Chicory é um jogo de aventura com exploração, bem no estilo Zelda clássico. Ele conta a história de um cachorrinho (cujo o nome é o nome da sua comida preferida, no meu caso, "Amburge") que encontra o pincel mágico de Chicory. Nesse mundo, existe uma espécie de guardião do pincel que é responsável por dar cor ao mundo, nesse caso Chicory. Inicialmente o seu objetivo é tentar devolver o pincel, mas uma série de coisas acontecem e Amburge acaba herdando o pincel mágico e se tornando a próxima guardiã.

O conceito de Chicory é interessante, você interage com o mundo usando o seu pincel, pintando elementos do cenário e dependendo do que você pinta, as coisas se comportam de forma diferente. Existem por exemplo items no cenário que explodem quando são pintados, ou plataformas que só podem ser usadas quando pintadas, etc.

Chicory, no entanto, é dividido em dois atos, e o primeiro deles é bastante tedioso.

O primeiro ato é consideravelmente linear e te guia por caminhos que no final te levam a um chefe e ao vencer, uma nova habilidade é desbloqueada.

E o meu maior problema com o primeiro ato é justamente o quão raso ele é, já que inicialmente você não pode fazer quase nada além de andar, o que faz com que a maioria dos puzzles seja extremamente simples e a exploração seja bem sem graça e direto ao ponto. O início do jogo é praticamente um walking simulator de tão sem graça que são as interações com o mundo.

No entanto, conforme você avança, novas habilidades vão sendo liberadas, como pulos e até escalar paredes. E quanto mais habilidades vão sendo liberadas, mais interessante vai ficando a exploração e os próprios puzzles, já que agora eles podem ser feitos contando com uma gama de possibilidades maior. No finalzinho do primeiro ato eu já estava me divertindo bem mais com os puzzles.

O segundo ato, no entanto, foi onde o jogo me fisgou. Enquanto o primeiro é bem linear, o segundo te solta no mundo e te permite fazer o resto das atividades em qualquer ordem, além de te permitir revisitar lugares com todas as suas habilidades já liberadas, tornando assim a exploração muito mais satisfatória e interessante.

Escalar uma parede no cantinho do mapa e acabar caindo em um lugar completamente novo que te leva pra um item diferente é bem recompensador. O jogo começa a incentivar que você experimente e brinque com as suas mecânicas, diferente do primeiro ato em que você basicamente andava numa linha reta resolvendo puzzles extremamente simples.

Algo que me surpreendeu no jogo, entretanto, foi a história. Não exatamente por ela ser boa, mas sim o fato dela ser bem mais presente do que eu esperava e de fato ter um esforço nela. Eu esperava algo raso e fofinho só pra contextualizar a aventura, mas o jogo realmente se esforça para contar uma história que trata de temas como depressão, ansiedade, qual é o seu papel no mundo.

Mas a história é boa? Então... talvez seja um pouco de cinismo da minha parte, mas me incomoda um pouco essa trend de "jogos fofinhos sobre depressão" em que todos eles meio que terminam do jeito mais previsível do mundo e tem a mensagem mais clichê do mundo que mais parece um discurso motivacional raso. Eu, como alguém que sofro de depressão, vejo uma história como essa e não sinto nada além de uma identificação em alguns momentos. Não acho que seja uma história que traga uma abordagem interessante pro tema, mas ao mesmo tempo, não é uma história que trata o tema com irresponsabilidade, então não vou vir aqui dizer que a história é péssima, ela só é bem previsível e diz algo que várias outras histórias já disseram dezenas de vezes.

Outro ponto que vale ser comentado como um ponto positivo, mas ao mesmo tempo um ponto negativo, dependendo de onde você está jogando, é o fato de que o jogo tem vários momentos em que você precisa fazer desenhos.

Eu estava jogando no PS5, desenhar no controle não é exatamente a melhor experiência, então quando o jogo me pedia pra fazer desenhos complexos eu só meio que ignorava e fazia um among us mesmo. Isso gerou vários momentos engraçados, como os personagens olhando para um among us e descrevendo quais sentimentos aquilo despertava neles.

Nenhum desses desenhos é obrigatório pra progressão, mas eu consigo ver essa parte sendo a preferida de muitas pessoas que desenham e gostam de desenhar, então se você é artista e se interessa por esse jogo por esses aspectos, joga no pc com uma mesa digitalizadora do lado, sei lá.

Realmente achei interessante essa parte dos desenhos e como o jogo meio que tenta incentivar a sua criatividade, mas foi uma parte do jogo que pra mim não passou de uma piadinha em que eu fiz among us de cores diferentes em literalmente todos os desenhos.

No geral, Chicory é um jogo divertido. A primeira metade dele é um tanto tediosa e a história não é interessante o suficiente, mas a segunda metade compensa muito com uma exploração bem divertida e bons puzzles.

Reviewed on May 04, 2023


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