Em um console cujo controle tem três botões para inputs de ação (A, B e C), você consegue imaginar usos óbvios para dois deles em jogos de corrida: aceleração e freio. A finalidade do terceiro botão fica a cargo dos desenvolvedores. Aí está a primeira surpresa de Road Rash: você pode ganhar a corrida "trapaceando", dando socos e chutes nos outros competidores para ultrapassá-los mais facilmente.

Mas é um risco interpretar isso como uma solução criativa para o que, hoje, é visto como limitação tecnológica. Road Rash é um jogo sobre corridas ilegais (RACHADORES!), então faz sentido impulsionar esse elemento de ilegalidade com violência, perseguições policiais e recados grosseiros dos demais corredores entre uma pista e outra (Pick up the pace, Junior).

Eu gosto desse jogo, de fato, por outros detalhes sutis. A presença de um espelho retrovisor no HUD é uma escolha que sabiamente foi mantida do primeiro Road Rash, e ela adiciona pressão e realismo ao mesmo tempo. Você pode ficar de olho em oponentes que se aproximam, antecipar ataques, mas também pode se sentir recompensado por ver os ultrapassados ficando cada vez menores. E eu digo que é realista não por "imitar" a realidade, mas porque motos tem retrovisores, então trata-se apenas de corresponder a uma expectativa e torná-la adequada ao jogo (afinal, eles continuam lá mesmo que você esteja a pé, correndo para recuperar seu veículo -- outro detalhe "realista", nesse sentido). A sensação de empurrar um motoqueiro contra um carro e assistir ao espetáculo do desastre pelo retrovisor era um momento tão sublime quanto cruzar a linha entre os três primeiros e ouvir o "yeah!" do seu personagem.

Para balancear o realismo dos espelhos, Road Rash opta por deixar como default a trilha sonora se impondo sobre o ronco dos motores. Aí, surge a pergunta: silenciar as máquinas a favor da música tem efeitos a longo prazo? Em outras palavras, Road Rash II influenciou meu gosto musical?

Road Rash tem uma escalada de dificuldade íngreme. Dois fatores contribuem para isso: à medida que você se qualifica nas 5 pistas, seus oponentes ganham motos melhores e são mais difíceis de alcançar. Mas você também pode comprar outras motos, o que também contribui para testar sua habilidade de manter o controle e fazer as curvas que se revelam nas pistas cada vez mais longas. Então você mistura esses elementos (velocidade, oponentes, sinuosidade e duração) em uma progressão de desafios que tornaram Road Rash II, para mim, um objetivo sempre inalcançável. Eu cheguei ao nível 2 na minha infância, no Mega Drive, e agora, enquanto adulto e com um emulador rodando o jogo, eu entendo que, aqui, esse é o meu nível. Pelo menos, rolou dar uns belos socos e correntadas.