e pode acomodar tanto as abordagens mais simples e diretas dos iniciantes quanto as maquinações criativas de jogadores mais experientes com os sistemas de forma incrível.

Estéticamente o jogo também se mostra forte. Uma mistura agradável de retrofuturismo vitoriano e steampunk mostra contradições visualmente e narrativamente interessantes, o contraste entre as mansões dos nobres e as ruas tomadas por peste e decadência que as pebles ocupam é enorme e muito bem datalhada. O estilo artístico mais cartoon é muito charmoso e faz com que o jogo tenha envelhecido muito bem visualmente, visto que ele é de 12 anos atrás.

Se existe uma área em que Dishnored parece tropeçar, essa área é da história e narrativa. Por mais que nesse jogo o enredo atue mais como uma forma de levar o personagem pra frente do que como um fator principal de apelo em si, a falta de sutilidade e as vezes até uma preguiça com a narrativa se tornam um pouco aparentes. A liberdade que o jogador tem para interagir com o mundo forma paradigmas narrativos diversos e interessantes que podem, em teoria, mudar certos caminhos do enredo, a visão do mundo e do jogador sobre o personagem principal e até mesmo o tom da história, mas essa parte do jogo é muito pouco explorada. O final do jogo é simplesmente... crú? É difícil explicar o quanto uma trama de conspiração parece se apressar demais e não entregar uma conclusão longa ou boa o bastante para todas as perguntas e temas que apresenta ao longo da narrativa. Plotwists são previsíveis e a narrativa se move em um ritmo que por vezes foi esquisito para mim, assim formando uma história que na maior parte do tempo é no melhor dos cenários algo aceitável.

Apesar dos pesares, Dishonored é um ótimo jogo que não recebeu o carinho e a atenção que merecia na época de seu lançamento e que permanece uma experiência de gameplay impressionante e refinada atualmente. Assim como minhas abordagens em Dishonored, a própria obra é como um fantasma encima de um telhado, dificilmente notado, mas singularmente impactante no cenário maior da indústria.

Reviewed on Apr 10, 2024


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