DEATHLOOP representa o que há de melhor na indústria AAA.

Tiro certo atrás de tiro certo, sinônimo de qualidade. É incrível como Arkane Studios, seja ela com seus estúdios em Austin ou em Lyon, não tá dando uma bola fora, é quase 100% de win rate com seus jogos nos últimos tempos. Como conseguem isso? Poderia discorrer bastante sobre a história conturbada do estúdio e o quanto investimento sempre foi um problema, mas modo geral, é intrínseco à mentalidade do time de desenvolvimento Arkane de que como os jogos se tornaram grandes produtos, a grande maioria das empresas se preocupa muito em trazer o investimento de volta e que por muitas vezes isso influencia na maneira que o jogo é desenvolvido, cientes disso, a Arkane não coloca a carroça frente aos bois, e que o desenvolvimento na verdade é chave para ter um grande produto.

E DEATHLOOP representa o auge dessa mentalidade, sendo na verdade um revival de conceitos PvExPvP advindos de The Crossing, jogo este cancelado em 2009 por falta de dinheiro. Agora com poderio de investimento, eles podem finalmente mostrar para o grande público o verdadeiro potencial do estúdio, livre de quaisquer amarras.

Inicialmente, nós assumimos o papel de Colt Vahn, soldado e assassino que está sofrendo de amnésia e preso na misteriosa ilha de Blackreef. Vahn logo percebe que o local está preso em um loop temporal, fazendo que todos os dias sejam resetados ao seu final e tudo que aconteceu volta ao seu estado original e todos aqueles que morrerem na ilha ressuscitem no dia seguinte, incluindo ele mesmo.

Logo no início, você será apresentado à misteriosa e brutal Julianna Blake, que tem uma rivalidade forte com Colt e demonstra guardar muita mágoa por algum fato desconhecido do passado, querendo matá-lo incessantemente. Essa rivalidade acentua-se durante a história por um simples motivo: Colt precisa matar oito visionários para fugir do loop, incluindo Julianna, enquanto ela vai querer mantê-lo lá. A questão é: Julianna na verdade é um outro player, o que torna essa caça de gato e rato extremamente emocionante.

Junto com Colt, vamos descobrir cada aspecto que rege a lógica narrativa do jogo, à medida em que avançamos nessa intrincada trama na misteriosa Blackreef. Isso porque ainda que estejamos em um estado de repetição constante, cada nova jornada nos oferece, na pior das hipóteses, novas informações que nos darão sustentação não só para entender o que aconteceu, como agir no presente em meio aos Visionários e como bolar estratégias para o futuro.

O ambiente em Deathloop é o melhor já feito dentre o histórico com Dishonored, é preciso prestar bastante atenção a tudo o que ler, ouvir ou presenciar, indo muito mais além do que histórias complementares. A narrativa gira em torno de montar o quebra-cabeça de como eliminar os oito alvos em um ciclo, que é dividido em quatro momentos: manhã, meio-dia, tarde e noite. Informações de como atrair um segundo alvo para o mesmo mapa, por exemplo, podem estar em uma conversa trivial entre alguns inimigos em um fliperama; ou senhas para portas trancadas podem estar em um papel amassado numa mesa de bar. Tudo importa, e mesmo sendo a habilidade de combate uma camada a ser dominada, mas sem um pensamento sistemático de como agir, ela não servirá para nada, e isso meus amigos, é immersive simulator de qualidade.

Apesar de ser um título totalmente novo, Deathloop é, como comentei, a evolução lógica da Arkane Studios e dos seus aclamados Prey, Dishonored e outros. Tal como nestes títulos, os jogadores precisão de concentração máxima e de um bom tempo de resposta em momentos de combate. Gunplay extremamente satisfatória em meio a uma gama de habilidades que permitem uma série de combinações, não tem como falhar.

E QUE DIREÇÃO ARTÍSTICA ABSURDA. É uma das melhores obras já feitas nos videogames nesse aspecto. Esse retrofuturismo com temática investigativa me encantou logo no primeiro trailer, o jogo é detalhista e impressionante nos mínimos detalhes e que se adapta muito bem aos períodos do dia. Tudo grita personalidade. Trilha sonora impecável e que funciona muito bem em consonância com a ambientação e até como o momento de cada personagem. Soma-se a isso um belo trabalho de mixagem e de mapeamento tridimensional de som para armas, equipamentos e ambiência e o resultado é um conjunto artístico perfeito.

Quero voltar aqui ao multiplayer do jogo, sinceramente, que ideia incrível. Por mais que você já tenha decorado tudo daquele mapa, naquele período do dia específico, a invasão da Julianna acrescenta um fator aleatório que dá tom de emoção que eu nunca vi antes em um videogame. Meu coração acelerava, minhas mãos suavam, e eu não conseguia progredir tranquilamente até encontrar e matá-la. Serve o mesmo jogando com ela, que sensação deliciosa matar um Colt de uma maneira engraçada e estragar sua run.

Deathloop é quase perfeito. Devido a presença do anti-tamper Denuvo, a otimização do jogo está um lixo. Consegui rodar na maior parte do tempo na casa dos 60fps na minha GTX1660Super + Ryzen 3 3100 no preset médio, entretanto com algumas quedas e stutterings brutos, e mesmo que abaixasse ou aumentasse, as configurações gráficas pouco influenciavam na performance, significando que o Denuvo que está limitando o potencial da máquina de rodá-lo melhor. Bora remover isso ai, por favor. Além disso, a IA dos inimigos é bem mal programada, as vezes burra demais, as vezes extremamente sem noção, com um olho de trás da nuca, nunca dá pra tentar prever o movimento deles, o que acaba pondo a água abaixo algumas estratégias de abordagem.

Li alguns comentários sobre a linearidade de Deathloop ou de que ele não seria um immersive sim, o que eu discordo completamente. Marketearam sobre inúmeras possibilidades de conseguir encerrar o loop, sendo que na verdade, o jogo segue uma linha narrativa de investigação que culmina em apenas uma única e forma certa de concluir a aventura. Apesar disso ser um fato, para quem jogou, não é que Prey ou Dishonored fossem muito melhores nesse sentido. Deathloop segue essa linha pois ele não tem como objetivo encerrar apenas a história, mas sim desenvolver os personagens e mistérios daquela ilha no meio do processo do loop, o que particularmente consegue MUITO bem, consegui me apegar muito ao lugar, aos visionários e até mesmo aos personagens que não aparecem, apesar de gostar da ideia de uma história não-linear e talvez ter sido enganado um pouco pelo marketing como muitos, eu entendo o que foi feito aqui e funciona bem melhor. E mesmo que a história embaralhada se transforme em uma reta, a gameplay complexa com os sistemas interconectados ainda está lá, e sim, te permite fazer várias abordagens e muitas brincadeiras ao longo dos mapas e contra os inimigos.

Em resumo, o DNA da Arkane está por todos os lados, fico sinceramente muito feliz em ver que eles só evoluem e que, para mim, conceberam o jogo do ano de 2021.

Reviewed on Feb 18, 2024


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