DISCLAIMER 1: favor ler essa review curtinha (e pouco relacionada ao jogo) sobre Ninja Gaiden II: https://www.backloggd.com/u/Lenz/review/576401/

Sim, um pouco mais de 5 meses pra zerar um jogo. É parcialmente minha culpa, já que enrolei até outubro pra continuar essa merda, mas a partir de certo ponto no capítulo 11 meu jogo simplesmente congelou, me impedindo de prosseguir. Acabei dropando o game indefinitivamente e pulando logo pra sua sequência (Ninja Gaiden II)

Nessa primeira semana de janeiro eu consegui, finalmente, consertar o crash do capítulo 11 de Ninja Gaiden Black (graças ao meu amigo luquinhas tmj wolvez) e acabei terminando o game hoje, dia 6. Como eu joguei o segundo game antes, vou usá-lo como comparação diversas vezes na review porque infelizmente é inevitável a essa altura.

DISCLAIMER 2: Joguei no modo normal e o que eu falo aqui reflete apenas minha primeira experiência/run com o jogo, pouco me aprofundo no que ele oferece como action game.

DISCLAIMER 3: Vou falar bem pouco da parte narrativa do jogo porque não é algo que eu me importe muito.

Enfim, partindo pro jogo, caralho, que relíquia. A franquia, originalmente 2D e de nintendinho, acaba ressuscitando como um action-adventure pela Team Ninja em 2004 (ou 2005 já que eu joguei o Black)

E porra, pelo tanto de enfoque na exploração, no loot, na progressão metroidvania-esque e seu mapa interconectado, os caras criaram um combate surreal até mesmo pra época, visto que apesar de eu ter jogado o Black, o 04 lançou um ano antes de Devil May Cry 3, o "divisor de águas" de seu gênero (Character Action, num geral). Eu ainda tô devendo Dead or Alive mas o fato deles terem começado como uma desenvolvedora de jogos de luta deve ter influenciado bastante em como NGB foi feito.

Reverenciando um pouco mais DMC (why not?), vou usar como parâmetro aqui: Ninja Gaiden Black é como se DMC1 tivesse o combate do mesmo nível de qualidade do 3 mas com os pontos baixos do 2 (...desculpa)

Sobre DMC1: O mapa

Assim, eu ainda gosto mais de como DMC1 lida com sua própria estrutura e vícios por ser um "Resident Evil younger brother", o que apesar de ter (alguns) elementos que servem de rascunho para o que formula o gênero futuramente, se autossustenta sendo um ótimo jogo em seu próprio território. Ninja Gaiden Black segue uma narrativa parecida: focado na exploração e progressão por puzzles que por acaso acabou se firmando com um ótimo combate e seu design envolta disso. Diferente de seu/seus sucessores, o foco da progressão não se destaca apenas em encontros com chefes e inimigos, mas também com sua ambição em criar levels dignos de uma boa exploração.

O que denota minha preferência por DMC1 vai além da qualidade de ambos, mas uma solidez maior ao se apresentar como aventura. Não só denota meus problemas com NGB, como também sua pretensão em me provar, mais uma vez, suas qualidades honestas como um jogo de ação.

Num meio totalmente subjetivo eu diria que curto mais a forma em que Ninja Gaiden 2 se estrutura: linear com certos trechos de exploração e focado em manusear seu loop com o combate ao invés de tentar algo mais emergente como puzzles, seções de plataforma e exploração como combustível. É preferência minha, mas há quem sinta falta do mapa interconectado do primeiro jogo.

Deixando isso de lado - é inegável que NGB exerce muito bem o que diz respeito ao design de seus níveis. Tenho nitpicks, alguns bem sérios, tipo o fato dessa porra de jogo forçar platforming o tempo todo quando a movimentação do Ryu não se adequa 100% a isso, trechos e CAPÍTULOS em level aquático e alguns puzzles pouco intuitivos. Mas a o backtracking, enemy encounters, recompensa em loot e a progressão geral do jogo são geralmente cativantes o suficiente pra me animar por horas. Geralmente.

