A coisa mais interessante pra mim da trilogia Arkham é como a Rocksteady abraça as idiossincrasias que te fazem perceber na hora que esta jogando um videogame ao invés de tentar criar um realismo, isso pode ser escolha do estúdio ou algo único que só funcione num jogo com o homem-morcego, de qualquer forma, ao invés dessas peculiaridades te fazerem não levar o jogo a sério, elas causam o efeito contrário, pois o jogador também aceita com sinceridade todas essas pequenas coisas porque elas se apresentam dessa forma, sem querer fugir das coisas que tornam Arkham City um videogame, a Rocksteady sabia que jogo eles queriam fazer, entre a sinceridade dessa apresentação e o potencial do herói com o melhor grupo de vilões da DC reside uma das melhores experiencias únicas da indústria.

Embora Arkham Asylum seja o meu preferido da trilogia pelo ambiente claustrofóbico e o uso de alguns truques, é inegável como o Arkham City é superior em quase todos os aspectos, o combate ficou mais visceral, rápido e viciante, você se pega o tempo todo querendo variar seu combo, usar movimentos especiais pra desarmar oponentes, nocautear, usar os gadgets ou simplesmente ver quão alto aquele multiplicador de combo pode chegar, ao mesmo tempo há mais componentes que ajudam a dar uma leve profundidade ao combate que pode ser resumido em “aperte △/Y pra ver a animação legal”, os inimigos tem escudos, facas, bastões de choque e armadura, cada um precisando de uma técnica especifica pra ser derrotado, e embora você possa derrotar todo mundo apenas apertando o botão de ataque até cansar, a Rocksteady fez de tudo pra incentivar o jogador a levar o combate com calma e ser algo além do ato de esmagar botão, há inclusive uma mecânica de golpes críticos onde você aumenta seu multiplicador de combo 2x mais rápido se golpear num ritmo calmo, como eu disse, é uma leve profundidade que se você praticar, vai tirar um proveito maior de algo que já te dá uma satisfação simples.

Eles criaram um ótimo balanceamento entre as seções de combate e as seções de predador, essas em particular são as minhas favoritas, e foi o motivo de eu ter reinstalado o jogo em primeiro lugar, eu simplesmente adoro a evolução que essas seções criam, com os capangas trabalhando em equipe e falando convencidos de que vão te pegar, até que eles começam a ficar nervosos, aterrorizados e nem conseguem trabalhar juntos mais, é um pouco fácil e uma fantasia de poder barato? Sim, claro, essas seções não se comparam a outros jogos que focam no Stealth porém eu argumentaria que comparado a outros jogos que, assim como o Arkham City, apenas tem elementos de Stealth, o mesmo consegue oferecer uma experiência mais intimidadora, você pode argumentar que eles conseguiram isso por causa de estarem trabalhando justamente com o herói cujo trabalho é causar medo em malfeitores, mas a indústria não é nenhuma estranha a fantasias de poder.

Do mesmo jeito que o combate aumenta os riscos com novas ameaças, também aumentam as desvantagens contra o homem-morcego durante as seções de predador, com óculos de visão térmica, minas terrestres, anuladores de visão de detetive e inimigos com armadura, as ameaças não são tão tangíveis que nem no combate, pois a solução pra quase tudo nessas seções é simplesmente chegar por trás e derrubar o inimigo, o desafio e entretenimento pra mim está em fazer tudo sem ser visto e/ou de forma rápida e variada, afinal ficar em uma gárgula por 15 minutos esperando o capanga ir pra onde você quer fica chato rápido, o jogo quer que você tente algo novo a todo momento, mas se você quiser repetir a mesma fórmula toda vez, o jogo não te pune, mas é um sistema que implora pra ser experimentado.

Eu compartilho da opinião que os jogos do Batman funcionam melhor em ambientes mais fechados e acredito que esse mapa é o tamanho ideal, é grande o suficiente pra você levar alguns minutos indo de uma ponta a outra mas o tamanho certo pros desenvolvedores colocarem bastante coisas e te dar a sensação que você pode esbarrar em qualquer situação, eles também mudam o mapa aqui e ali conforme a campanha progride, pontes vão cair, prédios irão explodir e uma chuva de misseis pode estar caindo na prisão Arkham na próxima vez que você sair de um prédio, uma igreja que você visitou pra resgatar reféns pode estar com uma decoração do charada te convidando a entrar, são coisas pequenas mas elas em conjunto ajudam a dar a sensação de que você está num lugar hostil onde você não sabe oque esperar.

Embora eu goste de histórias emergentes, Arkham City podia ter aproveitado muito mais do material que tinham, a introdução é na minha opinião a melhor da trilogia, os riscos, assim como boa parte dos antagonistas e outros personagens, são rapidamente apresentados e você imediatamente sente o escopo e o poder de Hugo Strange, porém, essa sensação de medo e poder nunca atinge esse mesmo ápice, Strange sabe a identidade do Batman mas ele nunca usa isso a seu favor, perto do fim do jogo, a trama dele acaba virando algo secundário em comparação ao conflito do Coringa, até o comandante imortal de uma legião de ninjas que viveu por 600 anos é deixado de lado aos 45 do segundo tempo pra dar espaço pra uma última luta com o icônico palhaço, eu não me importaria tanto com isso se essa realmente fosse a última vez que ele aparecesse. Acho que no fim das contas, eu apenas fiquei decepcionado que Arkham City não se aproveitou mais dos seus vilões pois o Batman tem a melhor lista de antagonistas aí fora, dependendo de como você olha, isso é um elogio e/ou uma crítica.

Batman Arkham City veio como uma surpresa quando saiu e continua tão bom quanto hoje em dia, é o produto de uma desenvolvedora que sabiam oque queriam fazer e que criaram uma experiencia que só podia existir em um videogame, trazendo uma história competente acompanhado por uma gameplay que apresenta o melhor da ação e do stealth, Arkham City é uma obra-prima.

Reviewed on Oct 10, 2023


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