Citizen Sleeper é um jogo narrativo (80% do jogo é texto) que se passa em um futuro distópico, um que me lembra bastante de Blade Runner, mas dessa vez você está na posição de replicante, (Aqui um Sleeper) uma consciência vendida ou criada para que "você’' se torne uma máquina a ser explorada com um (proposital) tempo de vida limitado.
Definitivamente esse não é um jogo pra todo mundo, é algo bem nichado e que muitas pessoas podem ter dificuldades em consumir, seja por conta do estilo de sua narrativa (Eu tive um pouco com essa) ou por encontrar barreiras ideológicas com a história anti-capitalista do jogo; por isso não sei se recomendaria o jogo pra todo mundo, mas caso não tenha jogado e se interessar pelo que eu falar a seguir, eu recomendo bastante testar o jogo, pode terminar sendo uma ótima experiência.

Essa posição anti-capitalista é assumida desde o primeiro minuto de jogo, a sua própria posição no jogo traz um pouco disso, já que ao ver o mundo como aquele que é explorado é difícil não pensar sobre o quão cruel sua existência pode ser; além de demonstrar todas as consequências que aquele sistema causou pra aquele mundo, um mundo distópico que soa bastante crível, afinal, temos até mesmo um bilionário que acha mais válido colonizar marte do que cuidar do seu próprio planeta.
Algo que eu enxergo bastante mérito, inclusive, é a forma bastante natural como o jogo apresenta sua ideia, não é como se ele te obrigasse a pensar daquele jeito, ou ficasse jogando na sua cara um diálogo sobre como o capitalismo é ruim; é só que é difícil jogar não pensar no quão cruel é aquele sistema conforme você vai jogando, um onde sua única fonte de comida é paga, onde o remédio que você usa pra se manter viva custa mais que dias e dias de trabalho, onde pra se ter um lugar básico pra dormir é preciso pagar diariamente um absurdo. É difícil conversar com cada personagem e não sentir tristeza perante suas situações, a de um pai solteiro que sequer tem tempo pra passar com sua filha, de um revolucionário claramente habilidoso que nunca vai ser aceito pelo sistema e vive “escondido” por isso, de uma médica que desapareceu após te ajudar ou de muitos outros que ali vivem.

Cada um desses personagem é tão vivo, são tantas pessoas com desejos diferentes, com gostos diferentes, com desejos e objetivos tão distintos, as vezes grandes como poder ir pra outro planeta em busca de uma vida melhor, ou as vezes desejos pequenos como simplesmente cozinhar um cogumelo, e por mais irreal que cada uma dessas coisas possa parecer, por mais difícil que seja conseguir isso, ainda existe aquela esperança que move cada um deles, esperança que dá força de não desistir e somente se render a toda aquela triste realidade; e que decisão boa que foi fazer isso, deixou cada conversa com eles bem mais profunda, eles não só cascas vazias que servem somente pra sofrer e mostrar o quão triste aquilo é, eles são humanos, humanos tão frágeis e tão fortes ao mesmo tempo; eu amei meu tempo com eles, cada conversa que eu tive conhecendo mais sobre ou vendo seu progresso, eu amei tudo isso.

Mas por mais que eu ame muito a parte textual do jogo, eu ainda tive algumas dificuldades com ela. É difícil pra mim imaginar tantos cenários, expressões, sons, situações; os personagens, por exemplo, só tem um único desenho, nenhuma variação de pose, expressão ou qualquer coisa do tipo, e pra isso tudo vai depender de você, ele não usa muito a parte do audiovisual, sabe. Tomar ações como usar um objeto pra algo e sequer ver uma PNG daquele objeto, não ouvir o que você faz ou qualquer coisa do tipo é algo que me incomodou bastante. Óbvio, não é algo que vai atingir tantas pessoas, mas não ter resposta visual ou sonora pode ser bastante complicado pra algumas pessoas, como as vezes foi pra mim, muitas vezes eu tive que parar pra conseguir voltar a jogar. Não sei se é uma escolha ou uma limitação, mas foi algo bem triste pra mim.

O jogo também pode perder o rumo do seu ciclo de gameplay conforme o tempo passa; todo dia você rola 1-5 dados com números de 1 a 6 (a quantidade depende do estado do seu corpo) e o valor depende do quão descansado você estque você vai usar pra trabalhar ou fazer ações específicas, geralmente cada espaço tem duas, que representam diferentes riscos, vantagens e que também são influenciados pela sua habilidade naquele tipo de ação é algo bem simples, mas que diverte bastante por um tempo, e pro curto tempo de duração do jogo, parecia uma ótima ideia. O único problema é que dependendo da forma que você joga, lá pra metade do segundo ato do jogo você simplesmente não precisa mais fazer nada porque já está com dinheiro suficiente pra sobreviver por um bom tempo, mesmo gastando com tanta coisa, você consegue juntar tanto que parece irrelevante, o jogo perde muito a sensação de luta por sobrevivência que ele tinha, e essa sensação de precisar de tanto dinheiro ajudava tanto narrativamente quanto construía um clima de urgência que fazia o jogo se tornar menos tedioso, perder isso atrapalha bastante na experiência, nos últimos dias mesmo eu já sentia que não tinha nada pra fazer, sentia que os dias que se passavam eram inúteis e eu só tava esperando até chegar no fim do jogo. É bem situacional isso, inclusive, pelo que eu vi em twitter, steam e etc, muita gente achou o jogo até mesmo desafiador.

Mas ao final do jogo, esse problema que eu tive com texto as vezes, e também a questão da gameplay ter se tornado pouco importou. O final que eu vi (A Long Journey to a Small Unknow Planet) foi tão bom que eu pude ignorar todos os problemas que eu enfrentei nesse terceiro ato do jogo, foi uma ótima finalização pra uma curta porém linda jornada; o monologo da protagonista é minha parte favorita dele, são ótimas respostas pra como se sentir sobre a sua existência como um Sleeper e a mensagem carregou tão bem o sentimento de esperança que eu senti que o jogo queria me passar enquanto eu jogava, por mais que o jogo tenha acabado ali, tudo que eu senti “sempre vai estar ali.”

Reviewed on Dec 04, 2022


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