Lendo alguns comentários sobre Rule of Rose eu devo dizer que fico bastante chateado em como o consumo de videogames ficaram cada vez mais pasteurizado, pois a cada comentários mais percebo que nossas relações com videogames mudaram ao ponto de negar certas escolhas artísticas.

Rule of Rose por definitivo é um jogo imperfeito, mas excelente dentro de suas limitações. E bem, tudo que eu tenho pra dizer sobre o jogo, não é necessariamente ligado ao jogo, mas em suas particularidades ligadas ao mercado, então tirando isso logo do caminho, afinal, o que é Rule of Rose?

E se eu pudesse resumir, seria um Silent Hill 2 com sérios problemas narrativos. Serio, a historia e narrativa do jogo tem alguns problemas quando não avançam os temas que eles abordam ou não dão nem uma brecha pra alguma conclusão, a estrutura é um pouco confusa e você precisa se esforçar pra acompanhar a cronologia do jogo.

Um dos maiores pontos criticados do jogo é sua gameplay, principalmente o combate e eu tenho pontos sobre que tentarei abordar mais no futuro, mas por agora eu digo que não é um bicho de 7 cabeças e que eu gostei bastante, sinceramente. Enquanto a outros aspectos tecnicos, como ambientação, trilha musica etc, são muito mais ligados a uma subjetividade do jogador, já que eu gosto e acho que constrói bem o jogo, mas entendo quem possa achar um saco.

Ok, passado por esse panorama geral, o que exatamente eu quero dizer com Rule of Rose? No tempo em que vivemos em um momento de maior aceleramento da experiência de consumo esse jogo não funcionaria (assim como não funcionou na época, os seus 59 no metacritic provam isso, como não funciona até hoje, já que existe anacronismos na conversa em volta do jogo).

A de se falar da existência sobre a existência da alta e baixa cultura, que pra fazer sentido, eu digo que não é uma distinção feita pela classe, mas que o tempo em que estamos inseridos, o nível de reflexão, as possibilidades de trabalho ou os discursos disponíveis melhoram, tornam mais complexa ou mais profunda uma obra de cultura, ou o mais descartável de rápido consumo, um fast-food cultural.

Produzir, para consumir, pra lucrar e para crescer, são os pilares do capitalismo que cada vez mais fazem a experiência com as obras se esvaziem e que o foco das relações seja gerar lucro e consumo, e nisso se estabelece níveis de de convenção dentro de videogames ou uma certa perda de referencial que faz que jogos como Rule of Rose soem mais anômalos que deveriam pro grande publico.

E ok, a indústria de cultura historicamente sempre se reproduz e retrabalha conceitos e isso é aceitável, mas o que vem acontecendo é o esvaziamento das referencias. Usando aqui de exemplo um jogo que eu citei mais cedo, Silent Hill 2. Você entende que esse jogo é especial pelos seus méritos e que existe substancia por trás de todas as nuances do jogo né? Agora imagina que o remake vem pra higienizar as imperfeições e os conceitos por trás de algumas artes como forma de "acessibilizar" SH2 para novos públicos (sobre essa higienização, peço que vejam uma comparação entre as enfermeiras do OG e para com as artes liberadas do Remake)

Resumindo o que eu quero dizer: num mundo tão mercantilizado, a atual geração, e a geração posterior vão crescer num mundo aonde ela não tenho acesso ao referencial, e por mais das ressalvas a Orwell eu preciso citar "Quem controla o passado, controla o futuro, e quem controla o presente, controla o passado". Basicamente quero dizer que essa nova configuração de modalidade de produção e reprodução da vida material, trás consigo uma cristalização do material que não nos permite ver as coisas de uma certa maneira ou apenas ver de uma maneira.

O que quero dizer é que, seu gosto por algo é subjetivo a sua vivencia e visão de mundo, mas também está ligado ao mercado, e principalmente a como o mercado se relaciona com produtos de mídia e no caso de Rule of Rose, bem, ele não atende os requisitos do tempo de lá e muito menos o de cá. Se formos levar mesmo a serio ponto de quem videogames são arte, então há de se respeitar investidas corajosas como a desse titulo já que eles acabam jogando contra o mercado. Deve se levar em consideração também a natureza dos desenvolvedores, já que o estúdio Punchline é formado por ex-membros da Love-de-Lic estudio responsável por jogos como Moon: Remix RPG Adventure que por si só já existe um histórico em brincar com convenções de videogames.

No mais, acabei divagando demais sobre o que eu acho da recepção do mercado com jogos mais anômalos do que falando do jogo per se, mas Rule of Rose é o tipo de jogo que se deve experienciar e só assim a pessoa terá noção do que exatamente eu quero dizer com tudo isso, é agradável mas não o suficiente pra te acomodar, em definitivo, é uma joia perdida no meio de tantos títulos que o PS2 possui.










Reviewed on Jul 10, 2023


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