Hogwarts Legacy é um jogo que se propõe a imergir o jogador no universo de Harry Potter, e consegue fazer isso com maestria, especialmente pela construção de sua ambientação, sendo este seu maior trunfo. A verdade é que Hogsmeade e Hogwarts são extremamente bem construídas, e qualquer fã da franquia, ainda que apenas dos filmes, vai se encantar com o que encontrar em termos de ambientação, não só pela arquitetura dos ambientes, mas pela presença de outros bruxos e criaturas mágicas que concedem àquele universo uma identidade única; fora que o jogo é muito bonito, ainda que não seja nada extraordinário em termos de 9ª geração.

Os combates, apesar de não terem nada de excepcional, têm boas soluções mecânicas para que o jogador, caso queira, se utilize da grande variedade de magias disponibilizadas pelo jogo de forma rápida e intuitiva. E são essas mecânicas que se aproveitam em algum grau dos elementos de RPG que o jogo se propõe a ter.

O problema é que o jogo não é desafiador; então apesar de dar muitas opções ao jogador, como melhorias de equipamento, novos poderes ou subespecialidades para as magias aprendidas, o jogo não chega a demandar de fato esse cuidado ou domínio dessas mecânicas, já que é possível vencer os combates com três ou quadro magias em alternância, e as magias indispensáveis são demandadas e fornecidas obrigatoriamente pela narrativa, não sendo necessário dominar as mecânicas do jogo para zerá-lo.

O jogo tem muitas missões opcionais, e jogo acaba obrigando o jogador a fazê-las em parte, para destravar as aulas que vão ensinar magias novas, e avançar a história. Então é aquilo, muito do tempo do jogo se passa fazendo missões que seriam opcionais, mas que na verdade são "obrigatórias". Isso para mim sempre foi algo que testemunha contra a qualidade de um jogo, já que penso que a realização de missões secundárias deve estar atrelada à qualidade delas, não a obrigatoriedade delas para liberar missão principal; mas enfim.

Outro problema é que Hogwarts, Hogsmeade e a Floresta Proibida são por volta de 30% do mapa total do jogo; e veja, o tamanho desses locais não é o problema, e o jogo poderia perfeitamente ter apenas essas localidades; primeiro porque Hogwarts é o local mais interessante, e deveria ser o centro de toda a narrativa; Hogsmeade é uma cidade legal, e tem sua personalidade, servindo bem ao propósito de ser um local que te apresenta a economia do jogo, e personagens que não são necessariamente alunos de Hogwarts; e a floresta proibida, que é mal aproveitada aqui, poderia ser o ambiente onde se localiza os vilões do jogo, ou alguns mistérios mais terríveis. Essa estrutura funcionaria perfeitamente melhor do que a proposta no jogo; porém, ao invés disso, ocorre o efeito Assassin's Creed aqui.

Ou seja, o que temos aqui é um mapa grande e genérico, cheio de cavernas e vilas que ninguém liga, preenchendo esse mundo com colecionais que não representam ganhos efetivos a longo prazo, e missões bem sem graça, que se prestam apenas a inchar a campanha.

A verdade é que, a essa altura do campeonato, com jogos refinadíssimos em explorações mais contidas, meter um mapa cheio de inutilidades e ambientes irrelevantes é um crime contra esse jogo.

Por fim, temos a história, que é sem graça, sem consequências, e sem ramificações ou caminhos interessantes. O fato é que Hogwarts Legacy não é um Action RPG. A ausência de um sistema de moralidade, ou consequências narrativas contra o jogador, que pode livremente matar outros bruxos, usar magias amaldiçoadas, e tem até uma árvore de habilidade de bruxo das trevas, não faz a menor diferença narrativa. Se você quiser, depois de tocar o terror, pode zerar o jogo com uma simples escolha, e ser um grande herói. É um desperdício gigantesco de oportunidade!

O estrago só não é maior, porque o jogo traz algumas missões de lealdade de amigos interessantes; mas também nada que reinvente a roda; além de também representar a perda de algumas oportunidades.

Por tudo isso, encaro Hogwarts Legacy como um jogo restrito aos fãs de Harry Potter, já que seu maior êxito é justamente a imersão nesse universo, e a sensação de que o jogador de fato é um bruxo naquele local, com direito às vestimentas, Casa de preferência, e colecionáveis que são verdadeiros easter eggs daquele mundo; o jogo também é tecnicamente competente, carregando belos gráficos e algumas mecânicas interessantes, ainda que nunca verdadeiramente aprofundadas; mas como jogo, especialmente Action RPG, beira a mediocridade, e não deve agradar muitos jogadores fora do seu nicho, ou que queiram uma experiência desafiadora, ou uma narrativa profunda, dentro do que se esperaria de um RPG.

Reviewed on May 22, 2024


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