This review contains spoilers

Isso vai ser tão longo quanto uma espiral infinita.

Primeiramente, eu tenho que começar dizendo o quanto eu amo todo o universo de Alan Wake, desde o seu primeiro jogo que eu experienciei quando eu ainda era uma criança. Foi incrível, uma experiência realmente inesquecível, mas que com os anos foi se perdendo, a memória foi enchendo de outras coisas e assim, Alan Wake se tornou apenas um fragmento perdido de mim.
Muitos anos depois, em 2019 eu tive a oportunidade de retornar para esse universo em Control, entretanto minha experiência foi péssima, eu não consegui me divertir em nenhum sequer segundo daquela apresentação de slides em qualidade porca que o Xbox One conseguia apresentar, além da gameplay extremamente insatisfatória que eu tive jogando no controle.
Isso perdurou por muito tempo na minha mente, a única memória recente e fresca de algo que eu amava tanto era um jogo que se passava no mesmo universo e que infelizmente eu odiava até o fundo do meu ser...
Os anos passaram e eu me recusava a sequer encostar em Control novamente, Alan Wake ainda continuava sendo uma memória passageira, mas 2021 chegou com o trailer de revelação de Alan Wake II e algo dentro de mim despertou.
Uma memória do pequeno callel na frente do seu Xbox 360, atravessando Bright Falls sem entender metade do que os personagens diziam, mas mesmo assim se encantando com tudo que passava, eu me lembrei daquele jogo que eu tanto amava e assim eu rejoguei seu início na Steam, foi divertido, mas logo eu joguei de canto, tinham outras coisas pra jogar e na época meu notebook era uma desgraça que não rodava nada e eu não pretendia comprar Alan Wake no Xbox One.
Assim o ano passou, eu finalmente comprei meu desejado PC gamer e deixei o console de lado pelo resto dos seus dias (até esse fim de semana de Natal em que eu viajei pra casa da minha vó e levei o Xbox para não ficar no completo tédio), eu finalmente poderia revisitar Alan Wake... Caso eu não tivesse o enterrado novamente, além de que era 2022, minha mente estava mergulhada em Elden Ring, aquele jogo simplesmente consumiu meu ano.
Felizmente o tempo passou novamente e chegamos no fatídico ano de 2023, bons anos depois do pequeno callel ter jogado Alan Wake pela primeira vez, 4 anos depois do jovem callel ter odiado sua experiência com Control, o ano de lançamento de Alan Wake II. Eu havia me relembrado do jogo e toda aquela memória de amor (por Alan Wake) e ódio (por Control) voltava igual um foguete, mas então chegou dezembro.
Natal, época de felicidade, eu decidi passar alguns dias na casa do meu primo, jogamos algumas coisas, vimos filme, mas o mais importante foi a tarde de sexta-feira em que eu peguei no sono, mais ou menos umas 16h, acordei algumas horas depois e peguei meu celular.
Nele, uma notificação do twitter dizendo que eu tinha ganhado um sorteio, eu não me lembrava do que era e então assim abri correndo e vi... Eu ganhei Alan Wake II num sorteio, mas... Meu PC vai rodar? Eu não tenho console de nova geração! Eu só volto pra casa daqui alguns dias, como eu vou aguentar esperar para ver se roda?
Foram dias difíceis na casa do meu primo pensando em Alan Wake II, aflito de que meu PC não aguentasse rodar, aliás, as especificações do jogo estavam muito além do que meu PC tem a oferecer, mas eu mantive minhas esperanças altas.
O tempo passou, eu cheguei em casa e a primeira coisa que eu fiz foi baixar e abrir o jogo, testar seu começo... Rodou, rodou extremamente bem, uma média de 60fps em momento calmos sem muitas coisas ao meu redor e travado nos 40fps em momentos de batalha ou áreas cheias, eu não podia reclamar, estava perfeito, isso tudo no médio/alto.
Fechei o jogo, baixei Alan Wake Remastered e Control (mendiguei dinheiro pros meus amigos e meu amado mano Lipe me mandou um PIX, assim eu pude comprar as DLCs).
Comecei então minha maratona de preparação para Alan Wake II, eu iria rejogar tanto Alan Wake, quanto Control e pela primeira vez iria jogar as DLCs de ambos os jogos, eu estava animado, mais do que nunca.
Bom, eu fiz minha review tanto de Alan Wake e suas DLCs, quanto de Control e também suas DLCs, amei os dois, foi bom demais rejogar Alan Wake e relembrar o porque de eu amar tanto esse jogo, aliás, comecei amar mais ainda, se tornando facilmente um dos meus jogos favoritos.
Impressionantemente o mesmo se sucedeu em Control, todo aquele ódio pelo jogo sumiu, ele estava rodando perfeitamente bem, a gameplay no teclado me agradou tanto que eu quase fui atrás do 100%, mas eu tinha objetivo mais importante em frente...

