Após o lançamento do primeiro RE houve uma leva de jogos que tentaram seguir a mesma linha para pegar uma parcela do sucesso. Os tais clones de Resident Evil, como alguns iriam chamar, foram um dos elementos da quinta geração. Apesar do nome desqualificador, que desmerece as originalidades dos Survival Horrors subsequentes, reflete bem essa tendência pós RE. Deep Fear surge nesse contexto em meio ao Sega Saturn, pegando diversos elementos de RE, porém ao invés de simplesmente meter um cópia e cola no fodase, Deep Fear busca se manter original mesmo se baseando fortemente em RE.

Deep Fear se inspira muito no cinema, mas ao invés de fazer como em RE, se inspirar nos blockbusters do momento, há uma forte inspiração em filmes seletos de terror subaquáticos, como Leaviathan de 1989 e The Rift de 1990. Sendo bem honesto, eu simplesmente não vi nenhum desses filmes, mas é bem explícita na narrativa essa inspiração no cinema, desde diálogos clichês até reviravoltas já esperadas. As cutscenes desse jogo são absurdas, mesmo sendo aquele 3D na época ainda há muito charme e criatividade por trás, há momentos em que eu simplesmente falei “nem fodendo” devido ao quão criativo são as situações postas. Aprecio para um caralho essa tentativa de trazer essa experiência do cinema para os jogos, não no sentido de tornar jogos em cinemas, mas de trazer as sensações e os charmes dos filmes para os jogos. Resident Evil 6 é um puta exemplo disso; se inspirar em uma caralhada de blockbusters dos anos 2000 e fazer uma experiência de pura adrenalina foi foda para um caralho (e infelizmente incompreendido). Esse foi um dos aspectos que me fez apreciar Deep Fear, e o que de fato me manteve jogando. Outro aspecto único de sua narrativa é como ele aborda o contágio. Sempre há aquela sensação de invulnerabilidade e de que algo muito ruim vai acontecer a cada encontro com os personagens. Isso me lembra bastante do mangá Gantz, que aposta da violência exagerada para criar uma sensação de invulnerabilidade e de ansiedade. Deep Fear não aposta na violência como em Gantz, mas no próprio vírus; todo mundo pode estar infectado e a qualquer momento virar um monstro.

Além disso, Deep Fear possui sistemas bem bolados e únicos. O sistema de oxigênio é o que dá singularidade na gameplay. Não só é bem construído, de forma a acrescentar à tensão sem necessariamente ser irritante, como é criativo na maneira como ele interage com os inimigos e com as armas. É bem inteligente a principal fraqueza dos inimigos ser oxigênio, engajando o jogador a sempre manter níveis altos de O2 para tornar os combates mais fluídos, e do mesmo modo é sagaz a ideia de diminuir o nível de O2 com o uso excessivo de armas de fogo. E falando em armas, Deep Fear foge muito do tradicional e impõe um gerenciamento de recursos ilimitado, oferecendo recargas infinitas de munição e de curativos. A princípio parece tornar o jogo relativamente fácil, porém ele é bem balanceado para isso e constantemente oferece inúmeros encontros com os inimigos. Isso sem dúvidas torna Deep Fear um Survival Horror com bastante ação, indo de contra ao combate do primeiro RE, que engaja mais a fuga do que o encontro. Nisso é válido citar como o sistema de combate é delicioso. O fato de poder andar e atirar ao mesmo tempo já é um puta mérito, fugindo daquele combate clunky tradicional de “Survival Horrors”. mesmo mantendo o “Tank Controls”.

Apesar disso tudo, mesmo apresentando um level design bacana, dividido em áreas, no disco 2 o jogo força um backtracking demorado e absurdamente chato, que me fez brochar pra porra. Isso se dá em razão da quantidade gigantesca de corredores e elevadores que há nesse jogo, forçando você a passar por DIVERSAS telas de loading. Sem dúvida não seria um problema se tivessem corta caminhos, mas infelizmente não há, ou seja, se prepara para uma experiência extremamente entediante. Sem falar que depois surgem uns inimigos extremamente “Bullet Sponge” e estupidamente irritantes. Agora mescla “Level Design inflado” + “Inimigos chatos”, o resultado sem dúvidas vai ser uma puta frustração. Em grande parte isso acontece a partir do disco 2 (amém), entretanto, como eu mesmo mencionei antes, foi brochante ver isso tudo. Mesmo assim a reta final de Deep Fear é muito boa, e tem alguns dos momentos mais criativos do jogo.

Em síntese, Deep Fear é um Survival Horror bem consistente e original. Chamar ele de “Clone de RE” é bem depreciador. Há a suas fortes inspirações em RE, porém servem mais como base para a originalidade que há. Em conclusão, gostei da experiência de Deep Fear, gosto de jogos criativos como ele. Apesar disso não foi um Survival Horror que clicou pra caralho comigo como Silent Hill e Fatal Frame, mas ainda assim foi uma experiência interessante.

7/10

Reviewed on May 27, 2022


2 Comments


1 year ago

master virou crítico de jogos wtf?

1 year ago

quero isso no GDH