Eu sempre tive interesse em jogar os jogos da franquia Yakuza (Agora Like a Dragon); e desde que os jogos entraram no gamepass o interesse subiu mais ainda. Mas nunca encontrei muito um espaço onde eu falasse “Quero jogar Yakuza agora”. Já tentei com o 0, mas formatei o PC na época e daí nunca voltei. Sempre tive um pouco de preguiça, por mais interesse que tivesse, porque são muitos jogos. Então, quando eu vi que iam lançar um spin-off que não tem envolvimento com a franquia principal, eu fiquei bem animada pra jogar. Esperei no gamepass e, assim que veio, comecei a jogar. Felizmente, minha primeira experiência com “Yakuza” foi verdadeiramente muito boa; e por mais que eu ainda tenha desgostado de algumas partes do jogo, o positivo ainda se sobressai bastante.

Sempre me falaram muito bem sobre as atividades fora da história principal de Yakuza. E a maioria é realmente muito boa, eu amei os mini-games, pelo menos a maioria deles. Gastei horas apostando em galinha, fiz todas as músicas que dava pra fazer no Karaokê e adorei quase todas, quis fazer todos os dojos, achei a ideia de você ter sua casinha com sua horta e poder cozinhar e trabalhar nela bem legal também. Por mais que não tenha sido algo que eu passei muito tempo usando, eu me diverti nos momentos que usava. Uma pena que eu tenha achado a pesca horrível (Sou viciada em mini-game de pesca).

Mas não só os mini-games foram divertidos; eu gostei bastante de algumas side-quests, as do “Ee ja nai ka” foram minhas favoritas e elas sempre me faziam rir no final. Mas também adorei a de descobrir quem roubou o doce daquele homem, ou as de decifrar as cartas que a “web namorada” do século 19 mandava pra um cara. Eu não fiz todas as sides-quests; são demais e não tenho tanto saco assim, mas das que eu fiz, a maioria eu gostei. Pra mim, as que mais brilham são as que vão um pouco mais pro lado da comédia; o estilo de humor do jogo funciona muito comigo e a forma de trabalhar esse humor na maioria das vezes me agradava. Apesar de gostar da maioria, admito que ainda tiveram umas side-quests que eu odiei, principalmente as que se tem que ir de pouquinho em pouquinho construindo um vínculo de amizade com outro personagem. Acho que só fiz a do velho das galinhas (não foi proposital) e a do gato da sorte, porque de resto, meu deus, eu não aguentava.

Uma pena que as outras coisas que se faz fora da história principal como grindar o jogo seja tão, mas tão ruim, facilmente foi a pior parte do jogo. Eu odiei o sistema de tropas e sentir que ele era algo necessário, principalmente pra mim que tava jogando na dificuldade mais alta, fez tudo pior ainda. Tanto o processo de subir o nível deles quanto o de conseguir novos recrutas, principalmente no gacha que é algo estupidamente caro e exige demais da moeda do jogo, me faziam entrar numa agonia infinita enquanto passava pelo processo.

O mesmo vale pra farmar material e dinheiro em si, principalmente pra fazer melhores equipamentos com o ferreiro. Não só é muito chato aumentar o nível dele que é muito, mas muito lento, quanto é chato conseguir o necessário pra fazer melhores os equipamentos. Cada coisinha é muito exaustiva de se farmar; o processo é muito repetitivo, e não só é repetitivo quanto é muito demorado. Pra pegar os materiais se tem que fazer e refazer a dungeon que mais droppa do recurso X até se ter o suficiente. E o pior é que isoladamente eu até gostava das dungeons, mas quando tive que fazer elas repetidamente foi terrível; é o mesmo layout com os mesmos inimigos repetidas e repetidas vezes, cansa bastante.
Mas a pior parte de longe é pegar dinheiro, eu admito que usei os métodos da galinhas porque nenhum método mais legítimo de se fazer dinheiro no jogo é remotamente aturável. É necessário MUITO dinheiro pra fazer as coisas do jogo; mais de 150 ryo pra fazer uma espada, isso tirando o resto do equipamento que se usa, 10 ryo pra cada rodada boa de Gacha e etc. E eu juro que durante minhas 55 horas de jogo eu não juntei 1/3 do necessário pra se fazer SÓ uma espada “tier A”. A maioria das coisas que se faz legitimamente no jogo demoram demais e só não dão tanto dinheiro; e daí repetir a mesma coisa 50 vezes não é comigo, nem ficar um dia inteiro fazendo só isso. Meus pêsames pra quem fez ou vai fazer dessa forma.

