Definitivamente divertido.
King Arthur: Knight's Tale é um RPG tático baseado em turnos situado no universo dos contos de Rei Arthur e sua Távola Redonda. Porém, ele nos conta uma história do Rei Arthur no mínimo, diferente. Pra começo de conversa, ele é o vilão, pelo menos no ponto de vista mais óbvio (isso não é spoiler), portanto não entre no jogo achando que o vamos ter como protagonista. Ainda sobre a história: é um dos pontos positivos do jogo, embora não tenha uma narrativa muito aprimorada, podendo as vezes ser confusa, o game apresenta uma profundidade de enredo e universo no mínimo louváveis, contando com um espectro folclórico com um abismo de referências e inspirações, especialmente ao folclore irlandês e obvio nas histórias do famoso rei. Além disso, nesse jogo temos várias espécies de decisões, mas como estamos na narrativa vou focar primeiro na escolha de diálogos, que é, nesse caso, decepcionante. Pouquíssimas opções durante o jogo mudam realmente algo, portanto 95% das vezes que você optar por uma fala diferente, será apenas para se aprofundar na situação/missão. Ah, além disso, muitas das vezes podemos selecionar falas mais ácidas e agressivas, porém o sujeito com quem estamos conversando raramente esboça uma reação à altura, dando a impressão de que independente do texto, ele seguirá um mesmo roteiro programado.
Já para mesclar a história com o gameplay, eu vou falar dos personagens. Em King Arthur: Knights tale nós temos cerca de 30 personagens jogáveis, ou melhor, recrutáveis. Pois isso não significa necessariamente que iremos ter os 30 a disposição pra jogar e recrutar, na verdade, por causa de algumas mecânicas do jogo que eu vou falar mais pra frente, se torna impossível aliar todos os heróis disponíveis à Tavola Redonda de Avalon, além de existir um limite de 12 personagens ao mesmo tempo no reino e 4 ficam numa espécie de reserva, para caso algum dos 12 morra. Ah, aproveitando o gancho eu já devo deixar avisado que o jogo tem morte permanente viu? Portanto tome cuidado com os heróis que você mais gostou e evoluiu, pois se ele morrer já era. No geral, eu considero um número bem satisfatório de heróis e pode se dizer que a variedade na gameplay deles é decente, nada que seja revolucionário e completamente novo de um pro outro, mas como eu disse, cumpre bem o papel.
Mas antes de entrar em mais detalhes, precisamos falar sobre o macro da gameplay do jogo. Basicamente, você tem três telas/”setores” de gameplay. Uma é no gerenciamento de Avalon, o reino no qual estamos imperando. Já a outra, é dentro do mundo da missão, explorando, procurando itens etc. E a terceira e mais importante é o combate, que ocorre quando encontramos inimigos e confrontos no meio da exploração do mapa da missão em questão.
Sobre o combate, eu já adianto ser um dos principais pontos positivos do jogo. A posição inicial dos seus personagens no combate é conforme você encontrou o encontro e a ordem que você os definiu da linha de frente até a retaguarda, por isso é importante ficar de olho na formação da sua party. Além disso, o jogo tem um sistema de direções, onde você deve sempre direcionar seu herói para o lado desejado e assim evitando tomar dano multiplicado pelas costas. Como eu disse antes, tu pode ter até 12 heróis na Távola Redonda mas apenas 4 vão para as missões, porém estando dentro da missão é bem comum que personagens terceiros acabem se juntando ao grupo e se tornem jogáveis até o fim dos objetivos. Pra poder explicar melhor o combate, eu devo citar que existem 6 classes no jogo: defensores, atiradores, vanguarda, campeões, arcanistas e sábios. Cada uma delas se diferencia bastante entre si na gameplay, sendo alguns meele, outros ranged além disso os personagens não são idênticos apenas por dividirem a mesma classe. Estando em combate, você tem um certo número de movimentos para cada ação e algumas classes possuem mais do que outras, assim como equipamentos podem acrescentar ou até mesmo diminuir esse número. Mas eu devo ressaltar que, pelo menos na minha run de gameplay, ficou bem claro que existem classes melhores que outras, por exemplo os sábios e campeões ficam muito abaixo de qualquer outra, por isso eu em pouco tempo percebi isso e passei a evitar utilizar os heróis destas classes, o que eu considero uma falha de game design.
Outra parte da gameplay se dá na exploração dos mapas das missões. Essa parte não tem muito segredo: Você anda, encontra objetivos paralelos dentro desse cenário, procura por loot e equipamentos, encontra confrontos e principalmente descansa nas fogueiras para regenerar atributos do seus heróis.
