Nunca fui uma criança muito voltada para contos de fantasia, meu amor sempre foi pelo estranho, desconfortável e por isso, passei grande parte da minha juventude lendo contos de terror, deixando pouco espaço para Alice no País das Maravilhas. O ponto positivo disso foi que tive a chance de experimentar Alice com um olhar puro, sem esperar nada e ao mesmo tempo esperando algo (e não fiquei decepcionada).

Alice: Madness Returns é uma sequência direta do American McGee's Alice e isso significa uma recomendação (obrigatória) para jogar na ordem. Infelizmente, não tive paciência pra tentar o primeiro ainda, então diversas referências e piadas foram perdidas, ao mesmo tempo que personagens conhecidos passaram despercebidos, porém mesmo sem entender muito do mundo instável de Alice, consegui me adaptar muito bem.

O enredo é algo bem bruto e o que se espera de uma versão gótica, sensível e mais realista da ideia de Wonderland. Apesar de clichê, Madness Returns trata de uma maneira bem diferente os temas de depressão, abuso e principalmente: trauma.

Não estou tentando passar a questão como um exemplo, longe disso, porém a forma como mostraram a Alice recuperando sua possível estabilidade inicial foi bem diferente do que temos disponível em grandes mídias, abrindo espaço para uma obra única.

Em relação aos personagens não tenho reclamações, todos bem diferentes seja em diálogos, animações e caracterizações. Isso reflete também nas roupas que a Alice veste durante os capítulos, capturando ainda mais a individualidade e importância de tais personagens.

Não posso esquecer de destacar o ponto mais importante que é a ambientação. Todos os capítulos se passam em locais completamente diferentes, o que novamente constrói ainda mais a ideia de importância. Além disso, é bem interessante observar como a cada novo ambiente a mente de Alice vai se deturpando e se tornando mais macabra ao ponto de nos perguntarmos se estamos realmente “evoluindo”.

Esses ambientes também nos mostram como a protagonista observa seu mundo e em como um trauma cria situações desconfortáveis tanto para quem está diretamente relacionado quanto para o observador, o fato engraçado é que esse ponto de desconforto conseguiu criar uma das ambientações mais interessantes e marcantes que eu já vi.

Infelizmente, o jogo não possui músicas marcantes e isso se tornou um problema enorme que acabou se atrelando ao principal aspecto negativo: sua duração.

Não sei ao certo o que os desenvolvedores queriam fazer, mas cada capítulo possui em média 3 horas de duração, totalizando 15 horas de campanha principal. E isso pode não parecer, mas conforme a exploração maior a repetição, fazendo o jogo se tornar maçante na reta final de TODOS os capítulos, sem falar nos desafios diferentes que apareciam e que no final não prestavam para absolutamente nada.

Pelo fato do jogo ser antigo já é de se esperar bugs, principalmente vindo de um jogo mais velho da EA que sabemos não ser a melhor em relação ao port. Felizmente não tive muitos problemas tirando algumas coisas em relação ao pulo que falhava algumas vezes e aos pequenos problemas de carregamento.

Alice: Madness Returns se tornou um queridinho meu e mesmo com todos os problemas acredito que essa seja uma das melhores adaptações de um conto. Uma pena a EA não ter interesse em investir em obras como essa.

Reviewed on Jan 07, 2023


2 Comments


1 year ago

excelente review!
ja havia começado esse game, tava gostando bastante, bem esses pontos positivos que vc destacou...porém eu travava muito em algumas partezinhas, nao sabia pra onde ir nem oq fazer. acho legal ter um certo desafio mas na minha opiniao quebrou MUITO o ritmo do jogo.
ainda preciso dar mais uma chance ao game, e a sua review foi muito importante pra isso!

1 year ago

@razi A forma como escolheram fazer a progressão desse jogo é muito estranha mesmo, alguns puzzles você passa quase 30 minutos só pra entender e tentar passar e outros eles não explicam algumas mecânicas, deixando o jogador sozinho pra pegar a ideia.
Não é um sistema ruim, só mal aproveitado e pouco desenvolvido. Porém, conforme você for jogando vai pegando a lógica e nas partes finais o negócio já tá na sua mente de uma forma que os desafios se tornam mais enjoativos do que difíceis.