quando eu fiquei sabendo que Hiroki Kikuta era viciado em ler tudo fez todo sentido

há uma inerente distorção na percepção de outras culturas vindo de qualquer lado do universo. se a gente adora atribuir "tradição e modernidade" pro japão, não é surpreendente que eles atribuam "samba, futebol e alegria" para nós. e sinceramente, não sendo simplista e nem racista acho que ta tudo bem, viver nesse mundão gigantesco é muitas vezes não entender os outros.

mas Koudelka quase que imediatamente começa citando Lord Byron, e ai começa a citar eventos reais da Inglaterra, lugares reais, escrituras e mitos ocultos, tribos ciganas, e eu não fico pensando que esse homem tinha algum tipo de reverência ao ocidente nem nada, não em um nível como o Kojima tem (affectionate), mas sim que esse homem é viciado em saber, em entender, em estudar e pesquisar. Koudelka lida com personagens e eventos reais junto de personagens e eventos que não são reais. é difícil terminar o jogo e não sair procurando se o monasterio Nemeton existiu mesmo em Wales, ou se existiu mesmo os documentos Emigre. é mais difícil ainda quando você descobre que um dos membros de sua party é alguém que existiu de verdade.

Hiroki Kikuta bebeu Wales e a Inglaterra inteira, integrou no seu jogo e criou uma das obras de realismo mágico que se passa no ocidente mais curiosas e únicas de todos os tempos. sei que Shadow Hearts segue o mesmo estilo, mas há uma finesse aqui que é difícil de ser replicada.

uma direção de cutscene que sinceramente deixa MGS com inveja, é uma pena que Koudelka esteja renegado a ser apenas "o precursor de Shadow Hearts" (a descrição do próprio IGDB e daqui é extremamente nojenta) porque há poucos jogos especiais dessa maneira que avançaram e influenciaram um meio artístico inteiro sem quase ninguém saber