Essa abordagem à la Doom com diversos trechos e segredos mapeados de uma forma orgânica e integral dentro do jogo (I mean, tem área dos capítulos finais do game que abrem atalho pra área do começo do jogo) é de fato algo bem inteligente e coerente com seu loop de gameplay -- e de forma super enraizada, Ninja Gaiden Black é um dos jogos mais consistentes que joguei.

O ponto que me levou a compara-lo com DMC2 é a queda de qualidade em certos capítulos. Sigo me perguntando e imaginando como o Itagaki e a Team Ninja desenvolveram esse jogo, porque tanto ele quanto o 2 me dão um sentimento de que fizeram os capítulos em épocas completamente diferente com tempo, orçamento, disposição e ambiente distintos também (já que em algumas entrevistas o Itagaki menciona que NG2 passou por um devhell)

E apesar dos problemas ficarem mais aparente no segundo jogo (linearidade, trechos incompletos, bossfights imbecis e até alguns inimigos super mal polidos), eu acho que os pontos baixos do Black me incomodam muito mais... o capítulo 9 é o maior exemplo: tem uma bossfight contra dois (ou três? nem lembro) tanques e logo em seguida, contra a porra de um HELICÓPTERO. O único game que vi fazer isso antes, por incrível que pareça, foi Devil May Cry 2, vai tomar no * Itagaki

Capítulo 11 também é uma bosta, já que 90% dele é exploração e puzzles num level aquático e os controles underwater do game são horríveis, e se eu ficar de nitpick com o jogo a review inteira aqui vou acabar não fazendo jus à nota que dei pro jogo
(apesar de números serem meramente representativos). NGB tá longe de ser um game perfeito do início ao fim, assim como seu sucessor, mas acho que, nesse caso, eles lidam de forma diferente com suas próprias falhas: enquanto NG2 assume e as integra em seu core de gameplay, o Black acaba se desdobrando e achando um jeito de me surpreender novamente, como exemplo, o capítulo 10: logo após duas das piores bossfights que já vi na minha vida (a do helicóptero, principalmente), o game prossegue pra um dos levels mais interessantes e divertidos de explorar (que é o aqueduto) e acaba respirando, mais uma vez, se redimindo em frente aos meus olhos.*

Avançando pra última parte mas não menos importante do jogo: o combate.

Definitivamente o que eu mais curti jogando. Me surpreendeu num nível em que eu não achei que iria conseguir me divertir tanto, mesmo tendo voltado a jogar após NG2, mas que continuou se firmando como um dos melhores combates já vistos num action game.

Respeito muito como o título se expressa por uma abordagem diferente, em desafios mais inerentes à sobrevivência e eficiência do player, contrapondo os desafios implícitos, o enfoque estético e a filosofia de “escolha como derrotar seus inimigos!” de Devil May Cry.

Você é introduzido como um Ninja (duh) e o estilo de animações do Ryu acabam se assemelhando mais à artes marciais, casando bem com a temática e trama do jogo. A movimentação do Ryu com o Wall Running, o arsenal, as skills e projéteis (como a Shuriken) e os inimigos se situam no mesmo departamento, e provável que muito disso venha de tropes da cultura japonesa, mas não sou versado nisso o suficiente pra me aprofundar.

Ao longo do jogo o player se depara com diversos elementos fantasiosos e até contemporâneos (como a merda da base militar), convergindo diferentes gêneros dentro do jogo (e isso fica muito mais aparente no 2), e apesar de não dar a foda pra história e universo de Ninja Gaiden, acho muito divertido como o jogo se despiroca com esses elementos.

