A premissa que mobiliza a condição dramática e emotiva do jogo é bem palpável e efetiva, por ser um jogo massivamente esvaziado e instrumentalizado para aparatos linguísticos e modus operandi diversos pela extensão e solidificação cultural de The Last of us, a mim, o jogo se ressoou em uma provação de valor e de ressignificação do movimento real de suas propostas. Sinceramente, a estética de Last of Us me parece desencontrada, exercendo em sua poética uma emulação exógena da potencialidades de outra linguagem sistemática: o cinema. E por conta disso, a dissonância direta das imagens interativas intuidas no substrato do jogo que pressupõe a condição da ludonarrativa, se internaliza e asfixia-se cronicamente por toda a integralidade do jogo, mas isso de forma alguma é uma expressão fatal dos circuitos narrativos do mesmo e tensiona e confronta mesmo que acidentalmente uma concepção hermetica da arte, definitivamente, não tão bem executada quanto outros jogos que flertam com um storytelling cinematográfico. Acredito que os sentidos procriados que são prole das relações e intertextualidades diversas, o que mais me interessa é o conflito geracional projetado em Joel e Ellie, que por conseguinte, demarca uma dialética do conservadorismo contraposto ao progressismo, dado que Joel em sua perambulação de violência mundana e transgressões das vontades alheias em certa medida, fadando o mundo e asfixiando qualquer esperança quando apreende a Ellie sem permitir sua função social de salvação coletiva consumasse uma nova percepção e organização social do mundo, um novo âmago existencial do devir da civilização posta em The Last of us. Mas isso, mesmo que cabível ao espectro do jogo, me é dissonante, porque mesmo a função social demandada da Ellie por ser a única capaz de salvar a humanidade, reflete intertextualmente um hiper-individualismo tipicamente de uma genealogia ocidental e redutiva de entender nessa expressão excludente algum anseio de reconstrução, mas também é contraditório, dado que instrumentalizariam a Ellie para a reconstrução do mundo, e não de um novo mundo, a pretensão de regredi-lo a uma condição normativa que partilhava a legalidade do mundo passado e excedido, ou seja, a Ellie era uma manutenção do status quo retrógrado tanto para Joel, quanto para os vagalumes que incitava a salvação, por mais moralmente conflitante é a escolha final e fatal de Joel no fim do primeiro jogo, a narrativa pelo menos entende a Ellie como um sentido anacrônico, tocável mas distante e se redime no segundo jogo, matando Joel mas também todas as amarras simbólicas de uma geração autofagica e estática no tempo, seja Joel ou os vagalumes, a Ellie compreende isso ao fim do segundo jogo na dialética emergente contra a Abby que, coercitivamente, transgride esse espectro e ressignifica politicamente o que é The last of us pelo menos até o momento vigente, um retrato do movimento contraditório e violento das disputas gerações no imagético de um mundo destruído e demandando de uma nova direção social, existencial, politica e cultural.

Reviewed on Nov 19, 2023


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