Tunic, cobrindo-se de simbologia nostálgica, ressignifica a experiência de seu gênero através de uma exploração genial sobre a comunicação jogador-jogo: escrita em uma linguagem própria, não só charmosamente remete aos tempos em que tinhamos que jogar jogos obtusos em línguas que não sabíamos, quanto usa disso para criar um enigmático trilho de migalhinhas de pão, induzindo mas nunca empurrando o jogador em uma aventura que lentamente descascará todas as camadas da cebola: segredos, geografia, narrativa, lore, mecânicas - nem o menu está a salvo da barragem de revelações a cada esquina.

Certamente obtuso em partes, especialmente se você quer alcançar o “True Ending”, o que Tunic fez de diferente para com que eu, famoso cérebro de lagartixa, me motivasse a tentar descobrir tudo sozinho? A resposta é dura para a concorrência: tudo. O jogo é lindo, bem polido, tem uma ótima trilha sonora. Aliando esses fatores com a supracitada trilha de migalhas, constante e bem pensada, que não me fez ousar abrir o Google e digitar “Tunic spoiler free tips reddit” pelas primeiras 14 horas, eu nunca tive vontade de nada além de seguir em frente. Pelo contrário, até depois do True Ending, ainda sinto vontade de me debruçar sobre seus mistérios até chegar no 100% - cada migalhinha restante, exponencialmente mais críptica, mantendo o gostinho na boca.

Não sei porque decidi começar a jogar Tunic - sua casca é uma isca que proclama o “indie Zelda com bichinho fofinho” #infinito - e fui surpreendido com uma das experiências mais divertidas, engajantes e profundas que tive em um bom tempo. No começo desta entrada não disse que Tunic reinventou o gênero de jogos de aventura, e sim entregou uma experiência que te faz apreciar cada pequeno detalhe que os compõem, e que, emulando o nostálgico, os dispunha para serem vistos com outros olhos. Em um tempo em que sempre busco pelo que um jogo está tentando falar, encontro um que ativamente rejeita palavras, e através disso transcende barreiras de linguagem, te reduzindo a sentir. Adorei.

Jogue sabendo o mínimo possível.

Reviewed on Sep 09, 2022


6 Comments


Crash + Zelda + Souls

1 year ago

baita review!! adorei sua leitura do jogo e queria muito ter tido uma experiência parecida, infelizmente não clicou comigo. me culpo um pouco por ter entrado meio cínico diante dessa estética abusada dos indie de publisher, mas nem com o tempo desenvolvi interesse pra algo além do sistema de linguagem.

continue escrevendo pra cá, cara! tuas ideias são ouro pro padrão da comunidade e é um conteúdo único no nosso idioma aqui, parabéns!!

1 year ago

Concordo com totolecc 100%.

Inclusive saudades de quando o Bernardo tinha saco pra escrever reviews gigantescas de 20 parágrafos, hahahaha

1 year ago

@totolecc sem dúvidas cara, também tive todas mil ressalvas antes de decidir jogar Tunic, pelo mesma ideia. Foi até que uns amigos que confio decidirem jogar e me recomendaram que acabei dando chance. meio esperando nada. Acho bem válido não ser fisgado por Tunic, porque ele realmente tem que te vender pelo todo, e o todo tem n coisas que parecem/são muito derivativas.

Agora, pqp muito obrigado pelos elogios, acho que você nunca tinha comentado em alguma minha antes então veio bem de surpresa! Sempre insisti em escrever em português aqui por dois motivos: um, porque eu sempre escrevo pra mim mesmo e em inglês não seria genuíno, e dois, pra propagar o conteúdo em português também. Tinha uma época me que era mais geral no discord e até podiamos falar em pt nos servidores gerais, então sempre dei importância pra gente manter um espaço nosso por aqui - era uma honra que tem até uma galera que se dava o trabalho de traduzir pra ler o que os BRs/hermanos escrevem.

@CDX

❤️ pra vc também cara

agora, e se eu te disser que o bernardo de hoje quer escrever cada vez menos (em numero de paragrafos, as reviews nunca pararão)? kkk é uma questão de quanto mais escrevo, mais vergonha alheia sinto do que tá saindo

1 year ago

❤ de volta!

Ah, tu sente vergonha muito fácil. Injeta uma auto-estima aê, porra, que tu merece!

1 year ago

Brabo