Da opressão à liberdade, e da vida à morte. A catarse que Dujanah propõe é inerente ao mundo, e portanto à experiência. No início o autor fala: “o tema recorrente da obra é a catarse”; vago: catarse pode ser compreendida sob uma perspectiva de purificação ou de tragédia, porém a grosso modo Dujanah de fato aborda sobre catarse. O começo é catártico; o súdito desaparecimento nos assola como um choque. E a partir daí começa a nossa tragédia em meio aos conflitos do Oriente Médio, provindos de um capitalismo predatório e desumano. O final, catártico; apenas restaram ossos. E assim termina a tragédia de Dujanah com um sentimento dessolador, que impregna todos àqueles que vivem naquele mundo em ruínas na mão de um sistema opressor.

A verdade é que tudo o que eu disse; toda a perspectiva, ou melhor, a porra da minha interpretação, foi simplesmente manipulada por uma das 5 openings randômicas de Dujanah acerca da principal temática da obra. Uma fala sobre existencialismo; outra de identidade; enquanto uma terceira (ou quarta?) diz que é sobre a morte. A real é que Dujanah aborda sobre todos esses temas. Porém essa metanarrativa - a qual eu costumo chamar de “gozo do autor” -, me leva a crer que Dujanah é uma obra sobre interpretação; sobre a subjetividade da arte, e por fim da morte da objetividade. O que vemos é uma obra autoconsciente do que ela é: um jogo. E, portanto, ela acaba extrapolando as próprias paredes; trazendo uma inconsistência para articular uma coerência: a subjetividade. Dujanah é um jogo que busca dialogar com o jogador utilizando todos os meios possíveis, e eu aprecio isso pra caralho. É também uma obra que faz parte de uma bolha de jogos metanarrativos, como as obras do Daniel Mullins (Inscryption e Pony Island).

Outro aspecto interessante de Dujanah é a pessoalidade que há nela. A obra emana esse sentimento de frustração e angústia em relação ao mundo; um senso que, sem dúvidas, todos nós compartilhamos. Dujanah, nessa perspectiva, torna-se uma obra do autor, ou melhor, um meio pelo qual o autor derrama todas as suas decepções e todo o seu ódio ao mundo. Algumas são acerca da indústria do entretenimento; outras, em larga escala, a respeito do cenário político atual. Em síntese, como posto em uma outra review, Dujanah é um funil do autor.

Honestamente, Dujanah é um jogo interpretativo; se quer conhece-lo, bem, jogue.

8/10

Reviewed on Jun 24, 2022


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