( Review da versão pós-lançamento do jogo )
( E já aviso que essa review virou um gigantesco colosso, estejam preparados! )

Um remake muito bom em questões artísticas e de conteúdo, mas que peca bastante nas questões de otimização mecânica de gameplay em comparação ao Risk of Rain original.

Antes de continuar, para que o peso que existe nesse remake seja melhor entendido, temos que dar uma olhada breve na história dessa série:
Risk of Rain foi lançado em 2013, em um período absolutamente escasso de Roguelites. Seu lançamento foi praticamente um tiro no escuro, mas todos os bem venturados, como eu, que descobriram esse jogo na época puderam facilmente ver e sentir que ele conseguia trazer o mesmo nível de diversão e desafio que o maior nome de todos os roguelites daquela época, que era The Binding of Isaac - o original. A versão Isaac Rebirth (que também é um remake) só sairia em Novembro de 2014, e ela que faria a chama dos roguelites brilhar com nunca antes, dando início ao período dos roguelikes/lites, que se estende até hoje.
Risk of Rain, diferente de Isaac, porém, não alcançou a fama merecida em seu tempo, mas agregou um clube de fãs que, mesmo que pequeno em comparação ao de Isaac, amavam Risk of Rain com todas as forças. Este clube, comigo incluso, pode ver a atualização do jogo em 2014, que adicionou as classes Loader e Chef (assim como mais alguns itens), com esperanças de que isso traria ainda mais atualizações, no entanto o que se seguiu foi um período de absoluto silêncio à série (período esse que os devs estavam focando em um jogo ala Hotline Miami em vista lateral, chamado DeadBolt), apenas com mods tentando manter a vida do jogo… até anunciarem Risk of Rain 2 em 2017!
Nem preciso dizer que esse anúncio, mesmo que trazendo altas dúvidas e estranheza pelo jogo ser 3D em terceira pessoa, fez com que todo o clube de fãs vibrassem de alegria por saber que a série estava viva. Por vários meses, seguindo ansiosamente as raras atualizações no Tumblr da Hoppo Games, pudemos sentir cada vez mais o gostinho da grandiosidade que seria aquele jogo. Cada atualização aumentava o hype. O hype ansioso que não fazia ideia de quando sairia esse jogo (se é que sairia – sempre existia esse risco), até que em 2019, no evento da Pax East, na sessão de anúncios da GearBox, onde ninguém estava ligando pra nada que não fosse o altamente teorizado anúncio de Borderlands 3 (que de fato foi anunciado no fim daquela sessão), ouve-se o apresentador proferir a sequência mais surpreendente e inesperada possível: “Estamos anunciando uma parceria com a equipe Hoppo Games!”. Seguido, um dev tímido sobe ao palco e intensifica ainda mais o hype da última frase, a níveis explosivos, com a seguinte fala: “Risk of Rain 2 está aberto para jogar em Early Access neste exato momento!”…. Nem preciso dizer o quão titânica foi a emoção de todos os fãs de Risk of Rain; aqueles que eram apenas uma pequenina fração dos que estavam vendo aquele evento, mas que puderam compreender em toda sua magnificência a emoção que aquelas palavras traziam.
Dalí pra frente a história começa a se tornar mais conhecida. A parceria com a GearBox finalmente trouxe à série Risk of Rain a sua fama merecida, e o pequeno clubinho de fãs torna-se a colossal fanbase de hoje.

Com isso tudo, dá para entender porque Risk of Rain Returns, sendo um remake de Risk of Rain, é algo tão importante para os fãs, principalmente para aqueles que faziam parte do clubinho inicial de adoradores da série.
Um remake daquele jogo que iniciou tudo, e que nós amávamos e ainda amamos com todas as forças!

