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in the past


Virtua Fighter 3 foi o primeiro videogame de luta que eu joguei com uma certa regularidade. Não por algum apego particular ou por eu querer me dedicar a ele como um esport ou coisa assim (a Wikipédia diz que houve uma ressurgência meio surpreendente de 3tb em arcades japoneses mas não consegui confirmar). O motivo é até um tanto que old school. Um shopping que ficava no caminho de casa de alguns dos meus empregos tinha um gabinete gigante de Virtua Fighter 3. Completamente perdido no tempo. Uma verdadeira relíquia. Todo desbotado. Meio que lindo.

Sou jovem demais pra ter sido rata de fliperama. O que estamos falando aqui é um desses game centers meio deprimentes em que pais enfiam suas crianças enquanto vão fazer compras, sabe? Mas eu gostava de as vezes passar lá e jogar um pouquinho de Virtua Fighter 3. Era uma maneira gostosa de encerrar o dia. Eu aprendi a apreciar a simplicidade dos controles e eu gostava de como as lutas eram rápidas e cheias de energia. Eu chegava na Dural em poucos minutos em só uma fichinha ou duas, e ia pra casa satisfeita tomando sorvete. Eram tempos meio que até que bons, apesar de tudo.

A partir dessa semana, se tudo tiver dado certo, vou estar praticamente formada e por consequência vou me tornar oficialmente uma NEET. Vai a ser a primeira vez da minha vida que não vou estar trabalhando e/ou estudando (tirando um tempinho no auge da pandemia mas a gente ignora esse tipo de catástrofe global). Isso me deixa um tanto que ansiosa. O que eu vou fazer da minha vida até encontrar meu próximo emprego? Como lidar com essa ansiedade? Tem tantos hobbies que eu abri mão com o tempo, tantos projetinhos que eu posso pegar de novo e finalmente ousar terminar alguma coisa que eu comecei. Não ter alguma força maior pra te dar um norte pro seu dia-a-dia é complicado. Estou desacostumada. E a situação financeira não ajuda.

Pode parecer maluquice, mas eu gosto de trabalhar. E trabalhar fora de casa! Eu gosto de ter uma rotina, me estressar com chefe, de ver gente, de ter colegas de trabalho, de almoçar feijoada nas quartas-feiras. Ter um salário estável também é meio que ótimo. O transporte público as vezes pode ser meio brutal e desagradável de inúmeras maneiras, e alguns dos meus empregos podem ter sido genuinamente terríveis, mas nem sempre tudo era ruim. As vezes na volta pra casa eu jogava Virtua Fighter 3. Eu me sentia viva, mais viva do que isolada dentro de casa. Eram tempos meio que até que bons, as vezes. Apesar de tudo.

Em toda essa ansiedade eu meio que por coincidência entrei em uma leve obssessão com a Sega nessas últimas semanas. Obssessão que me fez relembrar e revisitar Virtua Fighter 3. Ou nesse caso, Virtua Fighter 3tb, que é um update que incorpora team battles e algumas outras mudancinhas. Particularmente prefiro o modo arcade tradicional, acho que as team battles roubam um pouco da tensão das lutas 1x1. Essa tensão é uma das coisas que eu mais gosto desse jogo, no final das contas. A música, os cenários paradisíacos, o brutal impacto dos golpes, tudo a favor pra criar um lindo duelo entre dois artistas-marciais. Artistas-marciais um tanto que sem graça, mas eu até que aprecio isso! Não consigo não olhar pro Akira e não achar uma graça o quanto que um Ryu genérico ele é!

Mas enfim, jogar essa versãozinha de Virtua Fighter 3tb pro Dreamcast me fez apreciar mais esses tempinhos que passei com a versão arcade do jogo original. Talvez eu até ame Virtua Fighter 3tb. Eu meio que adoro esse jogo. Talvez não tanto por ele em si, mas pelas experiências que eu tive com ele.

Ele era uma feijoada de quarta-feira pra mim, e eu aprecio tudo que me faça sentir viva.