Dá para considerar UNSIGHTED um metroidvania? Essa pergunta só pode ser respondida através de outra: o que é metroidvania?

Eu não tenho uma resposta perfeita para essa pergunta, mas tenho uma definição pessoal que funciona muito bem pra mim. Metroidvania é um subgênero de plataforma (tanto é que costumo usar o rótulo platformer-adventure como alternativa), com uma exploração semi-linear mediada por itens e habilidades. Simples, não? Usando essa definição, UNSIGHTED parece não se encaixar na categoria. Afinal, sua perspectiva top-down o coloca de fora do gênero de plataforma.

Mas calma lá, não nos precipitemos. Metroidvania tem que ser plataforma, mas nada na definição que coloquei acima disse que tem que ser side-scrolling. Contemporaneamente não há muitos exemplos, mas jogos de plataforma 2D podem sim utilizar outras perspectivas — clássicos como Knight Lore e Qbert estão aí para provar. UNSIGHTED é pouco convencional nesse sentido, mas tem todo o foco em movimentação e overdose de pulos dignos do gênero.

E quanto a outra parte da equação, a exploração semi-linear? Aí a coisa complica um pouco. Apesar de eu gostar da minha definição, tem um pouco de espaço pra interpretação. Isso é deliberado. Estamos lidando com arte, não é uma ciência exata. Mais do que simplesmente ver se a exploração é linear ou não, eu sempre me pergunto se ela é não-linear o suficiente para considerar um game metroidvania. Nesse aspecto, minha impressão de UNSIGHTED foi mista por boa parte do jogo. O mapa é bem grande e os objetivos espalhados, mas o caminho que você tem que seguir parece bem fixo. O jogo até marca no seu mapa a ordem exata em que você deve fazer os "templos".

Foi aí que eu descobri o wall jumping e percebi que a "ordem exata" não passava de uma leve sugestão que pode e deve ser ignorada. Foi nesse momento que todas as minhas dúvidas se esvaíram: estou lidando com um metroidvania, e um excelente, por sinal.

Assim como seu nome, muita da profundeza mecânica de Unsighted passa desapercebida de início. Os itens que você ganhou? Eles têm mais do que uma única função e podem ser usados de formas inesperadas para alcançar lugares que você achava que não podia. O inimigo apelão que claramente só pode ser derrotado com uma arma especial? Talvez a arma especial não seja necessária afinal de contas, "git gud" e tente de novo. E aquele chefão que o jogo te diz explicitamente pra deixar por último? Vai lá e mata ele no prólogo do game, nada está te impedindo.

O limite de tempo do game, uma de suas mecânicas mais únicas e polêmicas, a primeira vista parece ir contra o que se espera de um game do gênero, te punindo por explorar em vez de cumprir os objetivos. Mas não é bem o caso. Explorar te dá acesso a itens que aumentam o tempo, além de te darem um conhecimento melhor do mapa e seus segredos, permitindo que você otimize sua jornada. O resultado é uma sempre presente ansiedade e senso de risco e recompensa na primeira vez que você jogar, e infinitas possibilidades de speedrun e sequence-breaking em jogatinas posteriores — um prato cheio para fãs do gênero.

Enfim, respondendo à pergunta do início: UNSIGHTED é mais metroidvania que muito Metroid e Castlevania. E ainda tem robôs lésbicas com crise existencial. Como não amar?

Reviewed on Nov 15, 2021


2 Comments


2 years ago

Já eu sou o tipo de maluco que chama Arkham Asylum, Dark Souls e The Witness de metroidvanias.

2 years ago

Arkham Asylum até vai, os outros eu respeitosamente discordo XD