E é com isso que eu devo dizer que, no estado atual, o remake é uma mescla de felicidade e tristeza. Comparando ao primeiro jogo, as artes são incríveis, o conteúdo é fantástico, as melhoras que permitem a adição de DLC’s, mods e online sem problemas é uma bênção, mas a gameplay se difere em vários aspectos que, mesmo que sejam mais detalhes, juntos acabam causando um incômodo tremendo – algo que perpassa o mero incomodo de costume, caindo no que parece ser uma falha de balanceamento.

Como uma leve medida comparativa dessas mudanças, a alguns anos atrás, quando meu primo comprou um PS4, eu comprei o Risk of Rain 1 para ele de presente, com a condição que eu pudesse jogar a primeira run. O save estava novinho, com nada desbloqueado e só o Commando liberado. Peguei pra jogar e, no meu nível de vício maldito, zerei o jogo na primeira run, desbloqueando sabe-se lá quantos itens no processo.
Com Risk of Rain Returns, morri na segunda fase na minha primeira run de Commando. Talvez tenha sido azar? Vamos tentar de novo! E bem… não era. Nas quase 30 mortes que estou no momento (quase liberando Dio’s Best Friend) eu só consegui terminar o jogo uma vez.
Então, por experiência, de fato esse jogo está mais difícil.

Os mapas possuem mais variedade agora, com versões bem grandes que te fazem perder bastante tempo explorando. Tempo, para os que não sabem, é uma medida crucial em Risk of Rain, afinal cada minuto de deixa mais próximo de um aumento considerável de dificuldade. O tempo que se perde explorando essas fases não é a crítica em questão, mas sim o fato de, mesmo elas sendo bem maiores, elas ainda possuem a mesma quantidade de baús e interagíveis que uma fase pequena – é aí que mora o desequilíbrio. Demorar mais tempo explorando não é um problema se você consegue obter recursos para deixar o seu personagem mais forte no caminho, porém esses são escassos nessas fases maiores, te jogando numa correria desesperada por uma fase vasta que parece vazia.

Outro aspecto é quanto aos personagens/classes do jogo, que parecem muito mais fracos. No primeiro jogo, mesmo com itens mais básicos, seu personagem conseguia aguentar e dar uma quantidade boa de dano, graças também as evoluções de nível – o que, de bônus, aumentava bem a velocidade do personagem. No remake as coisas estão bem mais difíceis (no infeliz sentido ruim), principalmente por não importar quantos itens de defesa você pegue, sua vida sempre vai ficar sambando cruelmente próxima da morte. A mesma situação para a velocidade, que escala muuuuito lentamente. O dano demora um pouco para juntar, mas não está ruim – mas junto a baixa defesa e velocidade, ele nunca parece suficiente para limpar e domar hordas perigosas antes que elas lavem o chão com a sua cara.
Esse desbalanceamento, por estar no núcleo da gameplay do jogo, reflete em altos outros elementos, como por exemplo, fazer com que vários itens do primeiro jogo pareçam ineficazes ou nerfados (ou pode ser que alguns tenha sido realmente nerfados - ainda não conferi essa parte).

Os inimigos novos são divertidos, com exceção dos voadores, que são o inferno. Já era um saco lidar com as abelhas do templo e com os Evolved Lemurians no jogo original, e agora nós temos mais dois bestas para o time dos voadores.
O range de alguns inimigos antigos foi aumentado, assim como o dano de outros – pelo menos utilizando como base a fraqueza dos personagens no remake.

Os trials são divertidos de fazer, em boa parte, e ajudam a liberar mais possibilidades de builds, skins e itens para os personagens, o que é uma ideia bem interessante. Conseguir a medalha de ouro em todos eles deve ser o inferno, mas um inferno divertido de fazer - pra quem é um masoquista de roguelites, como eu.

Com isso tudo, vale a pena jogar?
Sinceramente eu acho que vale, mas também recomendo esperar um pouco antes de comprar pra ver se lançam updates de correção e balanceamento – especialmente se você for fã do primeiro jogo.
O que temos aqui no momento é uma joia fosca que, se corretamente polida, pode ser que brilhe bem mais que o belo diamante ao qual foi inspirada.

Reviewed on Nov 11, 2023


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