A RGG é um mistério.

- Fez a melhor porta de entrada pra uma franquia de mais 10 anos (Y0)
- Fez remakes que apesar de cortar muito conteúdo, ainda sobressem com méritos próprios (K1/K2)
- Transiciona entre gêneros e faz um dos melhores RPGs da atualidade (Y7)
- 'Cadencia' com maestria múltiplos personagens de forma extremamente ambiciosa (Y5)
- Consegue contentar ambos lados da fanbase com um spin-off tão bem sucedido quanto a franquia principal (JE/LJ)

Mas dessa vez eles decidiram ser mais pé no chão... e deu certo.

Gaiden pra mim é quase que uma antítese ao Yakuza 5. Y5 é imenso, tem 5 personagens, flerta com praticamente 3 gêneros diferentes, e tenta tantas coisas diferentes com a sua história que acaba tropeçando em si mesmo e "se perdendo no tom" como alguns dizem... Já o Gaiden é o menor jogo da franquia, tem 1 personagem, adere ao seu gênero, e está tão concentrado em uma coisa que chega a ser previsível às vezes. Ambos focam em polos de excesso e défice que meio que formam um Ying Yang de Quantidade VS Substância, são gêmeos. E por ser tão concentrado em fazer uma coisa que eu amei essa antítese de Yakuza 5. Desde o anúncio já estava meio que óbvio o que ia se desenrolar na história, a questão era o "como", o que ia ser sacrificado narrativamente para contar uma história tão curta... Sendo curto e grosso, é o apego. Muitos personagens meio que são reduzidos à plot devices que nunca vão ver a luz do dia de novo de forma significante em um futuro jogo por culpa do tempo curto, então é meio que uma corrida contra o tempo para criar um legado. Enquanto o Y7 surpreendeu em aprofundar e criar conexões em uma só storyline, Gaiden sofre com o fato que muito dos frutos dessa narrativa estão fadados a serem apenas uma lembrança. É uma faca de dois gumes, pra cada Akane-san que é meramente um plot device, tem um Shishido deixando uma impressão TÃO FORTE que é parte dos motivos pelos quais eu penso que se esse jogo fosse maior, estragaria a magia da sua sutileza.

O melhor jeito de elaborar isso é olhando para o Shishido, um personagem tão meticulosamente escrito pra cada segmento da história que um parágrafo a menos ou a mais seria o suficiente pra destruir a concisão. Sou o maior fanboy de Y5 mas até eu admito que apesar de não ser o bixo de sete cabeças que todo mundo fala, o Aizawa é um personagem que foi escrito nas coxas. Desde a sua apresentação o Aizawa nunca se apresentou como uma ameaça, nem aliado, nunca deixou uma impressão em particular. Isso dá sim sustento pra um plot twist inesperado, mas sustentado dolorosamente pela relação que ele tinha com o pai dele, a direção de cena digna de cinema e o roteiro do Yakuza 5 que faz um trabalho fenomenal em transformar qualquer pouca bosta parecer literatura. 90% do que o Aizawa conquista é mérito do Yakuza 5 fazendo uma ginástica mental na narrativa pra enganar seu cérebro. Shishido simplesmente não sofre com isso. De começo ao fim ele passa por tantos estágios de desenvolvimento que o twist no final não vem nada forçado, as motivações são claras e concisas, casa com os personagens do Gaiden, e servem de contraponto com as do Kiryu. Pra melhorar, em cima de toda essa finesse narrativa, ele acompanha um design MEMORÁVEL, atuação IMPECÁVEL do ator, e uma final boss que eu falo de boca cheia que é a melhor da série, FINALMENTE superando a do Aizawa tanto em tematicamente quanto mecanicamente. Em um jogo tão pequeno conseguiu ser um vilão de profundidade narrativa tão cativante quanto o Kuwana, KUWANA DO JOGO QUE TEM 13 CAPÍTULOS. Isso é um milagre pra um jogo tão curto, realmente um parágrafo a menos ou a mais seria o suficiente pra destruir a concisão. É o melhor vilão que um RGG poderia ter. Manifesta completamente os princípios e filosofia Gokudō (極道), e serve perfeitamente de contraponto com a rejeição ao estilo de vida Yakuza que o Kiryu vem fugindo desde o primeiro jogo da série. É um dos melhores e mais bonitos conflitos de interesse que já consumi em qualquer mídia. E isso tudo se dá à natureza do Gaiden, é curto, enxuto, não se perde em plot-points irrelevantes, é algo que eu pessoalmente amaria ver em futuros jogos da série, menos encheção de linguiça.

