ALERTA DE REVIEW ENORME PELA FRENTE

Tentei poucas vezes jogar a saga Yakuza. A primeira, lá na época do PlayStation 2, não foi muito boa. Achei um jogo muito esquisito e muito chato, aos 12 anos minha opinião era "é muito mais filminho que jogo". Pouco menos de um ano atrás, tentei jogar Yakuza 0, quando tava de graça na PS Plus. Joguei menos de 4 horas e desisti, falando que não era meu tipo de jogo. Eis que surge Lost Judgment de graça na PS Plus. Eu sabia que era um spin-off de Yakuza (hoje chamado Like a Dragon) e fiquei com o pé atrás, mas a temática de detetive acabou me chamando muita atenção e resolvi dar uma chance, se não fosse dessa vez com certeza não ia mais... E não é que foi?

Lost Judgment é um dos melhores jogos que já joguei na vida. Eu acho que quando tentei Yakuza 0, eu fui com a mesma cabeça de 12 anos, não querendo gostar, no automático. Aqui a temática me fez engajar e eu fiquei muito surpreso com tudo que experimentei.

Primeiro de tudo eu preciso falar do como eu achei essa gameplay de combate maravilhosa. Os variados estilos de luta, como cada um deles impacta durante o combate e a maneira que eles fluem em meio aquela porradaria frenética em que o jogo te coloca quase que constantemente é de encher os olhos. Eu simplesmente ficava ansioso pra ter um encontro de luta novo só pra poder fazer aqueles ataques de artes marciais com mortais, voadoras, chutes twist duplo carpado e por aí vai. Mas isso não significa que o resto da gameplay seja ruim, muito pelo contrário. Eu também gostei muito das partes de investigação e stealth, de como tu precisa examinar ambientes, passar despercebido, descobrir rotas alternativas, toda a questão policial da parada. O jogo também tem elementos de parkour que são muito, muito simples, mas que cumprem o propósito deles e, nesse caso, acho que é o que importa.

Outro ponto que queria tocar são os gráficos. Muita gente pode até falar que hoje em dia, ao lado de games do mercado norte americano, eles são até fracos. E, de fato, eles são bem simples, principalmente se comparados aos lançamentos recentes como, por exemplo, Baldur's Gate III, RE4 Remake, Alan Wake II e por aí vai. Eu já acho eles muito bem feitos e bonitos. Gosto de como os personagens são bem trabalhados e são extremamente semelhantes às contrapartes live-action e eu amo a recriação digital de Kabukicho (usada pra representar Kamurocho) e Isezakicho (aqui representando Ijincho). Desde as entradas de cada distrito ao clima de cada um deles, sendo Kabukicho chamada de "A Cidade Que Nunca Dorme" devido ao alto número de restaurantes, clubes noturnos e lojas e Isezakicho, que é um enorme centro comercial. Eu achei delicioso ficar caminhando pelos mapas, até porque eu sou um grande apaixonado pelo Japão. Então, pra mim, foi como estar caminhando por lá mesmo. Perdi várias horas só andando pelo mapa e observando os pequenos detalhes de cada loja, boate, restaurante, praças, prédios que captam com perfeição o estilo de vida japonês.

Eu também acho simplesmente impressionante a vastidão de gameplays misturadas que esse jogo tem. Desde os elementos de party games com a quantidade gigantesca de minigames que vão de mahjong, baralho, dardos e etc. Assim como também do nada tem um jogo de ritmo dentro do caso do clube escolar de dança, como tu também meio que brinca de boneca quando tem que disfarçar a Saori. Isso sem falar também na quantidade de games do Master System no escritório do Yagami e de arcade que tem quando tu visita os fliperamas da SEGA em Kamurocho ou Ijincho, é basicamente um emulador dentro de um jogo muito maior.

Os personagens são extremamente carismáticos e não demora muito pra que tu te afeiçoe a eles. Desde o Yagami, que é um puta protagonista, como o Kaito, o Sugiura, o Tsukumo. Sem falar na gama enorme de coadjuvantes, como a Saori, o Genta e outros personagens que vão surgindo ao longo do jogo. Eles são tão distintos e é tão fácil se afeiçoar que ao longo da história tu consegue sentir diversas emoções em relação a eles: raiva, tristeza, nojo, surpresa. É surreal.

E agora o ponto que foi o que me impactou de forma gigantesca: a história. Como eu falei, "muito mais filminho que jogo". Agora eu entendo que não só Lost como a franquia Yakuza são jogos que, embora tenham uma gameplay extremamente variada e extensa, tem um foco tão grande ou até maior na narrativa. E, meus amigos, que narrativa. A história é, talvez, uma das, se não a mais pesada que eu já vi em um videogame. Eu achei impressionante como conseguiram abordar tópicos controversos e pesados, como assédio sexual e bullying, de maneira séria e de modo que faça o jogador até mesmo refletir. Eu vi muita gente reclamando do pacing e eu realmente entendo, Lost Judgment é um jogo lento. Mas, nesse caso, eu acho que isso se faz necessário.