Alan Wake II

Alan Wake termina com a cidade feliz, tudo havia se resolvido, Alan conseguiu derrotar a Dark Presence e finalmente escrever um fim para aquela história assombrosa, o único problema disso tudo foi ter ficado preso na maldita dimensão onde as sombras tinham poder até demais, The Dark Place ou Lugar Obscuro, como queira chamar.
Nisso, foram 13 anos, tanto in-game quanto fora dele, até que a história de Alan realmente continuasse, tendo feito uma aparição incrível na DLC AWE de Control, DLC essa que em seu fim deixa bem claro que no futuro iríamos visitar Bright Falls novamente.
Dito e feito, 2023, 13 anos após os acontecimento de Alan Wake, voltamos para Bright Falls no controle de uma nova personagem, Saga Anderson, com ajuda de seu parceiro Alex Casey (Descanse em paz James McCaffrey).

Ok, eu não quero explicar a história INTEIRA do jogo, só seu início para que eu tenha um norte e informações apresentadas o suficiente para formular meu pensamento sobre o jogo.

Primeiramente,
História
A história de Alan Wake II não é contada de uma forma convencional, mesmo com toda sua linearidade, ainda nos dá uma liberdade pouco explorada, principalmente em jogos do seu gênero. A narrativa inteira é construída com base em dois mundos simultaneamente interligados contando duas histórias que se chocavam mais e mais até o seu desfecho onde as duas estão completamente conectadas.
Durante o jogo, até uma das partes finais dele, podemos escolher quais capítulos faremos primeiro após terminar o que seria o "prólogo". O jogo te dá essa oportunidade e te diz para fazer como bem entender, você pode avançar como Alan, tentando fugir do Lugar Obscuro e voltar para casa, para Alice ou pode investigar Bright Falls como Saga, buscando impedir que a história destrua sua vida e todo aquele mundo.
Entretanto, quanto mais vamos mergulhando nessa história, mais os objetivos dos dois personagens se interligam e se moldam conforme a maldita Dark Presence atrapalha tudo e todos.
Alan Wake II é um dos poucos jogos "lineares" que realmente entrega uma história nitidamente orgânica, tudo ao seu redor vai influenciando seu fim, não parece que você está seguindo uma linha reta mesmo que no fim esteja, é absurdo ver o quão incrível a escrita de Sam Lake e todos os outros envolvidos evoluiu diante dos seus predecessores.
Dito isso, Alan Wake II tem uma das minhas histórias favoritas dos jogos, com uma narrativa linear orgânica e única que trata de temas INCRÍVEIS tão bem quanto seu antecessor, com momentos inesquecíveis e impactantes e um desfecho... impecável.

Jogabilidade
Alan Wake II é, inegavelmente, o suprassumo do seu gênero, o ápice de um survival horror, desde Silent Hill 2, acredito que nenhum outro jogo tenha conseguido criar algo tão assustador e imersivo quanto esse jogo conseguiu criar.
Os combates são em sua maioria bem únicos durante momentos em que o jogador está seguindo a história, mas dá brechas para que você volte e explore novamente algumas áreas, descobrindo mistérios antes bloqueados e é aqui que o combate se mostra primoroso.
A variedade de armas não é muito maior do que em Alan Wake, entretanto neste ele te permite carregar um número maior, te dando uma variedade MUITO melhor, fazendo com que em nenhum momento o combate se mostre cansativo ou repetitivo, é instigante voltar para explorar e encontrar mais inimigos.
Além disso, os controles melhoraram insanamente, as mudanças na mecânica da lanterna também apenas ajudaram a elevar a gameplay a um nível superior, permitindo que o jogo se torne bem mais balanceado e não injusto seja para qual lado for. Os inimigos tem chances de te matar e você tem chances de se defender, nenhum dos dois está na vantagem 100% do tempo.
Outra coisa que evoluiu absurdamente e faz Alan Wake II ser um survival horror e não apenas um shooter com temática de terror é que agora você não tem mais aquele problema de ter pego infinitos recursos para na próxima área eles serem descartados, o tempo todo você tem acesso ao seu inventário, você tem continuidade e constância, além de que o looting do jogo é muito bem balanceado, então você pode explorar muito, mesmo assim na hora de enfrentar a história, você vai ter que sobreviver.
Ah, não posso deixar de citar os palácios mentais desse jogo, a cabana de Saga e a sala do escritor de Alan, simplesmente MAGNÍFICO o que fizeram nisso, você pode revisitar informações importantíssimas, ouvir música, construir suas paredes de casos, esse filme é um prato cheio para quem ama filmes de detetive ou melhor, para quem ama Twin Peaks, simplesmente genial.

Gráficos
Eu não vou me estender tanto nessa parte, eu não sou sommelier de beleza em jogos e joguei no médio/alto, mas porra... Esse jogo é LINDO. Próximo.

