Eu gosto muito de museus como experiência interativa. Amo entrar em um prédio cuja própria arquitetura foi feita para te incentivar a interagir com uma peça de arte de um jeito específico, as divisas entre arte e espaço borrando e misturando, reconfigurando não só como você pensa sobre a arte, quanto também o seu entendimento do propósito de um espaço. Após minha primeira visita ao Inhotim, passei a questionar e perceber com muito mais interesse como a disposição de um espaço configura a forma como ele quer ser interagido. Museus que brincam com e desafiam essa noção, o Inhotim sendo o exemplo do supra-sumo dessa arte, são lugares muito especiais para mim. Infelizmente, minha megalomania acaba sendo fruto de decepção, pois acabo pensando no que poderia ser feito se apenas as limitações físicas e de capital não existissem, se artistas pudessem criar estas gigantescas obras estruturais sem todo o processo caro, às vezes nada ético, e complicado que as acompanha.

Meses atrás ouvi falar de um cara (https://moshelinke.itch.io) que fez enormes prédios brutalistas como “jogos”, ou galerias virtuais. Pensei imediatamente nas possibilidades de tal ideia - um museu livre de limitações físicas poderia ser o quão absurdo ele desejasse. Fiquei interessado no conceito, mas não esperava que fosse receber de presente - literalmente, já que é grátis - um museu desses, modelado ao redor de um dos meus álbuns favoritos, 21 anos depois de seu lançamento.

Kid Amnesia é uma galeria/experiência virtual ao redor do álbum Kid A e seu B-side Amnesiac, criada no mundo virtual por necessidade, já que a pandemia impediu a sua manifestação real, que sem dúvidas seria muito mais modesta. Radiohead soube muito bem aproveitar do absurdo - suas músicas são destrinchadas em um museu onírico, em que há placas, QR codes, uma planta do edíficio que faz sentido; sua associação com o real parando por aí: o espectador flutua junto com peças surreais das músicas, caminha sobre o ar e debaixo da terra e sai, literalmente, de seu corpo, seu entendimento dos álbuns sendo destruído e esculpido através de brincadeiras com forma, tempo e espaço - as músicas adquirindo a terceira dimensão.

Reviewed on Nov 29, 2021


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