He Fucked The Girl Out of Me é uma experiência trágica e impactante sobre assuntos importantes. Esse é um jogo narrativo de gameplay minimalista que conta sobre as dificuldades da criadora durante a sua transição, de forma semi-autobiográfica. Isso é obviamente uma história trans e não serei um daqueles caras cis que dispensam esse tipo de narrativa por não se identificar com as situações. Os temas abordados são bem pesados, sendo esses sexualidade, prostituição e trauma. A dor que é transmitida pela narrativa é bem palpável, e ver como as tragédias da protagonista se desenrolam é deprimente. Ela não só sofreu com o preconceito com a sua identidade, mas também teve que recorrer à prostituição para pagar pelo seu sonho, com a sua saúde mental deteriorando e como os outros a desumanizam, vendo-a apenas como um objeto sexual. Mesmo que a narração e os diálogos não sejam super elaborados, eles fluem com muita naturalidade, sendo claros, concisos e não precisando descrever com tantos detalhes (como na maioria das Visual Novels). Outra coisa que me agradou, foi o seu senso de autoconsciência, com a narração humildemente admitindo que não mostra absolutamente todos os eventos de sua vida e que esse jogo não deve ser usado pra demonizar profissionais do sexo, e sem ser intrusivo. Outra qualidade é a sua direção de arte. Os visuais são um 2D 8-bits de Game Boy (tanto que a página do jogo até disponibiliza uma ROM pra jogar em emulador), que apesar de simples, captam bem as emoções das cenas e são bem compostos. Se tenho algo a reclamar, é o seu uso de trilha sonora. O jogo dura meia hora, e durante todo esse tempo não houve nenhuma música e teve apenas 1 efeito sonoro que me pegou desprevenido, e mesmo sabendo que o chip sonoro do Game Boy é limitado, não acho que seria impossível fazer músicas tensas que combinem com ele. Esse jogo é importante, por demonstrar facetas da realidade trans que não são muito discutidas e ser um bom exercício de empatia, e não importa se quem tiver contato for trans ou cis, ele é capaz de tocar em qualquer coração.

Prós: Visuais bem compostos; Tópicos abordados com a maturidade que merecem; Fluido e conciso no seu texto; Momentos autoconscientes que não são intrusivos.
Contras: Trilha sonora ausente (exceto por um único efeito sonoro)

Reviewed on Nov 21, 2022


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