Tá aí um jogo de tiro que ostenta seu entendimento do discurso em torno dos videogames, chega a lembrar um pouco até No More Heroes em certos aspectos. Seu mundo é esculpido em torno de como as pessoas falam sobre jogos e como os jogos funcionam na vida cotidiana. Não é muito difícil de enxergar isso quando o jogo já me faz mandar um e-mail para um amigo que diz: "SUPERHOT É O JOGO DE TIRO MAIS INOVADOR QUE JOGUEI EM ANOS!" É como se o jogo estivesse me mandando formar um culto. É bem imersivo e pioneiro pra época. Ele desconstrói o jogo de tiro em primeira pessoa e o reconstrói em algo novo e familiar. Entre breves intermissões a campanha te coloca em várias situações hostis - onde ao contrário de outros shooters, te fazem pensar lentamente e instintivamente ao mesmo tempo.

A estética é bem charmosa apesar de simplista. Todos os inimigos se assemelham a manequins poligonais rubi. Os ambientes são ricamente decorados em tons de branco, cinza e azul; são serenamente sintéticos que tornam algo que poderia muito bem ser preguiça em arte. "O tempo se move quando você se move" é o conceito fundamental do jogo - logo, se você ficar parado, nada acontece, é quase uma satira prática ao conceito de videogames como mídia. Implementar conceitos artísticos na própria intuitividade mecânica de um jogo é genial.
O jogo é quase como se fosse um manifesto de como seria se a arte casasse com as mecânicas palpáveis de um videogame. Empurre levemente o analógico do seu controle e você se moverá em câmera lenta com o mundo ao seu redor. Isso permite um entendimento amplo do level. Permite que você marque a trajetória, por exemplo, de um disparo de rifle, e manobre para fora do caminho. Ao contrário, se você inclinar totalmente o analógico, os inimigos se movem em velocidades de redemoinho, tornando a esquiva exponencialmente mais difícil. Leve um tiro, e você tem que repetir o estágio. A irritação do fracasso é mitigada pelo fato de que os níveis são curtos e os tempos de recarga são rápidos. O mecanismo de tempo confere a "Superhot" uma dimensão tática e frenética ao mesmo tempo, é insano. Se mover demais, você desperdiça oportunidades de evitar e desencadear ataques. Se mover devagar, depois de disparar uma arma, por exemplo, seus inimigos aproveitarão a velocidade lenta para se esquivar dos projéteis que se aproximam.
É tudo muito meticulosamente planejado para você pensar táticamente e instintivamente de forma ponderada, assim, o jogo equilibra a cautela com a execução audaciosa, fazendo com que cada frame seja importante. Isso nos leva pra um ponto importante, recompensa. Quando você completa um level, você é recompensado com um replay ininterrupto em velocidade normal, permitindo que você admire todas as suas proezas. É engraçado, para níveis mais fodidos de difíceis ver o seu primeiro passo é quase que nostalgico depois de tanto tempo. Apenas pare por um segundo, respire, olhe ao redor, pense, agora aja... Dar ao jogador controle sobre o tempo permite trazer mais tomadas de decisões e um pouco mais de pensamento racional.

Mas... Não muito depois de o jogo te seduzir, ele começa a se afastar. Pode fazer o jogo mais artisticamente ludo-narrativo do mundo, eu nunca vou ser um cara de shooter, simplesmente não é o meu tipo de jogo.
O jogo chama a atenção para seus loops viciantes de jogabilidade e então zomba de você por suportá-los. Sem enredo, sem razão para nada, apenas matando caras vermelhos pisca na tela enquanto o jogo continua a deconstruir sua relação com ele e vice-versa. Se você está procurando um jogo de tiro com alma e arte, "Superhot" é isso. A estética visual do jogo me cativou instantaneamente, e a jogabilidade que se assemelha a um shooter de turno trouxe uma abordagem estratégica que eu realmente aprecio. Quanto à história, concordo que é interessante e imersiva, mas percebo que, dentro do cenário mais amplo de jogos indie metalinguísticos ao longo do tempo, pode parecer um pouco menos impressionante. No entanto, a forma como o jogo brinca com a sua própria natureza é viciante e desafia a relação do jogador com o entretenimento e arte. Em suma, amei pela estética envolvente, jogabilidade estratégica e a percepção de que o jogo, de certa forma, "conversa" comigo, questionando o que eu realmente desejo da experiência de jogo.

Reviewed on Dec 27, 2023


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