"Me deu uma derrubada... Mas eu aprendi uma lição importante: não dá pra confiar em ninguém, principalmente nos seus heróis."

E assim a Arkane me decepciona pela primeira vez, Redfall não é só o pior jogo do estúdio mas como um dos piores triplo A dos últimos anos.

O maior defeito de Redfall é que ele não é um Borderlands e também não é um Far Cry ou Dishonored. Redfall é NADA. Nem sequer um FPS decente. Um jogo em que é perceptível um pivotante de ideias ao longo do desenvolvimento, que transitou entre conceitos e que no final entrega nada do que propôs.

A história de Redfall se passa em uma ilha de mesmo nome do jogo em que a trama gira em torno da ganância e das experiências que acabaram transformando a pacata ilha em um grande fã clube de vampiros. Os poderosos sugadores de sangue além de bloquearem o Sol, também “congelaram” o tempo e o mar em volta da ilha impedindo que os sobreviventes escapem e para tentar acabar com essa ameaça, nós embarcamos em uma aventura como um dos quatro personagens jogáveis que estão presos neste local. A ideia é interesante a princípio, a melhor parte dessa trama é a história dos “deuses” vampiros e seu passado que nos leva a entender o que causou todos os problemas, em contrapartida os personagens jogáveis tem passados fracos e as missões secundárias que envolvem os sobreviventes são totalmente descartáveis. Infelizmente não existe nenhuma conexão direta e nada é bem desenvolvido aqui, você dificilmente irá lembrar o nome de algum NPC ou irá se recordar de algum acontecimento, no final das contas a história está aqui mais para justificar os acontecimentos do que para deixar qualquer tipo de marca.

Bem, a história é um ponto que poderia ser deixado de canto caso a jogabilidade fosse minimamente interessante, mas nem isso consegue. Redfall falha ao tentar misturar elementos de FPS, looter shooter e RPG mas não consegue desenvolver nada muito bem. Além de uma gameplay travada para um FPS dito como frenético, os sistemas de dano, level e árvore de habilidades são pífios, não existe sistema de craft e tudo o que você coleta se transforma automaticamente em dinheiro que é utilizado para reabastecer seus recursos, o que é uma pena pois a quantidade de itens coletáveis é grande, o que me levou a crer que provavelmente este sistema foi planejado, mas cortado durante o desenvolvimento. Essa falta de customização faz com que as armas não possam ser melhoradas e por causa da quantidade de itens novos, você ficará constantemente gerenciando o inventário e alternando entre armas. Em complemento, a desinteressante skill tree gira em torno de habilidades com efeitos desinteressantes que não mudam nada a forma como o personagem joga e custosas demais para os benefícios fornecidos. Quando você pensa nas grandes árvores de habilidades encontradas em jogos como Borderlands 2, onde diferentes combinações de vantagens afetaram severamente a maneira como um personagem se apresenta, em Redfall, elas quase não causam impacto, o que significa que há muito pouco a apreciar aqui na forma de buildcrafting

A diversidade do arsenal me agradou. Na lista de armas convencionais temos desde pistolas, metralhadoras, rifles e espingardas, armas estas que causam muito dano em humanos, mas pouco dano nos vampiros. Por outro lado, as armas especiais são específicas para enfrentar os vampiros e são separadas em três categorias, sendo um canhão de luz UV que petrifica os inimigos, um disparador de estacas que causa muito dano e um sinalizador que causa danos altos e coloca fogo no inimigo. A ideia de diversificar seu arsenal para cada tipo de situação é bem divertida e funciona até que bem, mas a falta de variedade em si e de customização, fator esse fundamental para esse tipo de jogo, é que joga tudo pelo ralo.

Já no quesito IA dos inimigos, houve um retrocesso absurdo. A Arkane nunca foi conhecida por ter uma boa programação de adversários no ambiente, mas aqui parece que não houve programação alguma. Além dos inimigos comuns serem extremamente desinteressantes (apenas alguns bosses e minibosses se salvam), são burros a ponto de mirar e atirar em direção oposta a sua, chega a ser hilário.

O ciclo de jogo é curto e o mapa de Redfall não é grande e nem denso em pontos interessantes. A ilha é dividida em áreas que servem como diferentes mapas, cada uma possui pontos de viagem rápida, abrigos para serem ativados e um chefe. As missões principais e secundárias envolvem geralmente ir até algum lugar para coletar algo e aqui temos um grande problema, pois o jogo não possui destaque de itens chave e você irá perder mais tempo procurando o item no local do que indo até lá ou enfrentando inimigos. Jogando de Jacob (o sniper que fica invisível), meu loop basicamente se resumia a pegar uma missão, correr até o local, utilizar a invisibilidade para passar pelos inimigos e procurar o item da missão completando o objetivo, dessa forma era só voltar para a base para enfim fazer tudo isso de novo. A apresentação inicial do jogo é interessante, mas não demora a tudo começa a ficar enjoativo de se fazer, pois você se vê repetindo as mesmas tarefas, enfrentando os mesmos inimigos sem nenhuma variedade ou um real objetivo.

Uma vez que os créditos rolam, é isso. Reinicie o jogo em uma dificuldade mais difícil ou com um novo personagem. Não há mais atividades para desbloquear e explorar, é possível vencer o jogo, sozinho, na dificuldade mais difícil possível e fazer tudo menos de 15 horas, não há muito o que apreciar em forma de conteúdo pós término.

Por fim, graficamente Redfall é tenebroso, não é um jogo de nova geração e não é tão bonito quanto poderia ser, quando comparam com gráficos de PS3 não ache estranho, em ponto à razão. A arte tem uma abordagem cartunesca e embora traga alguns efeitos de iluminação legais, temos uma baixa variedade de cenários e praticamente todos os modelos de personagens são esquisitos e pouco definidos. Somado a isso temos a otimização que foi a gota d'água, entregando 115 FPS nas áreas de hub fechadas e baixas para 25 fps nas áreas abertas. Além dessas taxas de quadros abismais, o jogo também sofre com texturas surgindo, travamentos duros, inimigos com falhas, NPCs em T, e tudo isso em cima de uma conjunto de movimentos que luta contra você enquanto você joga, tornando a travessia das partes verticais do mapa frustrante. A trilha sonora não é das melhores, os efeitos de armas são genéricos, existem poucas falas para os inimigos, a música de fundo toca em momentos aleatórios e sem sentido, mas pelo menos o jogo está dublado em PT-BR (apesar de que todas as falam remetem ao plural, como tivessem outras pessoas na party mesmo jogando sozinho, o que é estranho ao extremo).

Redfall é uma enorme decepção, apesar de ainda conseguir enxergar um pouco do brilho da Arkane nesse abismo. A única alternativa viável para jogar seria caso você tivesse amigos com o jogo para tornar a experiência menos cansativa e problemática, dá pra dar pelo menos algumas risadas, mas nem sei se vale a pena uma assinatura do GamePass só para jogar isso, e óbvio, definitivamente não vale o preço.

Reviewed on Feb 18, 2024


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