Anodyne 2 é um jogo que me fez pensar como poucos no ato da criação. Não porque em seus temas centrais toca no ato de moldar algo ou alguém, de preparar-se e/ou preparar alguém para encarar um mundo nada ideal, de triunfar diante de todos os buracos e decepções que possam ter no caminho; não porque tangencia esse tema com mensagens sobre solidão, de sentir-se incompleto, de compaixão, comunidade. Anodyne 2 tenta, desesperadamente, parece, falar de tudo: um potpourri de anedotas, contos, poesias; também uma aula sobre como escrever flavor text e gerar ambientação. Anodyne me fez pensar no ato da criação porque, ao reconhecer suas limitações como um jogo de baixo orçamento, feito por apenas uma dupla, o jogo prefere mostrar seu lado vulnerável e humano, prefere se conectar ao seu jogador através da honestidade, da conversa, do partilhar - as quebras de quarta parede não são piadinhas idiotas aqui, e sim lembretes de que foram duas pessoas, cheias de vontade de colocar em tela e em controle o que elas sentem - que fizeram esse jogo. As fronteiras invisíveis expandem, ao invés de limitar; a baixa contagem de polígonos¹ revela, ao invés de esconder. Ao mostrar-se vulnerável, a equipe de Anodyne faz de suas limitações realísticas uma janela cristalina para o cerne da obra.

O jogo reitera em seu passado, o aproveitamento das mecânicas de Anodyne e seu mundo sendo transplantados dentro da camada mais interna da cebola, mergulho dentro de mergulho mecânico e narrativo escondendo surpresas deliciosas; não necessariamente homenagem, e sim reaproveitamento que denuncia a nobreza do processo de manufatura, nunca linear: Anodyne 2 tem Anodyne dentro de si, e não teria como ser diferente - o simbólico se torna o literal. Anodyne 2 também tem em si Even the Ocean, e muitos outros projetos de Melos e Marina; talvez também tenha Sephonie, em seu estágio embrionário, escondido em algum lugar aqui.

1. Nunca leia isso como uma crítica, o jogo é lindo.

Reviewed on Jun 30, 2022


1 Comment


(1) 𝒁𝒕 = 𝜹 + 𝝓𝒁𝒕−𝟏 + 𝜺𝒕
Logo, apesar de concordar com a sua crítica, a baixa quantidade de polígonos me incomodaria, quiçá