Yakuza 7 busca um novo começo para a série: em gênero, protagonista e tema. A história que queria contar envolvia a mensagem de superação e sobrevivência depois de cair para o lado errado das graças da sociedade - seguia ao redor de ex-presidiários, moradores de rua, prostitutas e imigrantes ilegais. A escolha, portanto, de basear sua essência em JRPGs e shonens, tanto tematicamente quanto mecanicamente, fazia sentido - são gêneros cuja mensagem tema costuma ser o triunfo meritocrático mesmo diante de impossíveis adversidades. Infelizmente, sinto que Yakuza 7, em seu processo de assimilação e reconstrução, acabou por absorver o pior das duas formas. Primeiro, sua inspiração em JRPGs clássicos (principalmente Dragon Quest) e shonens, ao ser imposta em cima de um drama criminal e familiar, acabou relativizando-o e suavizando seu impacto. Sendo o primeiro Yakuza que joguei até o final, já esperava - e ansiava por - um nível saudável de melodrama e tosquice; porém, a história do jogo sofre pesadamente pela adoção de arquétipos shonen como o triunfo do poder da amizade e reviravoltas desnecessárias e inconsequentes. Não me sinto mais investido na história quando Kasuga consegue convencer sua amiga bartender a enfrentar um prédio cheio de Yakuzas armados apenas porque eles são amigos, ou quando o vilão desnecessariamente expõe seu plano de forma não-característica e sem sentido diante do protagonista, especialmente quando essa mesma história tenta muitas vezes puxar pra um realismo seletivo: a justaposição de uma cena de jovens sendo executados cruelmente nas ruas por uma gangue rival e logo depois o assassino sendo convencido pelo poder da bondade é mais ridícula do que impactante. Não é como se eu fosse avesso à chicoteios tonais, afinal, sou fã assíduo de Metal Gear Solid - só acho que as estéticas shonen adotadas aqui foram um detrator enorme de uma história que tem todas as porradas emocionais para ser um puta melodrama.

Além de ferir a história, a inspiração desmedida de Dragon Quest também feriu grosseiramente o jogo - me surpreende que, um jogo tão bem apresentado em todo aspecto, que muitas vezes assume bem o posto de paródia e homenagem a Dragon Quest, consiga ser pior e mais antiquado em todo aspecto mecânico do que o tão engessado vovô dos jogos que o inspira. Sistemas de progressão que simplesmente não tem fluxo ou lógica; crafting arcaico; requerimentos de grinding artificiais, inimigos de qualquer embalo da história; e, como pior ofensor, combates repetitivos e inconsequentes compostos de inimigos irrisórios que não oferecem desafio algum (coisa que Earthbound, de 1995, já tinha resolvido), são o comum aqui - acho que conto em uma mão quantas lutas me incentivaram a engajar com todos os sistemas de batalha.

Na maioria das vezes que jogava, especialmente na história principal, ou estava entediado ou estremecia de vergonha alheia de ter que ver Naruto versão thriller policial. Ainda assim, joguei quase 60 horas desse jogo. Escrevi tanto e me entreguei tanto porque aqui encontrei brilho, escondido e apagado pelos seus defeitos gritantes - o protagonista Kasuga é reflexo perfeito do jogo, estupido e amável, apesar de todos seus defeitos. O combate, por mais bobo e fácil que seja, é visualmente impecável e dinâmico, e a substories oferecem a tosquice de qualidade que eu esperava de Yakuza, junto do ridiculamente engajante "mini"-game de CEO, que compôs mais de ¼ do meu tempo total de jogo e foi um dos pontos altos da experiência toda. Vejo nesses pequenos brilhos o que amam em Yakuza - o melodrama, o teatro, o humor, toda a alma colocada em cada esquina de seus ambientes, tudo formando um pacote deliciosamente idiossincrático, que não tem pretensão de se expor-se ridículo e emotivo como é. Infelizmente, só não acho que souberam bem usar o gênero que escolheram para ser o novo âmago da série.

Reviewed on Aug 01, 2021


5 Comments


2 years ago

Bill Burr Is Glad He Never Played "Yakuza 7: Like a Dr*gon" | CONAN on TBS

2 years ago

Adorei a parte em que você liga pro Come Lasmina te ajudar na luta contra o boss final

9 months ago

"uma cena de jovens sendo executados cruelmente nas ruas por uma gangue rival e logo depois o assassino sendo convencido pelo poder da bondade"

Não é nem tentando ser confrontacional, até porque mesmo nos pontos que discordei, achei uma review bem sólida, mas quando isso rola? Sem sacanagem, porque eu lembro do que você está falando dos dois jovens, porém, nada é resolvido na base do poder da amizade, ao menos nada na história principal, sendo apenas um melodrama super bem temperado.

9 months ago

@LauraLob0 boa pergunta. Olhei aqui pra dar uma revisada e acho que interpretei errado a parte do golpe que o Mabuchi tenta começar e assumi que o Zhao tava junto dele? Essa é a única execução que consegui achar. Me lembro de uma na Chinatown também, você lembra de algo assim?

No geral, dois anos depois, vejo Like a Dragon de forma menos azeda do que quando joguei.

9 months ago

@bernardolima Acontece, é um jogo grande e se acaba ficando cansativo, repetitivo ou maçante para ti depois de um tempo, você acaba não prestando tanta atenção ou só não engajando com a mesma boa vontade que você tinha ou teria previamente.

Foi meu caso com o Fuga: Melodies of Steel, combate bem bom, mas não consegue carregar o jogo todo.