Eu pensei muito sobre Quantum Break, e talvez a frase que melhor resuma sua proposta seja:

Nós não podemos mudar os eventos do passado, mas podemos garantir que exista um futuro.

À título de contextualização, minha aventura começou com a vontade de fazer companhia à um grande amigo em sua jornada de passear pelo jogos da Remedy. Fizemos questão de adentrar em entrevistas, documentários, artigos e conferências com a carinha do carismático Sam Lake.

Sendo o terceiro título do diretor com o qual tenho contato, temos percebido em nossas discussões um padrão colossal de importância nos elementos narrativos e estruturas de roteiro. O alto impacto que Sam Lake proporciona advém de uma escrita incrível, além de uma paixão inegável por músicas dos mais diferentes estilos.

Além disso, diversas influências de quadrinhos, livros, séries e filmes noir, de horror, terror, suspense policial, thriller psicológico, ficção científica e drama se tornam salientes na roteirização de suas obras, mas Quantum Break acerta diferente. Direi o porque a seguir.

Sendo um jogo de 2016, e escolhendo um tema que já estava relativamente saturado no meio audiovisual, a aventura de Jack Joyce tinha tudo para dar errado.

Mexer com viagem no tempo é como mexer em um vespeiro, principalmente quando a abordagem abraça os picos da ficção científica atrelados em conceitos de física quântica. Pior do que isso, dado o histórico do finlandês de estar para a escrita na décima arte assim como Kojima está para o cinema, a incontável quantidade de logs, e-mails e conteúdos narrativos poderiam ser uma encheção infindável de linguiça metafísica, o que não foi o caso.

A construção do micro-mundo da cidade portuária de Riverport é envolvente do começo ao final, e mesmo com o plano de fundo do "salvador loiro dos olhos azuis" inserido abruptamente no contexto de grandes poderes e grandes responsabilidades, Sam Lake transforma Quantum Break em uma homenagem de ponta aos materiais de perseguição policial — e incrivelmente não imperialista — com uma história que poderia ter sido facilmente escrita por Christopher Nolan, ressalto, em um de seus bons filmes.

Ao passo que a preocupação em estabelecer Jack Joyce como um herói não-blasé era inevitável, fui totalmente surpreendido pelas tramas que compõem presente, passado e futuro do que conhecemos como tempo. A sensação inevitável de urgência, as reviravoltas e os desfechos de cada personagem são pontos extremamente fortes no jogo, assim como diversas escolhas criativas que merecem elogios. Algumas delas são os pontos de ruptura, a sensação ininterrupta de correr contra uma ameaça iminente, a presença das bifurcações e os efeitos das nossas escolhas. É tudo tão forte, que eu realmente me questionei como seria ter o poder de controlar o tempo em mãos, e se eu estaria pronto para enfrentar as consequências dessa possibilidade.

Não bastasse o apontado, ainda temos a presença de uma transmídia dentro da própria mídia original que funciona como uma surpresa gratificante. Entendo Lake nesse momento, pois seria um tremendo desperdício não agraciar o mundo com as atuações não-interativas do elenco de peso contratado em Quantum Break.

O único ponto falho, para mim, é a jogabilidade, que infelizmente acabou se repetindo aqui e acolá nas minhas últimas experiências com a Remedy. Sinceramente, achei que fosse dar uma nota muito menor por conta disso, mas é necessário levar em consideração que os desenvolvedores entregaram um experiência que, mesmo com defeitos, se manteve fiel do início ao fim em sua primeira tentativa de lançar um título no motor gráfico Northlight. Testemunhas dizem que Control correu após a caminhada perversa da gameplay de Quantum Break (e espero realmente que seja esse o caso).

Diante dos pontos elencados, a aventura de Jack Joyce ficará marcada para sempre como uma das boas experiências que pude experimentar, e espero honestamente continuar me surpreendendo com as escolhas criativas da Remedy no futuro.

Reviewed on Jun 14, 2023


1 Comment


11 months ago

GDHHHHHH