Gears of War é sem sombra de dúvidas um dos jogos já feitos… E é isso. Pra ser bem sincero ele consegue sair dessa ideia de ser só mais um jogo de tiro em terceira pessoa e se destacar no meio da multidão, mas, se eu parar pra somar os pontos negativos aos positivos da minha experiência, ele sai em um evidente 0 a 0.

Particularmente eu acho absurdo a construção de mundo feita pela Epic Games aqui. Tudo parece minimamente crível. As armas, graças a parte sonora e ao sistema de reload delas, soam mecânicas (no sentido literal da palavra). Os ambientes devastados e a gameplay frenética trazem uma sensação de guerra muito hollywoodiana - superando (pra mim) a maior referência sobre o tema que eu já tive no mundo dos games, Halo 2.
A trilha sonora é simplesmente muito boa. Tal qual Star Wars, é uma OST que se utiliza muito de trombones, trompetes e bumbos pra compor e ampliar a sensação de aventura mesclada à ação frenética dos combates.
Voltando a falar da ambientação visual, é impressionante como conseguiram mesclar super bem o tiroteio dos brucutus dos filmes dos anos 80/90 (como Rambo e Terminator), com elementos de horror, que horas flerta com o torture porn/gore e até surrealismo de algumas obras do gênero, e hora se utiliza de subterfúgios da ficção científica pra não só compor a atmosfera densa do jogo, mas ainda consegue atualizar esses elementos outrora datados, pra um mundo moderno (de quase 20 anos atrás… Mas ainda válido pros dias atuais).

De forma geral, é conhecido que esse jogo é bastante inspirado em Resident Evil, e em alguns momentos ele se inspira até de mais. Em um jogo de horror com elementos de ação (como são boa parte dos jogos da franquia da Capcom), ter cenários mais claustrofóbicos em momentos de ação aliado a uma mira relativamente lenta (em comparação com jogos de tiro em primeira pessoa) é bom, agora em um jogo de ação com leves elementos de horror só tornam a experiência frustrante (o que se intensifica em dificuldades acima do casual). Em momentos de combate em que tem muitos inimigos atirando de longe e ao mesmo tempo os Wretches (minions menores que por sinal são muito parecidos com os Grunts de Halo) estão indo atrás de você, essas mecânicas de gameplay tragas de Resident Evil só servem pra piorar a experiência de jogo.
Já que eu citei o combate, ele funciona super bem na maior parte do tempo. Na dificuldade Hardcore (que foi como eu zerei) o jogo propõe um desafio bem gostoso. Em contrapartida, o que prejudica mais ainda a gameplay é a burrice artificial dos companions. De verdade, eu pensei muito em dropar desse jogo logo no começo justamente porque em quase todo combate do ato 1 eu morri tentando reviver os personagens de apoio. Sendo que, a “inteligência” artificial do Dom, em específico, ao longo dos 5 atos só foi piorando, ao ponto de que em muitos momentos no meio do tiroteio, ele ou se jogava no meio dos tiros ou simplesmente saia do cover e desligava, e se mantinha exposto até o último inimigo. Na luta final ele foi um gigantesco estorvo, até o momento em que o Boss resolveu simplesmente bugar em cima do corpo caído do Dom e parar de me atacar.
Por mais que eu tenha elogiado parte da direção de arte do jogo, na minha visão, esta envelheceu extremamente mal. O jogo se utiliza muito de uma paleta acinzentada tanto nos personagens (primários e secundários) quanto nos ambientes, com pouquíssimos momentos de um leve contraste com elementos em vermelho, preto, laranja e/ou marrom. Isso faz com que seja comum (mais para o começo do jogo) confundir os bonecos com alguns elementos do cenário e até os da sua equipe com os inimigos. Isso se intensifica com o fato de que a modelagem de todos os bonecos ser muito parecida entre si, mudando apenas suaves detalhes, que durante a gameplay se tornam despercebidos, causando essa confusão relativamente recorrente no início do jogo.
Pra mim, o principal problema desse título vem dos checkpoints. Jogando no casual, imagino eu que não é muito problema, mas em dificuldades mais altas, em que morrer é relativamente comum, ter esses auto saves mal posicionados é um gigantesco incômodo. Foi comum eu morrer no final ou até logo depois de uma luta e ter que fazer o combate todo de novo porque o jogo só gravou meu progresso antes da luta. E isso só piora, já que muitos combates se iniciam com cutscenes ou até diálogos in game em que personagem é forçado a caminhar de forma lenta, ou seja, se seu último checkpoint foi pré tiroteio e você morreu no final ou logo após e o jogo não salvou, além de lutar tudo de novo você vai ter que ver a mesma cena até você prosseguir até o próximo save point. E eu não sei se pareceu claro, mas não tem forma de save manual, fazendo com que todo o seu progresso seja totalmente dependente da boa vontade dos devs.

Ao meu ver, Gears of War é um jogo de muitos altos e baixos, sendo os baixos não decepcionantes mas frustrantes. Claro com uma visão de alguém de 2023 esses defeitos se tornam mais evidentes, mas em comparação com os demais jogos de 2006 e trazendo uma ótica daquele ano, Gears ainda é um bom jogo no geral e vale a pena experimentá-lo mesmo depois do remake de 2015 feito pela The Coalition.
Mas como eu to aqui pra te trazer a minha experiência e não pra te convencer a jogar o jogo, Gears of War ainda é um produto inerente à sua época. A gameplay é divertida, mas beira o confuso, nada intuitiva e em alguns momentos nada fluída. A intenção da direção de arte é realmente muito boa, com elementos geniais tragos de outras franquias da cultura pop, mas em vários momentos exagerada demais em um contexto já exagerado. A história é legalzinha mas nada muito desenvolvida. Eu sinto que, esse jogo foi totalmente construído pra ser experienciado em multiplayer, e por mais que ele permita jogar solo, eu enxergo que muito das frustrações que eu tive com esse título, se resolveriam jogando em dupla (principalmente a parte da IA dos companions). Não só isso, mas muitos dos problemas aqui tragos vêm de que, esse foi um pontapé em algo totalmente novo pra sua época, e que eu não duvido que foi resolvido nas 5 sequências que esse jogo teve até 2023.
Em 5 anos em que tenho o Xbox como minha plataforma principal, por algum motivo eu negligenciei Gears, e jogando essa primeira aventura do Marcus Fenix eu me arrependo de nunca ter dado uma chance antes, pois tal qual o que Half Life foi pra mim a alguns meses atrás, o primeiro jogo pode não ter clicado 100% pra mim ao ponto de o tratar como um grande clássico, mas deu um ótimo empurrão pra eu querer ver o que as sequências destes (Gears e Half Life) trazem de inovação em gameplay e história pra suas respectivas épocas.

Reviewed on Oct 08, 2023


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