Ainda existem outros probleminhas que sinto no jogo, mas não são tão impactantes. Tipo o combate, que apesar de ter me divertido bastante, eu ainda sentia alguns problemas. No jogo se tem 4 estilos diferentes: “Brawler”, que é basicamente dar porrada; “Gunman”, pra quem só quer usar a arma a longa distância; “Swordsman”, que é o samurai clássico; e então “Wild Dancer”, que mistura o uso da pistola com a espada. Eu não tenho nada a reclamar do Wild Dancer, é uma ideia interessante, os movimentos são bem fluídos e, no geral, ele sempre foi a opção mais divertida pra mim. O problema é quando eu ia pra outros estilos eu sentia que sempre tinha um probleminha neles. O brawler, apesar de muito divertido de usar, só me soava inutilizável porque, comparado a todo o resto, ele só dava muito pouco dano, eu dava 40 de dano no hit de Wild-Dancer e 9 de Brawler por exemplo. Já o Gunman, honestamente, só me soava um tanto tedioso, meus movimentos eram limitados, e as ações que eu podia tomar mais ainda. Tentaram dar uma profundidade na gameplay com a mecânica de balas especiais, mas não foi suficiente pra que eu sequer cogitasse a possibilidade de usar o estilo seriamente, eu acabaria dormindo nas lutas. Já o estilo de Swordsman não tem muitos problemas, de início, eu achava ele lento e limitado sobre o que eu poderia fazer, mas com o tempo foi me acostumando e me divertindo usando ele também, meu único problema com ele é sentir que ele é forte demais. A desvantagem dele é justamente ser mais lentinho e não ter formas de lidar com muitos inimigos de uma vez, mas quando se lida com inimigos isolados, o jogo vira brincadeira. Como a defesa básica não dá dano algum no personagem, é só pegar o timing que, mesmo quando quebram a defesa, é facinho de recuperar a tempo de parar o próximo golpe mesmo estando durante a animação de ataque do oponente. Então, apesar de eu gostar de lidar com algumas lutas com uma abordagem de duelo clássico de espadas, por causa do estilo do boss também, muitas vezes eu largava essa ideia por sentir que, usando o Swordsman, as lutas ficavam fáceis demais. E eu não sentia que elas eram fáceis por habilidade minha, não era como dar parry durante o hit de Wild Dancer, eu só sentia essa defesa como uma mecânica roubada do jogo, e daí não me era muito satisfatório usar. Mas eu ainda gostei do estilo; foi o segundo que mais usei.