Voltando ao combate, gosto da forma como ele progride: é metódico, e até slow-paced se comparar com suas sequências, é super bem cadenciado tanto pelo design de inimigos do jogo quanto pela diversidade de mecânicas que vão moldando certa liberdade pro jogador descobrir seu playstyle, acho legal que por boa parte do game os inimigos se comportam como peças de xadrez, cada um tendo sua forma diferente de lidar numa linha de progressão bem gradual e bem gerenciada, o que eu pouco sentia no segundo jogo (provavelmente pelo quão desorganizado ele é). Apesar disso, eu ainda prefiro o design de inimigos e chefes do 2, pois no Black eu sinto muito do que eu gosto desse jogo indo embora em diversos trechos e capítulos, e acaba ficando amargo que na reta final do jogo tu basicamente só enfrenta ghost fish e pink fiends, em certas partes tu mal enfrenta inimigo (cap 11 é basicamente um Jolly Roger Bay, tem nem combate essa bosta) e outros incômodos que tive nessa run.

E mesmo assim, quando o jogo tá brilhando: ele diverte MUITO. Desculpa pros fromfags de plantão mas quem colocou o dodge no mesmo input do block com o analógico merecia um aumento da Tecmo. Quem enaltece e até cultua o combate de Sekiro por ser “mecanicamente deep” ou “skill-based” deveria jogar um pouquinho de Ninja Gaiden, não é querendo pagar de elitista nem nada (até porque provavelmente eu gosto mais de Sekiro lmao) mas o sistema de parry de NGB é mil vezes melhor. NG2, apesar de ser um contraponto, mantém a mesma filosofia que é, na minha opinião (considerando os dois que eu joguei), a base de Ninja Gaiden: “morrer mais devagar que seus inimigos” (obviamente não fui eu que criei essa frase icônica, favor darem uma olhada nesse vídeo incrível: https://www.youtube.com/watch?v=xBnIYXZ12BI)

Mas enfim, o que acaba me pegando mais no Black do que no 2, de certo modo, é proposital: o jogo é muito mais recompensador e satisfatório de jogar de forma reativa aqui. O 2 te encoraja a abusar da própria sanidade, dedos, mecânicas que podem parecer quebradas mas que estranhamente entram em harmonia com o resto do jogo, etc. Enquanto no Black, procurar brechas pra punir o inimigo logo após meia hora de gatilho segurado (ok não é pra tanto) é muito mais satisfatório pelo quão grounded e restrito o combate é. É provável que seja um sentimento comum ao jogar isso, mas os “limites” que NGB te impõe na real só contribuem pras nuances da gameplay do jogo, enquanto o 2 te dá uma liberdade maior em troca de ritmo. Apesar de ser em diferente escala, é uma reação parecida que tive ao jogar DMC4 logo depois do 3: o ritmo da campanha era open-ended até demais pro meu gosto.

Em algumas situações eu me estranhava jogando o Black pós-NG2 porque muitos dos sistemas do jogo foram aprimorados em sequência, como por exemplo o arsenal, que apesar de ser bem eficiente no Black, o 2 faz com que tu seja muito mais livre em descobrir seu estilo de gameplay e seus pontos fracos e fortes em cada situação com cada arma do jogo.

O sistema de cura também é algo a ser debatido, mas eu não mexeria no que o Black fez com os consumíveis, porque apesar de tudo, ainda é um jogo de aventura e muito da exploração acaba te recompensando com cura e ninpo pela simples e honesta curiosidade do player. A mecânica de Ninpo e os projéteis também foram aprimorados no 2 então é algo que eu levei mais como um “rascunho” do que como problema do jogo, assim como a falta de lock on: mesmo com a câmera zoada, o sistema de prioridades funciona muito bem no Black (que é basicamente o input de seus ataques serem programados de forma circunstancial, como por exemplo, proximidade: entre dois inimigos pertos do Ryu, ele vai sempre direcionar o ataque ao inimigo mais próximo, como um IS Ninja te encarando logo antes de tentar te explodir), mas acho que talvez um soft lock-on, pelo menos em bossfights, seria saudável pro jogo. No 2 seria impossível adaptar qualquer lock-on porque a implementação do sistema de prioridades é muito mais sofisticada pela adição de diversas mecânicas e padrão de inimigos que o Black não tinha, além do jogo ser infinitamente mais fast-paced.

