“Resident Evil 4” é tudo isso e ainda tem estilo

Jogar jogos de terror pra mim sempre foi complicado, pois quase todos os jogos começam da mesma forma, com uma lentidão pra ir construindo aquela atmosfera, aquela aflição que a gente conhece bem, e essa construção inicial era sempre chato demais para eu aguentar, alguns jogos porém, conseguiram me prender mesmo com esses começos convencionais (e.g. Dead Space, Outlast e Alien Isolation).

Resident Evil não era diferente, já testei vários deles mas nunca terminei algum além do Village, mas com o RE4 Remake ganhando o coração de todo mundo, decidi tentar mais uma vez o Original, dessa vez com HD Project instalado, e antes que eu entre em detalhes, não vou explicar o porque RE4 foi tão importante pra indústria, tem gente por ai que consegue explicar isso muito melhor do que eu e todo mundo está cansado de saber porque RE4 foi tão importante, se você jogou qualquer jogo de ação em 3° pessoa, foi por causa desse jogo, essa review é mais um conto pessoal da minha experiencia com o jogo.

Eu sou alguém que cresceu acostumado com controles modernos da sétima e oitava geração de consoles, por isso que a primeira instancia, a movimentação de RE4 pareceu estranha e travada, como que um jogo com controle de tanque ter sido tão importante em jogos de ação em 3° pessoa? É simples, RE4 é feito, é construído em volta dessa movimentação, todos os inimigos são lentos e não muito agressivos e contanto que você mantenha uma distancia entre eles não há com oque se preocupar, mas esse conceito é explorado até o limite, mesmo com quase 20 anos desde que lançou eu fiquei impressionado com a tamanha variedade de inimigos e chefes, nas primeiras 5 horas o jogo já tinha mostrado tanto inimigo diferente e tantos encontros únicos que não achava possível o jogo continuar nesse ritmo até o final, mas ele continua, e chega a ser cômico, no começo você vai estar enfrentando fazendeiros com foices e machadinhas em uma vila rural pra no final estar lutando com um super soldado em cima de uma torre antiga armada com explosivos. Existem até algumas singularidades que você não vê em jogos hoje em dia, os Quick Time Events no meio de uma cutscene me pegaram desprevenidos mais de uma vez.

Eu achava que, como RE4 foi um pioneiro nesse estilo de ação em 3° pessoa, ele ia carecer de momentos memoráveis ou de um combate mais desenvolvido, mas eu estava enganado, parece que o Shinji Mikami e a Capcom estavam acostumados a fazer esse tipo de jogo há anos, todas as armas tem um uso e todos os inimigos tem uma fraqueza. O jogo está sempre te colocando em situações diferentes pra te pegar desprevenido, o Garrador por exemplo, um inimigo cego que te localiza através do som, tem garras que nem o Wolverine e só pode ser morto se for atingido em uma parte exposta nas costas, no primeiro encontro você tem sinos para atrai-lo e bastante espaço pra escapar dele, após certo tempo o jogo vai te colocar pra enfrentar mais um Garrador, em uma jaula pequena, sem nenhum sino, e com inimigos do lado de fora atirando flechas em você e dando a sua posição, e depois de um certo tempo você vai encontrar dois de uma vez com mais armadura, mesmo que os inimigos sejam familiares, as situações são diferentes e desafiadoras, sempre aumentando os riscos e as apostas, de forma elegante.

Há um balanceamento de ritmo perfeito aqui, o Mikami sabe exatamente quando diminuir a ação e deixar o jogador se acostumar com os sons ambientes para de repente aumentar tudo em um segundo, deixando o jogador sempre atento mesmo que ele esteja seguro. O jogo tem a habilidade de flutuar entre bizarro e inquietante pra essa ação bombástica e implacável, e essa é a maior qualidade do jogo na minha opinião.

A história de RE4 quando resumida parece infantil e genérica, mas é a forma que o jogo apresenta ela que a torna tão interessante, o jogo é auto consciente da sua cafonice e se apoia nela, entregando todas as falas com 100% de sinceridade, além disso tem muita personalidade em tudo, tem o Leon que tem um tom badass que não se surpreende com nada e adora falar frases de filmes de Hollywood, ou o mercador australiano que aparece nos lugares mais estranhos sem ninguém questionar a sua existência, ou até mesmo o anão que se veste que nem napoleão.

De certa forma, eu fico feliz que RE4 passou por tantas reiterações, pois depois de aprender com os erros de vários projetos combatendo diferentes abordagens de um jogo de terror, o resultado foi uma classe mestre de uma obra que mistura horror e ação pontuado por uma história de filme B com atuações cafonas e estilosa

Reviewed on May 04, 2023


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