Em meio a seus maiores delírios capitalistas sobre o que seria o comunismo, Atomic Heart constrói sua história de uma forma que soa tanto caricata quanto boba; não que os temas que o jogo aborda sejam ruins por si só, eles até podeiam ser bons, o problema é que ao tecer seus comentários de uma forma tão ridícula, a ponto de soar estar gritando um grande “OLHA COMO O COMUNISMO É RUIM” da forma mais escandalosa e expositiva possível tudo aquilo fica bobo, a forma como o jogo expõe sua crítica ao sistema é simplesmente tosca, é ridículo ao ponto que tem diálogos como esse — “Manda ele pular” — “Ele? Porque só um!? Nós somos comunistas porra! Todos vão pular” — é algo que não me soa como uma crítica vindo de alguém que pelo menos tem conhecimento do tema que se propõe a falar sobre, parece mais como um neoliberal propagandista qualquer vê aquele sistema, e honestamente, eu até poderia não tratar isso como um problema (Sério, tá cheio de jogo anticomunista por aí) se pelo menos seus diálogos não fossem tão mal feitos, ou que eles ao menos fossem algo que eu sinto vir da visão e percepção daquele personagem sobre o mundo, só que isso é algo que definitivamente não acontece, sempre que um personagem abre a boca sobre o tema eu sinto que ele deixa de ser ele mesmo e se torna o roteirista. É um sentimento meio difícil de explicar, mas eu sinto como se os personagens perdessem seu lugar e o dessem pra quem quer que seja que está escrevendo os diálogos do jogo, não me soa como algo pertencente a eles ou ao menos aquele mundo de tão mal feito que é.

Ao menos posso dizer que não é só disso que é feita a história do jogo, em alguns poucos momentos ela consegue ser bem decente, de longe o ponto mais acertado sendo os mistérios do jogo, eles me foram instigantes o suficiente pra que eu me prendesse aquela história e aquele mundo buscando as respostas de coisas como — “O que é aquele polímero vermelho? O que ele quer? O que tem por trás disso? Quem é essa pessoa? — , só é uma pena que a maioria dessas coisas tenham respostas que vão do medíocre ao ruim, as medíocres eu ainda consegui aproveitar por ter gostado de toda a jornada até chegar nela, mas outras foram tão patéticas que me irritaram ao ponto de me questionar porque eu passei por tudo aquilo.

Outra coisa que acaba me decepcionando são os personagens, a conclusão da maioria deles é horrível, (Acho que o único que termina bem é o Petrov) principalmente a do protagonista, durante o jogo se abre um leque de possibilidades do que pode acontecer com ele, de como os acontecimentos daquele mundo vão impacta-lo e principalmente de como ele vai reagir a tudo aquilo, mas quando eu finalmente senti que ele ia esboçar algo algo sobre tudo aquilo o jogo termina, e eu termino sentindo que controlei um fantoche que constrói constrói uma expectativa sobre si mesmo para no final só não entrega-la. Eu senti que a ideia foi dar uma finalização chocante e abrupta ao jogo, mas não conseguiram fazer isso de uma forma que ficasse legal, só termina soando incompleto e com muita, mas muita coisa faltando.

Felizmente, o jogo não é um grande desastre, ainda existe coisa que eu acho boa, a que mais chama atenção sendo de longe sua direção, principalmente sobre ambientação. Em destaque, os trechos do jogo que se passam em ambientes fechados se destacam muito sobre todo o resto da obra, principalmente Vavilov, (A primeira parte do jogo) eu amo como o jogo tira proveito de que ele está apresentando aquele mundo e aqueles problemas para construir um ambiente que pra mim trouxe um pouco de suspense e também de horror, o jogo aposta em um ambiente silencioso, poucas coisas fazem barulho, e o que faz soa fora de lugar, e isso quando junto a ele ser tão apertado, quebrado e escuro causou em mim um certo sentimento de intimidação por ele, eu conseguia sentir um pouco de medo me perguntando coisas como “O que vai estar na próxima porta”, “O que tá fazendo aquele barulho”, e eu amei sentir isso. Também achei ótimo que o jogo teve consciência de que esse estilo de direção só é possível pra essa primeira parte, já que conforme o jogo vai passando você ganha muitas formas diferentes de se lidar com inimigos, se tornaria impossível causar esse sentimento de inquietude com o que está por vir, afinal, eu poderia só entrar na próxima sala e matar o que está ali. O jogo inteligentemente faz que as próximas vezes que ele te coloca em um espaço fechado sejam focados em outras coisas, o teatro por exemplo consegue trazer certa epícidade a tudo aquilo, já o hospital me entrega um foco quase que 100% na ação do jogo, até deixando um rockzão russo enquanto eu atiro e mato tudo ali dentro, e fico feliz que todas elas consigam funcionar de sua própria maneira, admito que nenhuma chegou a me agradar tanto quanto a primeira, que pra mim foi a melhor parte do jogo, mas ainda assim gostei delas.

Uma pena que eu sinta que quando o jogo saí desses ambientes fechados e vai pro seu mundo aberto até mesmo essa grande qualidade que ele tem se perca, sinto que mesmo com essa estética de “velho novo”, que eu achei incrível, ele não conseguia ter substância suficiente para que eu o achasse menos vazio. Não existe muito para se fazer, nenhum lugar de interessante pra visitar, as side-quests são no mais puro estilo “Far Cry” de posto de controle e por isso me dão zero vontade de me esforçar pra completa-las, elas não adicionam nada de interessante praquele mundo, não despertam interesse algum e o pior é que mesmo as que eu fiz eu sequer usei as recompensas, terminei o jogo as sentindo como algo 100% descartável, honestamente senti que mesmo a parte mais incrível do jogo se perdeu completamente quando ele foi pro mundo aberto, soava como algo incapaz de sustentar a si próprio; pelo menos essas partes só representam umas 2 horas de jogo enquanto o resto dura umas 8, o que não tira o fato de atrapalhar ainda mais uma experiência que não me foi lá muito incrível, mas ao menos não é algo que durou tanto assim.

Tem umas outras coisas no jogo que me chamaram atenção mas que também não me interessaram o suficiente pra que eu me extendesse sobre elas, então em resumo. Eu gosto de como o sistema do jogo permite que você mude o tempo todo, dá uma sobrevida já que permite que eu teste todas as mecânicas de combate dele a fundo, ele não me deixa presa a um estilo e depois me obriga a grindar caso eu queira testar novas coisas, eu posso só escolher um novo caminho, mas eu também não usei tanto dele assim, muitas vezes eu só ia pra um combate de frente, que ainda me agradou apesar de eu sentir que poderia ter um pouco mais variação, principalmente no corpo a corpo, senti falta de mais armas principalmente, mas de forma alguma chegou a desagradar, só também não é algo que se sobressaí, é funcionar e por vezes divertido.

Os puzzle do jogo também caem sobre isso, com o exceção do puzzle das bailarinas no teatro que eu achei bem legal, nenhum deles foi capaz de chamar atenção para nenhum dos lados, não são inteligentes ou interessantes o suficiente para que eu falasse “Oh, que legal”, mas também não foram chatos o suficiente para que eu pensasse “Que tédio”, eles só são em sua maioria medíocres.

Mesmo com momentos muito baixos e outros muito altos, a maior parte do jogo cai sobre um mediano por vezes legalzinho, o que me faz sentir que ele como um todo foi um grande desperdício de potencial, o jogo tem boas ideias, mas infelizmente elas se perdem em meio a seus delírios anti-comunistas.

Reviewed on Apr 16, 2023


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