Mas onde o jogo mais brilhou pra mim foi longe da gameplay. Eu achei a história incrível; é uma história dramatizada de samurai, são traições e traições das traições, reviravoltas e mais reviravoltas na trama, tragédias a todo momento, ideias um tanto loucas e absurdas mas que, ao serem levadas a sério, não só soam completamente válidas dentro da história quanto também levam a momentos extremamente interessantes, o desenrolar da trama também é ótimo, é feito de uma forma que me prende cada vez mais na história. O jogo sempre tem alguma relação interessante entre os personagens pra me apresentar, desde o embate entre o protagonista e o irmão, e as ideias dos dois sobre como levar a frente seus desejos, até as intrigas do Ryoma em meio aos Shinsegumi, os planos dentro da organização e a constante tensão que alguns dos integrantes me passam, principalmente os que carregam uma aura misteriosa e sempre me fazem estar ansiosa sobre o que será que vai acontecer a seguir, ou quais serão suas intenções. E quando a história e o jogo vão se revelando aos poucos, sempre é bem impactante, muitos plot twists me deixaram boquiaberta, com vontade de continuar e ver aonde aquilo ia dar.
Isso além do mistério que o jogo se baseia, que começa como algo pequeno e vai se desenrolando em algo cada vez maior, se interligando cada vez mais com outros personagens e pontos da história. Mesmo quando se recebe uma resposta sobre e o mistério parece resolvido, essa resposta abre junto uma questão complemente nova e nisso o jogo vai criando uma trama que não me deixa parar de me interessar e me envolver cada vez mais. E quando todos os pontos se ligam, acontece de uma forma tão bem feita, é a parte que mais amei do jogo.

De forma alguma é uma história feita só de grandes plot-twists e mistérios. O caminho que leva até esses pontos de impacto do jogo também é muito bom. Frequentemente, o jogo aborda temas como honra, identidade, a forma como se vê o mundo, ou os problemas causados pelo sistema de governo regente no país como a desigualdade, o preconceito e o constante terror sentido pelos personagens de classe mais baixa. O jogo tem uma boa consciência de como tratar esses temas, uma boa noção de quando inseri-los e, principalmente, de como trata-los sem fazer com que eles soem pequenos em meio à trama. Tudo é importante e bem trabalhado pra se ligar e potencializar o que tem de mais relevante na trama; e isso pode ser algo difícil de se fazer, tanto que algumas vezes o jogo não consegue, principalmente no último capítulo, mas na maior parte do tempo funciona muito bem.

Não dando muitos spoilers, mas um dos meus momentos favoritos da trama é quando ela para falar sobre a identidade daqueles personagens. Sempre é um tema recorrente na trama, principalmente porque uma das premissas da história é que Sakamoto Ryoma passou a viver como Saito Hajime, e muitas vezes no início da trama é tratado como se o Saito fosse uma mascara e tanto o que ele faz quanto o que ele sente são algo que não pertence ao Ryoma. Porém, mais pra frente no jogo, tem um diálogo muito bonitinho sobre o quão verdadeira é aquela identidade. Seus momentos, amizades e sentimentos enquanto Saito são tão verdadeiros quanto os de Ryoma, e não adianta ignorar e deixar pra trás tudo que se acontece por causa de um nome, tudo que ele viveu ali é real, e o jogo fala isso de uma forma tão bonitinha. O Saito existiu, e tudo que ele fez não pode ser só apagado; querendo ou não, ele é parte de Ryoma também.
Em geral, eu tenho muito a elogiar os personagens da trama também, principalmente o Kondo, Okita e Ryoma. Adorei cada um deles. Eles vão ganhando um lugar no meu coração conforme vão progredindo junto à trama, mostrando mais de si mesmos e mudando conforme as coisas vão caminhando e acontecendo.

Uma pena que eu sinta que o jogo falhe um tanto nisso logo no desfecho. Todo o capítulo final tem problemas, e dentre o que eu considero como a melhor parte do jogo (Capítulo 7–14), ele é de longe o mais fraquinho. Mas os momentos finais são tão bons; e tudo isso pra posteriormente se ter uma ceninha meia boca e o jogo parecer esquecer que algumas coisas existiram. A cena pós-crédito foi verdadeiramente frustrante, me fez sentir que o jogo pareceu esquecer que o Saito existe, toda a jornada e tudo aquilo que eu passei por pra no final focar unicamente em duas coisas. Achei fraquinho, entendo a mensagem e ela é tocante; o discurso final do Ryoma é muito bom, e eu gosto do peso que ele traz, mas depois disso foi só péssimo. Parece um jogo que em seus momentos finais esqueceu de si mesmo, mas isso de forma alguma tira toda a jornada que foi incrível.

Reviewed on Nov 27, 2023


Comments