O roteiro desse jogo é uma parada muito bem feita, a história que, como eu já disse, é pesada, densa. E quanto mais ela se desenrola, mais ela pesa e mais eu fui me sentindo sujo, sendo exposto a tantas reviravoltas obscuras e situações pesadíssimas. Mas o jogo em nenhum momento coloca isso gratuitamente, ele traz diversos debates morais, políticos, sociais que devem sim serem discutidos e também fazem comentários extremamente relevantes sobre tudo que ele apresenta. O roteiro também coloca o jogador numa saia justa porque temos, de certa forma, dois vilões. Um deles é meio que o tempo todo taxado de vilão mesmo e o outro os escritores queriam que fosse de cada um que jogasse o game. Porque, embora as ações não justifiquem, as motivações do segundo "antagonista" são muito mais complexas e, para alguns, podem até ser sim justificáveis. E tenho certeza que era justamente isso que a RGG queria: botar uma pulga atrás da orelha de cada jogador e fazer com que ele entrasse num debate moral consigo mesmo ou com algum amigo que também tenha jogado ou esteja jogando. Cada capítulo que passa, a história vai se revelando e se abrindo mais pra culminar no apoteótico capítulo final, onde todas as pontas colocadas no enredo se amarram com maestria, elementos mostrados no primeiro capítulo são reinvocados conforme o contexto que a história se encontra e, embora seja uma história, como eu já disse, pesada, traz elementos de épico, comédia, drama, thriller, ação, aventura e policial. Inclusive, isso também é um ponto espetacular: como conseguem colocar elementos de diversos gêneros sem que nada pareça forçado, mas encaixado de forma natural e que se mistura com todos os outros, sem nunca pesar mais que a temática principal ou invalidar o drama/thriller. E, apesar de toda essa imundície que a história explora, eles ainda conseguem nos entregar um final esperançoso genuíno, que não parece uma forçada de barra melodramática de comercial de margarina.

Lost Judgment é um jogo com uma história extremamente bem escrita, com uma gameplay extensa, variada e envolvente e que suga o jogador pra dentro de si, fazendo com que a gente se envolva com o enredo e queira sempre descobrir o que está por vir e onde a história vai parar. Fico feliz de ter dado uma chance pra franquia Yakuza, que agora figura entre as minhas favoritas. Como fui meio pateta e joguei esse aqui antes do primeiro, Judgment já tá na minha lista de próximas jogatinas e a franquia principal também. Principalmente agora que parece que Like a Dragon tá tendo um boost em popularidade. Além disso, também vou ficar de olho em mais coisas que a RGG tenha pra me oferecer.

Reviewed on Dec 31, 2023


7 Comments


5 months ago

Cara como eu quero entrar de cabeça na série Like a Dragon... Eu vejo muita gente que é fã falando muito bem, e essa Review sua, maravilhosa inclusive, me deixou com ainda mais vontade... Muita gente fala que Yakuza 0 é o melhor de todos, espero que numa segunda jogada você também ame... Não vou mentir eu fico feliz quando alguém fica feliz jogando um jogo 😅.

Poxa, eu queria pedir uma coisa, eu fiz uma lista de jogos JRPGs que não joguei ainda, você pode me recomendar alguns? Queria tornar essa "Saga dos JRpgs" o mais completo possível, até pq agora eu tô apaixonado pelo gênero...

5 months ago

@Simply_OverB cara, vou ser completamente sincero: eu conheço JRPG num nível muito básico. Nunca me aprofundei muito e sempre fiquei nas franquias mais mainstream. Mas cheguei a jogar alguns mais nichados também, mas nada muito a fundo também. Que lembro agora tem Shin Megami Tensei Nocturne, a franquia Wild Arms, Rogue Galaxy, Odin Sphere, Dragon Quest VII (esse é mais mainstream mas é um dos meus favoritos), Ni No Kuni, The Legend of Dragoon, Disgaea, Tales of Legendia, a série .Hack, Grandia III. Acho que são esses, quando eu for lembrando vou te comentando mais, mas os que mais me marcaram foram esses aí. Tomara que tu curta algum hahaha

5 months ago

@Simply_OverB JOGUE YS!
Principalmente o Lacrimosa of Dana.

5 months ago

@Simply_OverB ali em cima faltou um palitinho, eu quis dizer na verdade o Dragon Quest VIII do PS2. Foi um dos primeiros games que joguei quando ganhei meu PS2. Não entendi nada mas amei os personagens, joguei ele depois quando já tava mais velho e me apaixonei. Mas o VII também é maravilhoso.

E vai na do @Bertolomeu também, tinha até me esquecido. Ys é maravilhoso também, Lacrimosa of Dana é um absurdo de lindo.

5 months ago

@Gaimm_ @Bertolomeu Gente, eu fui pesquisar sobre Ys fiquei mais perdido do que quanto tava pesquisando sobre Shin Megami Tensei e Persona... Me ajudem rapidinho, são 10 jogos? Existe alguma versão de algum jogo que é melhor que outra, tipo um remaster ou remake? e o Ys X lançou esse ano? Quais vocês me aconselham a jogar primeiro ou em que ordem... Jrpgs sempre me deixam com um nó pois tem muitos séries com mais de 8 jogos, daí pra me organizar, fico completamente perdido...

5 months ago

@Simply_OverB quem vai poder te confirmar isso é o @Bertolomeu, eu joguei o Lacrimosa of Dana justamente por recomendação dele. E eu confio neste homem!!!!!!!

Mas pelo que vi são dez games da linha principal, o Ys X saiu esse ano sim. Parece que tem uns spin-offs e um prequel também. JRPG é foda por isso, tu acaba descobrindo uma franquia e ela tem 18 títulos divididos em linha principal, spin-off, remaster, coletânea de vários jogos em um. :P

5 months ago

@Simply_OverB Eu recomendo começar a saga justamente pelo Lacrimosa of Dana, que é de longe o ápice da franquia.
Cada um dos jogos tem sua própria história individual e fechada, tendo só algumas pequenas referências a aventuras passadas, então não precisa se preocupar com isso.

Eu comecei esse jogo sem nenhum tipo de expectativas, apenas de mente aberta, e o que eu recebi foi um dos jogos favoritos da minha vida inteira.