Enquanto eu jogava Fez, sentia que apreciava um mero momento da vida, como uma memória antiga e confortável; o mundo é calmo, o silêncio natural reina e a falta de penalidade, cria uma agradabilidade ótima. Não existe aqui, nada que possa realmente punir o jogador, não existe sensação de frustração, os puzzles não são difíceis e muito menos, frustrantes, é apenas tranquilo.

Se pra Andrei Tarkovsky, o cinema não necessita de explicações, apenas provocar sentimentos no espectador - seja-lá qual for -, Fez para mim é um dos jogos que melhores cansaram isso. O final, apenas larguei o controle para apreciar o navegar pelas imagens líricas compostas, um trabalho de resinificação objetiva do primeiro Plano e último (não sei ao certo, se é correto chamar de planos a forma que a câmera mostra o mundo, mas enfim).

Fez, é conceitualmente simples: ao ganhar o poder de rotacionar o mundo, Gomez (protagonista), é enviando em uma jornada para encontrar os 32 cubos e impedir o colapso do mundo. Apesar do teor urgência, o foco aqui é puramente no silêncio e exploração, o tempo todo aqui, existe um incentivo pra olhar os cantos, ir até o limite e descobrir os mistérios; não tem nada mais interessante, do que entrar em um lugar e se deparar com um QRCode, que ao ler, te dá um código pra resolver um puzzle opcional. Tão esperto, a descoberta de uma nova dimensão por uma criatura bidimensional, dar ao jogador, criatura tridimensional, a possibilidade de manipular aquele mundo.

O tempo todo, esse game parece querer brincar com a mídia, soando até meta em alguns momentos, como um mapa opcional composto por bug de tilemap (imagem com todos os sprites de um jogo). Contudo, o brilho tá na simplicidade de apenas andar por aí, atrás de cubinhos pra formar um maior. Além do idioma "cubico", que existe aqui, que são completamente traduzíveis em uma busca pelo significado dos desenhos; que ajudam a resolver alguns enigmas ou ler falas curtas de NPC's.

Elementos que geralmente me estressam, aqui são tão bem usados, que chega a ser fascinante. Andar mais para ter impulso de chegar em outra plataforma, é tão bem elaborado, na verdade, todos os leveis são belos e agradáveis de jogar, que dá um toque sensível pra tudo.

Sensível; sim, é a palavra certa pra descrever esse game. É de uma imensa sensibilidade e espertes, tudo está ali para evocar uma emoção, uma tranquilidade, um silêncio. Em um mundo tão vivo, com outros personagens para se ter conversas rápidas, mas que mesmo assim, marcam e a arquitetura, singular e chamativa de um povo dimensional. Tudo evoca uma beleza.

Se a mise-en-scéne do cinema clássico, buscava o equilíbrio de todas as ideias, para formar uma unidade, Fez, realiza isso com uma proeza admirável. Tudo perfeitamente planejado e posicionado, cada mapa evoca ideias e pensamentos, tudo é singular e lindo, que leva para uma conclusão bela que dá uma nova dimensão para esse jogo.

Reviewed on Aug 04, 2023


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