Desde pelo menos o primeiro King's Quest o objetivo de Roberta Williams era um só: recriar o mundo dos vários contos de fada que ela amava no meio interativo. Na quinta iteração da série, ela enfim concretizou seu sonho plenamente - para o bem e para o mal.

Cada cena de King's Quest V parece que poderia ser tirada de um livro infantil ilustrado. A narração amadora apenas para colabora para o jeitão de contos de fadas. A sensação é a de que um parente está lendo o livro e imitando as vozes dos personagens para você.

Mas há um aspecto desse gênero textual tão intrínseco à ele que acabamos naturalizando e nem percebendo: a pura arbitrariedade de tudo. A Princesa só vive feliz para sempre com o Princeso depois de uma série de coincidências (às vezes literalmente) milagrosas. Qualquer desvio de percurso teria resultados diferentes.

King's Quest V requer que você recrie esse milagre nos mínimos detalhes, sem o mínimo de piedade caso contrário. Não jogou o sapato velho no gato e salvou o rato na única vez em que ele aparece no jogo? O jogo está inzerável. Comeu o pedaço de torta em vez da carne quando estava com fome? O jogo está inzerável. Comeu a carne mas não guardou um pedaço? O jogo está inzerável. Esqueceu o item minúsculo que só dá para pegar numa janela de 3 segundos do ninho de uma ave gigante que te rapta? O jogo está inzerável. Não pegou um pedaço de queijo escondido num buraco na primeira vez que foi mandado para o calabouço do mago? O jogo está inzerável.

Cada passo em falso é uma morte. Cada objeto deixado para trás ou não usado na hora certa é um beco sem saída. Roberta Williams queria contar um conto de fadas através do meio digital e ela não tem a menor pena em obrigar o jogador a começar o game do zero até seguir exatamente a história que ela tinha em mente.

Reviewed on Oct 28, 2021


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