Para finalizar a parte da gameplay, nós temos a administração de Avalon. Aqui você deve gerenciar seus recursos que são no caso ouro e trabalhadores, utilizar disso para melhorar a cidade e consequentemente os heróis para as missões. Além disso, nesse jogo nós temos ferimentos “permanentes” que só podem ser curados quando estamos nessa parte administrativa. É aqui também que tomamos outras decisões, essas sim muito interessantes e que com certeza tem suas consequências. Pois bem, no jogo nós podemos seguir 2 tipos de governos e 2 tipos de religião. No primeiro caso, é possível optar por ser justo ou tirano, e sobre a fé nós podemos seguir os deuses antigos ou o cristianismo. Cada uma desses 4 rumos possui uma arvore de evolução no qual recebemos benefícios e heróis novos conforme vamos progredindo numa árvore, e isso é muito interessante pois força o jogador a ser determinado nas suas escolhas devido ao fato de que se você tentar ficar no meio termo, você simplesmente não progride nessa árvore. Ainda se tratando dessa tela de gerenciamento, é nela que escolhemos qual missão vamos, resolvemos eventos e problemas da população e trocamos os equipamentos dos personagens.
Agora vou falar da progressão do jogo. Pois bem, eu considero o sistema de progressão desse jogo agridoce. Como quase todo jogo moderno, ele possui a boa e velha arvore de habilidades que necessitam de pontos para evoluir. Nessa parte eu acho que funciona bem, todos personagens possuem diferenças nas suas skill tree, mesmo que seja só um detalhe, e sempre que evoluímos algo é possível sentir o personagem mais forte logo na próxima missão. Porém também existem os itens. Ahh, os itens desse jogo... pra mim, um dos pontos mais baixos. É plenamente possível em Knights Tale você terminar o jogo com um item que você encontrou lá no primeiro ato, pois eles evoluem muito sutilmente e as vezes nem isso, o que nos passa a sensação de perda de tempo quando looteamos. Enquanto eu jogava, eu pegava os baús principalmente para vender os itens e conseguir ouro, pois muito raramente vinha algo que presta. Além disso, um detalhe que acho que incomoda poucas pessoas mas a mim incomodou e muito, é a falta de apelação visual nos equipamentos. Veja bem, eu não estou pedindo que o jogo gastasse seu tempo e recursos fazendo itens esteticamente lindos e com brilho, não, eu apenas gostaria de olhar pra um item e não ter a sensação de que eu já vi ele um milhão de vezes. Basicamente não existem variação para imagem de um item, por exemplo: se é uma runa de arco, vai ser sempre exatamente a mesma imagem, porém com a coloração diferente para indicar a raridade. Além de que independente dos itens equipados, os personagens não tem sua skin alterada. Isso faz com que o jogo perca o fator da apelação visual, o que, querendo ou não, é algo a ser levado em conta atualmente na indústria de games.
Agora, aproveitando o assunto da progressão, eu devo citar outra falha do jogo, dessa vez grotesca. O sistema de missões. Bom, no jogo nós temos as missões principais, secundárias e eventos. Para um herói ganhar xp, ele deve participar de um dos 3 ou treinar no campo de treinamento. Pois bem, lembram quando eu disse que numa missão só é possível levar 4 personagens? Então, é aqui que o problema começa. As coisas só progridem se você fizer uma missão. O sistema de passagem de tempo do jogo se dá nas missões. Por exemplo: se você tem um herói se curando, o tempo de espera se dá em 1, 2, 3 missões e assim por diante. Portanto enquanto você faz uma missão e progride o xp de 4 personagens, muitos ficam parados em Avalon apenas perdendo progressão e sem fazer nada, ou se curando. E não existe um sistema de dungeons mais tranquilos onde você pode levar alguns personagens apenas para farmar e não deixar eles ficarem com o level tão atrasados, se você cometer algum deslize de gerenciamento de grupo, você pode ter muita dificuldade pra ter uma progressão coesa entre os personagens. Isso fica ainda mais grave se você for um jogador inexperiente. Pois as missões recomendam um determinado lvl para se tornarem equilibradas, então se tu não conseguiu alcançar esse nível determinado com personagens suficientes, tu pode ficar com uma desvantagem absurda em relação aos inimigos, especialmente nas missões finais. Um sistema de dungeons e farm de xp mais aprimorado teriam feito bem ao Knights Tale.
Ainda existem muitos detalhes a serem ditos mas que irei resumir pra essa análise não ficar muito longa. Os inimigos possuem uma boa variedade, tendo diversos grupos e raças que o jogador enfrenta conforme o jogo. Eu fiz todas as missões disponíveis no jogo, tanto as principais como as secundárias e demorei cerca de 40 horas pra isso, portanto tem um conteúdo bem adequado a realidade do seu preço.
Embora eu tenha citado muitos pontos negativos, não se pode deixar de levar em consideração a primeira frase que eu disse aqui: definitivamente divertido.
King Arthur: Knights Tale é um dos melhores RPG que eu já joguei e possui uma profundidade muito interessante no seu enredo e uma gameplay extremamente deliciosa que você não vê o tempo passar enquanto joga. Eu recomendo pra literalmente qualquer um que goste de jogos de estratégia baseada em turnos, pelo valor dele tenho certeza que tu não vai se arrepender.
No mais, é isso.

Reviewed on Dec 29, 2022


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