(Escrito em 2015)

Hotline Miami foi um hit indie fantástico, que me impressionou bastante como todos seus elementos conectavam tão bem. A trilha sonora, história, visual, gameplay, todos trabalhavam em conjunto para criar a idéia de um trance violento numa onda de assassinatos. O jogo todo trabalhava para criar essa experiência, e isso junto com a trilha sonora que era especialmente notável elevou o jogo a ser um hit.

Hotline Miami 2 decidiu mudar um pouco o jeito como o jogo foi feito e não apenas nos dar mais um pouco de Hotline Miami, que era em si um jogo curtíssimo. HM2 me levou o dobro do tempo para finalizar, mas foi a metade de quão divertido o original foi. A razão disso foi a decisão de idéias de design terríveis que machucaram bastante o jogo e a simbiose que todos os seus elementos antes apresentavam.

O maior problema, de longe, é como as fases são apresentadas. Não imagino o que a Devolver Digital estava pensando ao trocar os corredores fechados de Hotline Miami por mapas muito mais expansivos e abertos. Os mapas abertos agora estão lotados de inimigos armados que possuem um campo de visão e tempo de reação maior que o seu, então morrer por causa de algo que você não viu é bem comum. Além disso, os mapas enormes e lotados de inimigos armados agora estão cheios de janelas, que sempre te colocam em desvantagem em relação à eles. Antes de argumentar que o que estou falando é arbitrário pois o aumento na dificuldade é ao gosto do freguês, vou explicar porque isso machuca diretamente a gameplay e a apresentação do jogo.

Hotline Miami 2 possui uma trilha sonora de qualidade muito maior a do seu original, impressionantemente. E dessa vez as trilhas são bem mais frenéticas, além dos visuais serem também mais “trance-like”. Os elementos audiovisuais do jogo te incitam a entrar num trance, a agir como um maniaco e realizar o balé da morte que o jogo original era tão bom em reproduzir. Porém, dessa vez, os mapas são enormes e a presença de inimigos armados em todo cantinho te obrigam a jogar com segurança e com cuidado, senão você não irá conseguir fazer nada. Corridas de melee entrando sala por sala usando seu reflexo e posicionamento para gerar um combo brutal não são mais tão encorajados, já que toda vez que você atravessa uma porta, provavelmente tem um inimigo armado que você não consegue enxergar mirando pra você. Os mapas gigantescos machucam e MUITO o pacing do jogo, já que você não pode jogar com velocidade como antes. Caso decida usar armas, provavelmente irá atrair todo inimigo do mapa para uma única sala onde é até que fácil eliminar todos eles. Mas onde está a graça nisso? De que adianta a música frenética, os visuais psicodélicos, os temas sombrios, se no fim você não consegue executar nada que o jogo te incita a executar de uma forma satisfatória e tem que abusar das mecânicas para sair vitorioso na maioria das vezes? Esse é o maior problema de HM2 de longe, mas não é um problema pequeno. Ele realmente destrói toda a chance que o jogo tinha não só de ser melhor que seu predecessor, mas de ser um jogo bom.

Temos também nesse jogo algo que era quase que ausente do jogo original: uma história. Hotline Miami 2 utiliza de sua arte e música para contar a história de vários personagens, cada um com mais problemas que o outro. No aspecto de narrativa, eu acho que o jogo capturou muito bem a sua essência com essa história, com cenários absurdos e personagens bizarríssimos. Porém, no aspecto de gameplay isso machucou a replayability fantástica que o original possuía, já que com vários personagens temos muito menos unlocks e jeitos bem mais limitados de completar um estágio.

Como era inevitável, tenho de falar do aspecto audiovisual do jogo. Ele é impressionante. A trilha sonora do jogo tem 3 horas e 20 minutos de trilhas que são, honestamente, cabulosas. A grande maioria pega no estilo eletrônico neo-80’s do original, mas temos outras que utilizam de vários elementos diferentes. As músicas são de longe a melhor parte do jogo, tentando salvar os momentos únicos que foram estragados pelo terrível level design. Os visuais são mais bem trabalhados e únicos que o original e mantém no estilo cartunesco/bizarro da série, que encaixa muito bem com seus temas.

O jogo conseguiu representar a sua essência muito bem no estilo artístico, e mesmo que seja um jogo mediocre, conseguiu se manter interessante baseando-se apenas na sua arte. Pelas razões citadas na gameplay, Hotline Miami 2 foi um jogo que eu não gostei de jogar e me desapontou bastante. Recomendo a qualquer fã do original jogar do mesmo jeito, porque quem sabe a minha opinião possa acabar tendo sido muito radical para alguns, já que eu tinha certas expectativas altas demais para a visão que eu tinha da série.

Reviewed on Nov 03, 2020


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