Uma experiência densa de survival horror e terror psicológico.

Silent Hill 4: The Room acabou por se tornar um dos meus favoritos da saga, algo que eu não estava esperando, apesar de desde um tempo me sentir instigado à jogar esse jogo. Esse game tem diversos problemas, mas a experiência de desvendar essa história foi tão boa e satisfatória que eu consigo facilmente relevá-los, problemas esses que são majoritariamente técnicos. Encaro a frustração de empacar em algumas partes puramente como skill issue e incompetência da minha parte de pensar e resolver os puzzles.

Às partes técnicas que me agradaram pode-se pontuar principalmente à dinâmica apartamento/outro mundo. A forma como o apartamento se torna uma entidade do jogo, que você usa como refúgio pra se curar, salvar o jogo e resolver alguns puzzles, e como na segunda metade essa zona de conforto é quebrada com o início das aparições lá dentro, eu acho de uma genialidade sem tamanho. O pacing da história é um dos melhores da franquia, cm a forma que os mistérios vão se desdobrando através das notas postas na sua porta, os diálogos com as outras personagens que estão tão fodidas quanto você nessa espiral de insanidade. A relação e referências que o jogo tem com a cidade de Silent Hill é também fantástica. E, apesar do jogo não se passar em Silent Hill de fato, tem tanto da cidade no texto e sub-texto desse jogo que fez eu me sentir mais presente ao ambiente de Silent Hill do que o 3º jogo por exemplo. O fator terror psicológico aqui é fortíssimo, muito sustentado pelo fator survivor horror que é provavelmente o mais forte da saga, graças às mecânicas de, por exemplo, inventário cm espaço limitado. O que leva o jogador à gerenciar todos recursos possíveis, desde munições e itens de cura até os itens para lidar com os fantasmas do outro mundo e aparições do apartamento. A história é extremamente cativante, os plots são satisfatórios, é um jogo que prende e te instiga cada vez mais a descobrir a verdade por trás disso tudo. E a verdade é loucura pura. Melhor antagonista da franquia disparado. Trilha sonora marcante, diferente das anteriores por ter mais performances vocais, algo que me agradou bastante (Akira Yamaoka não decepciona nunca). Personagens, como de costume de um game SH, estranhos. Diálogos incômodos com doses de apatia e loucura, apatia essa muito presente no protagonista Henry e sua densidade como personagem. O que muitos interpretam como um personagem sem sal, caladão e indiferente, eu encaro como um homem introvertido, solitário, que encontra conforto nessa solidão. A dinâmica dele com a Eileen é muito interessante na história, mas não tão interessante em gameplay. Escoltar ela pelas fases é uma experiência um pouco frustrante, mas nada que eu já não tenha lidado em RE4 por exemplo.

Os pontos negativos são coisas bem bobas que poderiam ser melhoradas sem muito esforço. Por exemplo, uma opção de descartar itens era imprescindível, e infelizmente não tem nesse game. Os cachorros são um pé no saco, com uma IA totalmente injusta. Também acho que fantasmas poderiam ser melhor trabalhados como inimigos, infelizmente por serem MUITO brokens você só não os enfrenta pq simplesmente não vale a pena.

Mas enfim. Esse jogo é inegavelmente injustamente subestimado e até desdenhado, muito por expectativas de jogadores que gostariam de uma experiência igual à dos jogos anteriores, experiência essa que já estava saturada. A criatividade e coragem dos desenvolvedores de criarem algo novo dessa forma é provavelmente o fator principal de esse jogo ser tão tirado pra merda. Um excelente game que, com alguns ajustes/retoques na parte técnica, seria sim um jogo de terror perfeito.

Reviewed on May 23, 2024


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