O sistema de ranking é total rejeitável, pois serve exclusivamente pra leaderboards e não recompensa o player em absolutamente nada in-game.

Sobre os chefes: diria que é o maior defeito do jogo

Alguns demandam o uso do arco, outros tem padrões de bloqueio/desvio insanamente mal telegrafados (como a primeira bossfight contra a Alma), e há chefes que são terríveis por natureza mesmo (tipo o helicóptero do capítulo 9). Assim, lutar contra o Doku foi muito memorável e divertido, mas acho que não tem nenhuma outra luta que chegue perto dele no jogo então fica por isso aí mesmo. Não que o 2 tenha melhorado muita coisa, mas falar de bossfights em Ninja Gaiden é tipo falar de política no jantar com a família, sei lá


O que eu falei aqui não representa nem 10% da qualidade do jogo mas posso afirmar que, definitivamente, esse game é um must-play. Xemu é um emulador terrível, é melhor jogar pela retrocompatibilidade do Xbox One/Series, talvez vale até mais a pena comprar um Xbox original, jogar o 2 pelo Xenia ou até mesmo as versões Sigma (que não joguei pra recomendar com clareza), mas faça um favor a si mesmo se tu gosta de videogame e vá jogar Ninja Gaiden porque mesmo que eu tenha jogado só dois jogos, é definitivamente uma franquia especial a ser levada em consideração pra falar sobre action games. Não espere um Devil May Cry de ninjas ou God of War com mais sangue, mas sim um jogo essencialmente distinto com uma metodologia completamente diferente no core de sua gameplay.

No fim das contas, mesmo que NG2 seja "uma sequência com esteróides", eu acabo entendendo bem quem prefere o Black, justamente pelo quão opostos eles são e funcionam em suas metodologias.

Reviewed on Jan 07, 2023


9 Comments


1 year ago

Cara... que textão bom! Pela graça de Deus o jogo é retrocompátivel no XONE, então estou só esperando uma promoção nele. Btw, também irei do II pro Black, e depois jogar os Sigmas no Game Pass.

1 year ago

@Hunyoshi caralho, é verdade, tinha esquecido da retro. Vlw pela informação vou editar aqui


E boa sorte amigo, tanto o Black quanto o 2 são jogos excelentes, pretendo jogar o Razor's Edge e os Sigmas daqui um tempo tbm

1 year ago

esse jogo é ótimo , tem alguma opinião sobre ninja gaiden 3 ? pra min ele é péssimo

1 year ago

@Guilhermefma Não joguei o 3 ainda, mas pretendo jogar a versão Razor's Edge pq ouvi dizer q mudaram bastante coisa nela e que o original é uma merda KKKK

Quando eu zerar eu faço uma review aqui tlg

1 year ago

Pretendo jogar o 1, 2 e 3 baunilhas. Sem Black, Sigma nem nada.

Acredito que o 1 tenha retrocompatibilidade no X360 também, não?

1 year ago

@CDX tem sim, não cheguei a jogar o OG mas dizem que o Black conserta algumas coisas do jogo além de complementar com conteúdo que tinha sido cortado

O 2 é peak, meu action game favorito

1 year ago

Ué, achei que o Black fosse uma versão mais difícil, tipo "Ninja Gaiden pra viciados". Pelo menos foi o que ouvi falar na época que o Black lançou. XD

1 year ago

@CDX pior que falam que o original é mais fácil mesmo, mas o Black parece mais uma "definitive edition" doq qualquer coisa. Adiciona armas, inimigos, muda mecânica, sistema de dificuldade, etc
vc escreve muito bem,gosto muito das suas reviews.