Ambientação
Inesquecível, Bright Falls está tão linda quanto nunca, ou melhor, o mapa INTEIRO desse jogo, é bizarro o quão boas são todas as áreas, sejam as florestas mórbidas até mesmo o assustador e fantasma parque de diversões que é Coffee World, é incrível.
Acho impossível explorar essas áreas sem sentir o terror que elas passam, são tão bem feitas, projetas, a exploração é fluída e mesmo quando você se sente perdido não parece, pois você acha segredos, peças novas do quebra-cabeça que é esse caso.
Todas as áreas exploradas por Saga são incríveis, o mesmo vale para o Lugar Obscuro, aquela Nova York corrompida é bizarra, explorar os lugares que mudam conforme a luz ou conforme o momento que Wake seleciona em seu quadro cria não só um espaço incrível como também cria um lugar cheio de possibilidades.
Foi insano ver a forma como eles trabalharam as áreas abertas com a Saga, é tudo vivo e morto ao mesmo tempo, é genial. Assim como trabalharam em áreas fechadas com Wake, o Hotel Oceanview, o metrô, aquele cinema, meu deus.
Além da possibilidade de alterar as cenas, sendo provavelmente uma das minhas mecânicas favoritas que influenciava não só a exploração como também todo o sentimento de estar naqueles lugares.
Mudar a cena de um cinema comum para outro completamente ensanguentado, cheio de pessoas mortas e vultos vagando fazia meu corpo inteiro retrair, eu ficava extasiado, com medo do desconhecido de um lugar que eu já vi, mas estava completamente mudado.
É algo que eu vou, infelizmente, cobrar dos próximos jogos recentes que eu jogar e se não cumprirem, eu não vou conseguir achar eles incríveis. Alan Wake II criou um padrão não só para o seu gênero, como para toda uma indústria, uma ambientação absurda e que entrega seu máximo independente do escopo.

Trilha sonora
A música desse jogo... Eu com certeza vou ouvir a trilha sonora mesmo quando eu não estiver jogando, aliás, eu já escutava Old Gods of Asgard antes, agora eu irei escutar ainda mais. A trilha sonora combina não bem com toda a estética e a banda tão amada de Alan Wake volta num retorno triunfal com um dos arcos mais incríveis dos jogos, seja em toda sua jornada pelo Lar dos Idosos com a Saga ou com o show no Lugar Obscuro.
Além das músicas que tocavam entre os capítulos, eu sempre parava para ouvir.

Personagens
A última parte que eu quero explorar do jogo aqui.
Alan Wake é um dos melhores protagonistas da história de um jogo, ver sua evolução desde o primeiro até o fim da história do segundo é incrível.
Ele tinha tanto para melhorar e melhorou, tanto para descobrir e descobriu, vemos um Alan frustrado com sua escrita e um temperamento raivoso com aqueles que ele ama se tornando um Alan assustado e buscando ao máximo voltar para casa, para sua família e amigos, um Alan perdido nas loucuras de sua própria mente e criação.
Do início ao fim Alan combate não só o mundo escuro e perigoso ao seu redor, como também enfrenta seus medos e pensamentos mais obscuros, tendo não só que lidar com sua escrita, como também lidar com o mal que ele selou dentro de si mesmo.
Saga Anderson é uma personagem nova e em pouco tempo conquistou meu coração, ver o contraste entre sua seriedade ao resolver o caso e sua paixão pela família, pelo seu parceiro, é algo lindo, você consegue diferenciar as duas Sagas, mesmo que sejam duas facetas presentes em uma única pessoa.
Saga tem que enfrentar fantasmas dos seus passados, no plural mesmo, ela precisa encarar não só o seu passado real de sua família conturbada, os Andersons, como também lidar com memórias falsas que estão sendo criadas para impedi-la de continuar, memórias essas que começam a se tornar reais demais.
Todos os personagens principais desse jogo tem arcos ótimos de desenvolvimento, principalmente os protagonistas, mas o secundários não ficam atrás. Os irmãos Anderson, os irmãos Koskela, Alex Casey, Tim Breaker, o grandioso faxineiro Ahti, Warlin Door, todos tem seu desenvolvimento, sua importância e até mesmo os terciários são inesquecíveis, Rose, os Booker, os velhinhos da casa de cuidados,
E eu não posso esquecer do Scratch, que personagem... Complicado, nós vemos ele pouquíssimas vezes, mas o Scratch é mais um conceito e um medo do que uma pessoa em si e isso só o deixa mais importante e impactante ainda, ele é um dos combates que Alan tem dentro de si mesmo, ele é a Dark Presence manifestada como um inferno dentro de Alan Wake.

Por fim, eu só tenho elogios, Alan Wake eleva o padrão da indústria em um nível surreal e cria um novo patamar para os jogos de survival horror. E devo ser sincero, entre todos os lançamentos que joguei em 2023, Alan Wake II não é só o mais impressionante, como é o melhor jogo do meu 2023.
Fico feliz demais de ter tido a oportunidade de jogar isso, foi incrível e ainda mais jogar isso próximo do seu lançamento.
Eu nunca irei me esquecer e sem dúvidas vou aproveitar muito o NG+ e mal posso esperar pelas DLCs que virão ano que vem, animado DEMAIS.

Reviewed on Dec 28, 2023


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