Transistor, o segundo título da SuperGiant Games, o título subsequente a Bastion, o primeiro título da empresa, que foi aclamado pela crítica especializada. A obra conta uma visual estonteante, um trabalho focado em um escopo bem definido, uma jogabilidade diferenciada e uma história fragmentada e emocionante.

A obra conta com uma câmera isométrica característico dos ARPG, porém a jogabilidade segue mais para um caminho de batalha por turnos, onde os turnos são divididos pelos momentos que o Turn()(a mecânica de desaceleração do tempo) está disponível. É possível seguir para um caminho de ARPG ao não utilizar essa mecânica, mas é inviável considerando que o jogo apela para o gênero de estratégia. A obra também conta com o gênero de aventura com a personagem Red como protagonista da história.

É exposto um caráter direto durante toda a obra, desde o começo até o final, o ínicio é prático, Red ao acordar ao lado de um corpo perfurado por uma espada percebe que perdeu a voz e a espada torna-se a sua voz durante toda a jornada, ao longo da jornada é possível perceber que a espada, Transistor, é capaz de absorver a consciência das pessoas mortas, e a voz e a consciência que comunica-se com Red é a pessoa morta ao seu lado no começo do jogo. O jogador é posto em ação a todo momento, há sempre batalhas acontecendo na cidade dominada pelo “processo” que eram os robôs comandados pela Camareta, a criadora do Transistor, que o utilizava para controlar toda a cidade onde as pessoas vivem.

A trama perpassa pela vontade de Red resolver o problema envolvendo a Camareta e o “processo”, já que essa perde o controle dos robôs que matam e expulsam os habitantes da cidade aos milhares, o objetivo é encontrar os culpados e fazê-los parar o “processo” utilizando o Transistor que está nas mãos da Red. Durante a progressão da história o jogador descobre que há também um sentimento de vingança que ronda a obra.

A palavra chave que guia todo o rumo da história é Controle, a Camareta é composta por 4 pessoas que tem como objetivo controlar toda a cidade, para isso é necessário os robôs e o Transistor como a chave para todo o “processo”. A ideia de controle não passa somente por controlar os aspectos físicos - no sentido de conter agressões -, o controle vai a outros níveis, inclusive de eliminar pessoas que possam atrapalhar o funcionamento do sistema, isso fica claro nas histórias disponíveis ao desbloquear os dados das habilidades, diversas figuras importantes da cidade que ao divergirem de pensamento ou atitude do status quo somem ou morrem. O autoritarismo é exacerbado e supervisionado pela tecnologia, inclusive sobre a personagem principal Red, uma exímia cantora que ao desafiar o poder vigente de alguma forma é perseguida e perde sua voz no processo.

A história é apresentada de forma fragmentada, ela está disponível nos terminais OVC, nas descrições das habilidades e nos diálogos com o Transistor. É necessário juntar as peças do quebra-cabeça para que ele faça sentido no fim, o ponto interessante neste tipo de abordagem é aumentar o nível mistério que circunda a obra, e isso é aumentado com a exposição direta a jogabilidade e a frequência com que ela ocorre.

Há um caráter bem intimista na obra, Red está sozinha a todo momento, seus inimigos são robôs descontrolados que atacam qualquer coisa que se mova, a única companhia é o Transistor que “conversa” com a cantora. Apesar de haver alguns personagens possíveis de se comunicar, eles são escassos assim como a comunicação com eles, isso acaba por criar um caráter melancólico e de solidão durante toda a obra, o mundo criado pertence a Red, Transistor e aos robôs, e somente um dos três está vivo, a solidão ronda a proposta e torna angustiante toda a jornada vivenciada por Red, o final é devastador e dá sentido ao sentimento vivenciado durante todo o jogo, é dramático, doloroso e bonito ao seu modo.

Em relação ao desenvolvimento da personagem principal, ele é defasado propositalmente pela fato de ela se tornar muda, é difícil conhecer Red e entender o que passa por sua cabeça, a não ser em momentos pontuais onde é possível escrever comentários em comunicados nos terminais OVC, através do texto escrito pela personagem é possível conhecer algumas características de sua personalidade. Esse distanciamento da personagem traz para o primeiro plano da obra a relação entre ela e Transistor, toda a construção e revelação da relação entre eles, que vão dos momentos passados rememorados até as ações e conversas do presente, acabam por enfatizar ainda mais o final corajoso que a SuperGiant Games apresenta.

A jogabilidade é um elemento importantíssimo é muito bem trabalho pelo devs, essa mescla de uma ARPG com uma batalha por turnos traz desafio em graus moderados para obra, que inclusive conta com um nível satisfatório de dificuldade, nada demasiado para retirar o foco dos outros elementos que tem sua relevância, como a história, música e todo o visual. Achei fantástico a ideia das habilidades, tudo, da forma como são combinadas e utilizadas, do fato delas revelarem parte da história do jogo ao serem utilizadas de diferentes formas e inclusive do nome que possuem, a nomenclatura como funções de programação como Bash(), como se estivesse sendo chamado uma função para ser executada é fantástico, já que essa habilidade é utilizada pelo Transistor que a grosso modo é um chip. A utilização dessas habilidades também são geniais, sem precisar de grandes quantidades delas a SuperGiant Games consegue uma gama realmente gigantesca de possibilidades de builds, as habilidades sendo possíveis serem equipadas como principal/ativa, como secundárias com efeitos adicionais a principal ou como passivas abre um leque gigantes do que é possível fazer e como é possível fazer. E por fim, é fantástico a ideia ser possível descobrir sobre a história de quem aquela “função” pertencia ao utilizar a habilidade das diferentes formas: ativa/secundárias/passiva, pois isso instiga ao jogador a tentar diferentes builds simplesmente para conhecer toda a história da obra.

Um elemento de extrema relevância em uma obra de um cantora que perdeu a voz é a trilha sonora, e meus amigos, Transistor dá uma aula sobre isso, é simplesmente fantástico o que chega aos ouvidos de quem joga, estou viciado na música “The Spine” que toca ao encontrar o mural da Red pela primeira vez, a música é simplesmente maravilhosa, é um trabalho excepcional da desenvolvedora.

Esteticamente é tudo de tirar o fôlego, os cenários são lindos, muito bem trabalhados, as personagens são bonitas com características marcantes, é um banquete visual para quem consome a obra.

Concluindo, Transistor é mais um primor produzido pela SuperGiant Games, em aspectos técnicos é quase impecável, uma trilha sonora maravilhosa, um visual estonteante, uma jogabilidade diferenciada e uma história impactante. Mais uma vez a empresa mostra como utilizar os elementos da obra para reforçarem um aos outros, todos trabalham em conjunto para passarem a atmosfera ideal para a história ideal, é vivenciado uma melancolia, distanciamento, mistério que vão sendo corroborados ao longo do percurso da obra e por fim chocam positivamente o jogador.

Reviewed on Aug 22, 2023


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