Não joguei DOOM quando jovem. Joguei TUROK. Não gostava muito do 1, mas o 2 me pegou com força. Os cenários enormes e cheios de coisas pra ver e explorar era o que mais me fascinava. Recentemente, quando eu fui jogar o DOOM original por recomendação do meu clubinho de jogos, eu me encontrei várias vezes reclamando da falta disso. A importância do jogo para essa indústria é extremamente óbvia, mas para os dias de hoje, ficar perdido em pequenos corredores quase idênticos acaba ficando monótono bem rápido.

DUSK é o completo oposto disso. Quase não tem labirintos e os cenários são cheios de coisas interessantes para se ver, tornando a exploração divertida. O jogo segue muito de perto a fórmula de DOOM com quase tudo que você pode esperar: grande variedade de inimigos horripilantes, uma porção de armas para escolher e usar, segredos para todos os lados, a mesma estrutura episódica e, claro, a violência extrema.

O setting do jogo é um pouco diferente, mas não foge tanto do tema: ao invés de lutar contra demônios em uma estação espacial, você começa numa pequena vila. Equipado com um par de foices, você rapidamente se depara com alguns homens empunhando serras elétricas. Algumas salas mais à frente, outros humanóides encapuzados te chamam de herege e demandam seu sacrifício. Saindo da casa em que você começa, alguns bodes demoníacos correm em sua direção enquanto fazem grunhidos tenebrosos e atiram projéteis em você. Só mais uma terça-feira no mundo dos DOOM-likes.

O ritmo do jogo talvez seja um pouco frustrante para quem só quer a ação e intensidade que se espera do gênero. Na maior parte do tempo, você tem exatamente o que você espera: hordas de inimigos vindo de todos os lados, projéteis voando enquanto você corre de um lado pro outro atirando freneticamente. Mas DUSK gosta muito de brincar com o terror também. Em vários momentos você vai se encontrar entrando em um porão ou caindo em um buraco escuro onde você só consegue enxergar um pequeno círculo que sua lanterna consegue iluminar. Em alguns momentos chega a ser uma experiência quase claustrofóbica. Músicas macabras e sons estranhos e distantes criam uma atmosfera de tensão e sua única escolha é continuar em frente apesar de não saber para onde você vai ou o que o espera.

Da segunda metade do jogo em diante, DUSK brinca muito com suas expectativas também. Com fases que quebram as convenções que o próprio jogo criou e que foram ótimas surpresas para mim, a mudança constante me manteve animado e empolgado para o que ainda estava por vir e em nenhum momento me decepcionou.

Eu percebi recentemente que gosto demais desses gráficos low poly da época do PS1~N64. A limitação que eles impõem, especialmente em jogos modernos, é fascinante. O quanto os devs conseguem se expressar sem usar gráficos ultra-detalhados de última geração. O resultado é uma estética macabra e ao mesmo tempo boba e até meio cômica. As animações dos inimigos são toscas e para contribuir para isso a impressão que dá é que a maioria dos sons foram gravados por um cara entediado numa salinha. Eu entendo que para os dias de hoje essas coisas podem ser um ponto negativo para muita gente, mas eu vejo como uma demonstração de muita personalidade e criatividade.

Para citar alguns dos pontos fracos do jogo, eu achei os chefes meio sem graça. Em geral são versões um pouco mais complexas de inimigos comuns, mas a grande maioria você só precisa correr em círculos pela sala enquanto atira. Falando sobre as armas, eu sinto que algumas delas só estão disponíveis para balancear o modo “Intruder” do jogo. Neste modo, você inicia cada fase apenas com o par de foices inicial. Este modo pode ser alternado na seleção de fases. Normalmente, você leva seus equipamentos de uma fase para outra dentro do mesmo episódio. O que acontece é que armas como as pistolas e principalmente as dual shotguns são armas que você raramente vai usar. Só me encontrei usando pistolas quando queria economizar munição (o que quase nunca é necessário, o jogo fornece muita munição) e eu nunca mais usei as dual shotguns depois de conseguir a super shotgun. Elas utilizam a mesma munição, mas a super é muito mais forte (apesar de consumir 2 munições por tiro). Como eu joguei sem ativar o modo Intruder, eu só usei essas armas nos primeiros minutos de cada episódio até encontrar algo inevitavelmente melhor.

DUSK é um jogo incrível e acredito que executa com perfeição a fórmula de DOOM com seus próprios twists. O preço é extremamente acessível (como a própria publisher gosta de dizer, “We Love You And We Hate Money.”) e vale cada centavo. Se você gosta de old-school shooters e não se importa com um pouquinho de terror e alguns jump scares, fica aí a minha recomendação.

Reviewed on Sep 10, 2021


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