The Devil in Me é o quarto jogo da franquia The Dark Pictures Anthology, e este fecha a primeira temporada de jogos da franquia. Como todos jogos da franquia a obra apresenta uma trama interativa com elementos de drama e terror, o elemento de terror não é surpreendente já que a obra é desenvolvida pela SuperMassive Games, a produtora de The Quarry, Little Nightmares e Until Dawn.

Antes de mais nada, é preciso deixar claro a forma como a obra pode ser consumida, é possível jogar solo controlando todos os personagens, jogar multiplayer online com outras pessoas ou jogar presencialmente com outras 4 pessoas com a mecânica de passar o controle para outra pessoa. Eu consumi a obra presencialmente com meus amigos.

A história conta com 5 personagens que fazem parte de uma produtora de filmes, temos o diretor, a repórter, o fotógrafo, a menina do som e outra da parte elétrica/iluminação. Esses foram chamados para produzir um documentário da réplica do hotel onde o famoso assassino em série HH Holmes fez sua fama, o hotel é habitado por um assassino que se inspirou em Holmes para continuar a série de assassinatos. Está dada a trama da história, o objetivo é descobrir o que está acontecendo e tentar escapar com vida do hotel infernal.

Como proposta, a obra apresenta uma trama interativa, onde cada personagem pode fazer uma série de escolhas que mudarão o rumo desta. O grande ponto é a quantidade de possibilidades de finais, já que dependendo das escolhas dos jogadores é alterado quais personagens sairão vivos ou mortos no final. Diferentemente de outras obras com possibilidade de escolhas onde não há grande impacto na maioria das decisões tomadas, em The Devil in Me as escolhas realmente importam, pois elas afetam o futuro de diferentes maneiras, permanecer com a posse de uma chave de fenda ou entregá-la para alguém pode mudar completamente o destino de um dos personagens.

A obra consegue entregar tensão e desespero em vários momentos, é tenebroso e amedrontador, mesmo sabendo que se trata de um ser humano há um ar sobrenatural rodando o jogo a todo momento, isso se dá também pelas diversas armadilhas, e paredes falsas presentes no hotel. Os jumpscares são mais impactantes ainda quando se joga presencialmente com os amigos, pois os sustos em conjunto funcionam em cadeia e consequentemente se tornam maiores.

Sempre é possível escolher entre 3 opções nas escolhas das ações, e essas escolhas vão traçando a personalidade de cada personagem, mudando inclusive a relação entre eles. Essa personalidade é importante na construção da personagem, que não é tão profunda, até porque é quase impossível desenvolver a fundo 5 personagens independentes em 6h de gameplay. Esses personagens estão prontos, eles tem um passado bem construído e consolidado, os acontecimentos testam a personalidade destes e fazem alguns delineamento de certos traços como companheirismo, confiança e até uma certa compaixão.

Um elemento da jogabilidade que se comunica com o modelo dos personagens é o inventário com itens ligados à profissão de cada personagem, como a garota do som ter um microfone para ouvir através das paredes ou o fotógrafo com sua câmera, flash e pau de selfie. É complicado fazer as escolhas em momentos críticos que podem mudar completamente o rumo da história sem nenhuma ideia das consequências, para remediar isso há o elemento das premonições, há momentos que é necessário escolher entre correr ou se esconder e uma dessas escolhas pode ter um final desastroso, as premonições auxiliam na previsão desses acontecimentos dando dicas para os jogadores, e obviamente isso não é dado de graça, é uma recompensa pela exploração de cada personagem.

O elemento de mistério presente na obra está envolto na ideia de tentar descobrir quem é o sucessor do famigerado serial killer HH Holmes, a sequência narrativa e as pistas expostas fazem positivamente uma progressão gradual até o mistério ser revelado. Porém, acredito que falte algo nessa descoberta, pois ela perde seu objetivo imediatamente após ser revelada, não há benefícios extras em relação a ela, como por exemplo descobrir uma fraqueza emocional ou física do herdeiro maligno. A função exclusivamente narrativa diminui a relevância do mistério em relação à jogabilidade.

Um problema claro, é o quanto as escolhas impactam não somente o personagem do jogador mas os personagens dos outros jogadores, por exemplo na minha gameplay meu personagem morreu pela escolha de outra jogador, eu não tive opção de escolha, ele escolheu e eu morri, acho essa ideia complicada pois o jogador sente que está atado aos outros a um nível exacerbado. Essa modelagem auxilia na criação do companheirismo mas atrapalha em uma competição sadia que é criada entre os jogadores para se safar das situações. Esse elemento pode ser negativo ou positivo, depende bastante do tipo de jogador e o que ele entende ser mais importante na obra.

Esteticamente, a obra conta com um realismo que auxilia bastante na construção da atmosfera de terror e suspense que acompanha toda a duração do jogo. Essa é bem empregada e conta com uma qualidade fantástica, é um excelente trabalho da SuperMassive Games.

Concluindo, The Devil in Me tem pontos positivos que devem ser levados em consideração, como toda a construção da trama interativa, seja nas mecânicas, seja na história, sem contar a criação da atmosfera tenebrosa que circunda toda a obra e o multiplayer para se compartilhar a experiência de terror. Porém, há pontos negativos que atrapalham na jogabilidade entre os jogadores, como as decisões e atos de um jogador influenciando demasiadamente no personagem do outro, esse tipo de modelagem apela para o apoio e companheirismo entre os jogadores, mas mata a competição sadia que inevitavelmente vai ser construída entre os players em game multiplayer.

Reviewed on Aug 18, 2023


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