Às vezes eu tenho vergonha de admitir o quanto alguns jogos me afetaram e moldaram uma boa parte da minha personalidade. Eu não sei exatamente o motivo de me sentir envergonhado por isso.

Talvez parte seja por um preconceito que tenho em relação a "comunidade gamer" e a pessoas que fazem de jogos o ponto central da vida delas. Ou parte pode ser também por perceber que uma obra comercial, que foi produzida em massa e consumida por milhões de pessoas, foi algo que conseguiu me afetar profundamente.

A verdade é que, com ou sem vergonha, eu me pergunto se eu teria sido a mesma pessoa se não tivesse jogado The Curse of Monkey Island quando criança. Parte pelo tom sarcástico, do qual eu não me orgulho muito e tenho tentado melhorar, mas parte por querer viver em um mundo em que existem soluções não violentas e fora do óbvio para os problemas.

O Guybrush tem uma ingenuidade em tudo o que ele faz, mas não de um jeito pejorativo. É uma pessoa que analisa com calma a situação e não olha com os filtros do senso comum. Talvez eu esteja dando muito crédito para um personagem de video game, mas é algo que admiro em pessoas e acho que é muito importante para o mundo.

Os problemas do mundo hoje não são simples ou fáceis de resolver. Se tentarmos solucionar utilizando o senso comum, vamos nos frustrar chegando em respostas fracas, impossíveis, gastas. E quando eu me pego pensando nisso, me bate a insegurança de como pessoas vão interpretar essas falas vindas de uma experiência de jogo.

Talvez a vergonha venha daí, de desqualificarem minhas ideias para o mundo, desqualificarem minha personalidade porque um jogo está lá no meio do que a compõe. Quem sabe com um pouco mais de ingenuidade, pessoas possam considerar que grandes inspirações e soluções podem vir de qualquer lugar, mesmo que seja de um jogo de computador de 1997 sobre piratas e maldições.

Reviewed on Sep 02, 2021


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