Acho que já deu de falar de narrativa e propósito que o jogo tem dentro da série, vamos falar de vídeogame.

Graficamente é esplêndido, tem na minha opinião o shading mais bonito de toda série (mais que o LJ e o IW), tudo é bem colorido e vibrante na medida certa. Achei que umas cutscenes foram meio feitas às pressas, faltam impacto, quantidade, o jogo tem praticamente 2 QTEs só, as Dynamic Intros dão pra contar na mão e a quantidade de "Pseudo-cutscene" é mais do que eu gostaria que existisse pra um jogo tão pequeno.

A música é tematicamente possivelmente um dos aspectos mais apelativos pra mim, não sou nada contra à direção mais techno/dubstep que a SEGA SOUND TEAM tá tomando na saga Ichiban/Judgments, mas nada supera o bom e velho Rock/Jazz eletrônico experimental da série. A OST tem uma identidade em tons menores e progressivos que eu tanto amo do Y5. O melhor exemplo do que eu tô falando tá na diferença de tom e identidade musical entre a música "Appassionato" (Y7) em paralelo ao "Un altro Appassionato" (Gaiden), melodia é tudo.

O combate me decepcionou bastante, é um regresso ao Lost Judgment por pura BESTEIRA. Combo speed do DoD é mais lenta que o >YAKUZA 6<, Dano é desbalanceado igual Kiwami 2, style switching tá lento igual Judge Eyes, Pushback dos golpes voltou, JUGGLE FOI NERFADASSO. O estilo Agente é MUITO FODA, mas é um porre usar os finishing blows quando literalmente SÓ 1 DE TODOS OS FINISHERS É CANCELÁVEL PRA ESQUIVA. O dano é inexistente, podia ter tanta coisa a mais, tipo parry do tanimura, um TD, mais juggles rápidos, é muito travadão. Isso que me irrita, o combate é MUITO BOM, possivelmente Top 5, mas o regresso ao Lost Judgment por coisas tão pequenas é simplesmente inaceitável. O que é um porre por que a Skill tree é uma das melhores de toda série, integra bem com o Akane System.

Falando na diaba, eu amei o sistema, odiei o fato que ela é um side-character glorificado que nunca é integrado na história mas ela como side-content é um dos melhores exemplos em como fazer esse tipo de sistema. Motiva o player a consumir Yakuza do jeito certo. Eu amei as side-quests uma das mais divertidas da saga. Akane é uma ótima forma de repaginar o conceito de completion list e fazer o jogador encorajar o jogador a balancear side com main, mesmo vale pro Castle que é uma ótima reinvenção do conceito do Purgatório.

Por fim, Gaiden é uma adição marcante à série, oferecendo uma experiência concentrada e envolvente. A narrativa concisa, com destaque para o vilão Shishido, contribui para uma jornada intensa e memorável, mostrando a habilidade da RGG em criar experiências que são cativantes mesmo sendo curtos. Gaiden susurra "Menos é mais" ao Y5 que gritava "MAIS É MAIS". Eu espero que a RGG por sua parte não descredibilize a história desse jogo em títulos futuros e muito menos carregue essa mania de errar coisas bobas no combate.

Reviewed on Feb 27, 2024


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