Com clara inspiração nos filmes de ação dos anos 90 e 2000, Syphon Filter entrega uma experiência de ação constante, rápida e intensa, com partes de stealth aqui e acolá.

O jogo oferece uma ótima ambientação, com bons gráficos e um som bem construído, já que tiros e explosões são efeitos que ocorrem com certa frequência. A atuação de voz segue um roteiro repleto de frases de efeito, com uma execução boa para a época, vale dizer. Da parte da trilha sonora, essa envelheceu melhor, com composições que atendem à ambientação da trama, com temas mais do que adequados para momentos lentos, agitados e para os desenrolares do enredo, contribuindo positivamente com a narrativa. É uma boa trilha, mas tirando o tema principal, não achei particularmente memorável.

Dos gráficos, eles são bem feitos, com bons efeitos de explosão, e há alguns recursos que dão um toque a mais, como os vidros quebrando durante as trocas de tiros. Há uma grande variedade de cenários, passando por locais urbanos, bases militares, um castelo (sim, um castelo), museus, além de se passarem em diferentes partes do dia e em climas variados, como a missão noturna em uma base militar russa coberta de neve. Os modelos humanos são competentes, e com uma variedade coerente à do cenário, ou seja, vai ter boneco com traje de segurança e outros com uniforme militar com a devida camuflagem. A animação não é ruim, mas poderia ser melhor, pois todos os personagens quando correm parecem que empregam um esforço muito maior do que a velocidade com que de fato estão se movendo, problema agravado com o protagonista, pois o jogador o vê praticamente o tempo inteiro.

Em termos de jogabilidade, pode-se dizer que ela é satisfatória na maior parte do tempo. Era um momento em que ainda se estava aprendendo a desenvolver jogos funcionais em 3D, e era frequente encontrar controles extremamente travados, o que não é o caso aqui. Syphon Filter tem controles bem fluídos para o período, mas que não se saem tão bem quando é necessário circular por ambientes mais apertados. Não é uma jogabilidade perfeita, mas as concessões que pede frente à atualidade não são muitas, tampouco fortes (acho mais aceitável que controles tanque, por exemplo).

Das ideias bem executadas, há o caso do conceito de travar a mira em um alvo, visto a princípio em um jogo totalmente diferente que saiu pouco antes, no caso, Legend of Zelda: Ocarina of Time. Outra ideia inovadora foi a presença de um botão situacional (aqui o triângulo), que executa funções como escalar objetos, acionar dispositivos, abrir portas, etc.

Há também uma mira manual, acionada em L1 que funciona muito bem. Segurando do X para se manter agachado, e os gatilhos para se mover para os lados, é possível manter cobertura (em um protótipo da jogabilidade que seria refinada alguns anos depois) para mirar direto na cabeça dos inimigos, o que garante uma morte instantânea. Com o decorrer do jogo, dominar essa ferramenta se torna essencial, pois os adversários passam a usar um colete de balas que é uma verdadeira esponja de danos, fora que quanto menos se atinge esses coletes, mais inteiros eles ficam quando são dropados, o que é um recurso precioso, pois a curva de dificuldade cresce bem, e com certeza o jogador receberá danos.

O level design é das coisas mais interessantes do jogo, com objetivos variados e que mudam com o decorrer dos acontecimentos, e há fases que dão um maior grau de liberdade para o jogador escolher a maneira com a qual vai lidar com os desafios, e a ordem em que fará isso. No âmbito do design não tão bom assim, há as já citadas missões stealth, que achei frustrantes, pois em caso de ser visto, das duas uma: ou surge do NADA uma horda de inimigos digna de um Musou, ou a missão falha e tem de se começar tudo de novo (ou pelo menos do último checkpoint). Algo no mínimo bem punitivo para um erro que pode ser pequeno.

Já que mencionei altos e baixos, isso também se aplica para as lutas contra os chefes. Algumas são bem feitas, mas outras nem tanto, sobretudo a última, em que tive de assistir uma gameplay para se ter uma ideia do que fazer.

Pegando esse gancho dos chefes, é válido falar em como eles estão inseridos na trama da obra. É um enredo que envolve uma ameaça terrorista de um grupo autônomo, sem ligação (oficial, diga-se de passagem) com nenhum governo e é composto por terroristas de várias partes do mundo, o que faz com que eles sejam dublados com sotaques estereotipados. Algo do momento, ressalte-se.

Syphon Filter garante uma experiência legal, e com algumas concessões, alguém que o jogue hoje além de ter umas boas horinhas de entretenimento terá contato com um jogo que dialoga diretamente com o universo do cinema, em um período em que formas de linguagem e estética cinematográficas se tornavam mais presentes na indústria de games. A meu ver, o jogo tem qualidades o bastante para valer por si só, indo além do campo da curiosidade histórica por conta das ideias interessantes que executa.

Reviewed on Feb 23, 2023


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