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"Nós vivemos na realidade ou tudo o que vemos é uma ilusão?" é uma daquelas Grandes Perguntas que acompanha a humanidade há muito tempo - pelo menos desde tempos gregos, como qualquer um que conhece a Metáfora da Caverna de Platão sabe. Diversas correntes filosóficas, religiões, ideologias e outros sitemas de pensamento chegaram, por um meio ou outro, à conclusão similar de que sim, vivemos em uma espécie de ilusão, dentro da caverna metafórica. Mas é só você acreditar em Deus, seguir os preceitos filosóficos, aplicar o materialismo dialético ou confiar na ciência que vamos encontrar o caminho para fora da caverna.

Mas quem disse que o mundo fora da caverna é bom? E se a "realidade" for não só inapropriada para a mente humana, mas ativamente hostil? Talvez não seja o caso de que vivemos em um mundo imaginário criado por nossas mentes, mas que nossas mentes só são capazes de permanecer vivas porque estão dentro de um mundo imaginário. Nossa subjetividade não é uma prisão que nos impede acesso a um mundo ideal platônico, é uma barreira que nos protege de um vazio inóspito, indiferente e difícil de processar.

O que não quer dizer que todos vivemos isolados em nossos mundinhos internos. A imaginação não é o que nos separa, é o que nos une, é o que nos torna não só humanos, mas humanidade. Através de histórias e narrativas somos capazes de criar um mundo intersubjetivo. São mentiras que contamos uns aos outros e fingimos coletivamente acreditar. Mas há perigo também nessas mentiras. Do mesmo jeito que elas podem ser usadas para nos confortar, podem ser usadas para nos manipular e conformar.

Em quais mentiras acreditar? E quando dizer a verdade? O amanhã só virá para aqueles que se defrontarem com esse dilema.

Reviewed on Feb 06, 2022


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