Otome games infelizmente sofrem do mesmo mal que assola qualquer coisa feita para mulhere: são considerados menos que as outras coisas no mesmo meio. Não há meio termo, os moleques ranhentos sempre vão reclamar que são coisas paradas, chatas, com "harém reverso" e fúteis. Pior ainda, otome games ainda são 99% visual novels, gênero que já é excluído naturalmente de qualquer discussão, então pouquíssimas pessoas sabem o que se passa nesse mundo.

Eu com certeza era uma delas, se não fosse por insistência da minha namorada, não teria dado uma chance. Não sou perfeita, tenho meus preconceitos também e o principal motivo é que eu simplesmente não tenho interesse em homens, nem 2D, que são o chamativo dos jogos. Qual foi a minha surpresa, então, a ser apresentada a um novo horizonte que faz muito jogo mainstream comer poeira e que alinhou perfeitamente comigo.

Olympia Soirée, pela premissa, é um jogo fofo onde cada pessoa tem uma cor atribuída a ela, e assim todo mundo da populosa ilha é extremamente colorido, criando um arco-íris diverso. Mas no primeiro segundo o jogo não faz questão nenhuma de segurar que um mundo assim sofreria racismo sistemático intenso, e esse é o tema do jogo inteiro.

Obviamente pegar homem é o foco do jogo, e isso é correto e moral, mesmo que não seja para mim. Há em torno de 6 rotas de personagem e cada uma lida com um aspecto diferente deles e da ilha num geral. Eu admito que tive um pouco de dificuldade de gostar de alguns personagens porque vários agem de forma esquisita e manipuladora, mas por outro lado entendo que faz parte desse meio e não é como se mídia voltada pro público masculino não fosse pior nesse quesito. Foi importante entender esse contexto de minha namorada, e sem ela meu entendimento do que rodeia esse gênero seria mais pobre.

O jogo é surpreendentemente shinto em quase todo seu canto e a sua mitologia é enraizada em todos os seus temas, inclusive na critica de seus rituais e crenças. Doença, impureza, medo da morte, e preservação dos mais privilegiados são temas comuns. Aponto tudo isso porque realmente me abriu os olhos. O jogo falou de varias coisas que me interessam, e eu jamais teria experenciado isso por conta própria. Me fez pensar o quão importante é expandir seus horizontes de vez em quando.

É um jogo comprido, 50 horas de visual novel é cansativo, mas sempre tinha alguém com quem compartilhar então foi muito divertido. Claro que eu fazia corpo mole quando não queria jogar ou queria jogar outra coisa... Mas no final das contas fico feliz pela insistência. Otome games, igual qualquer coisa, possuem obras com variados níveis de qualidade, e é injusto renegar dezenas de jogos a escuridão só porque é voltado pro publico feminino.

No mínimo, respeite que existem coisas boas que não são feitas para você.

Reviewed on Jul 27, 2023


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