O jogo assim como sua protagonista se recusam a viver até seu cume, e lá ao olhar para trás encara toda a beleza e feiura que deixou, nascer pode ter sido um pecado onde a única redenção é, sim, a morte, mas quando ela enfim chegar, até que demos boas risadas. Drakengard 3 é um jogo sobre todos os seus problemas, e sobre toda a sua saturação, sobre a raiva de ter que explorar algo cujo único intuito é explorar uma franquia que já deixou de ser o fruto de uma vontade criativa e se tornou mais uma ferramenta vazia de acumulação do capital, e esse jogo faz disso sua força, ele entende tudo que ele é e ao se odiar tanto ele consegue demonstrar o amor de sua tragédia e como as coisas podem realmente podem não acabar bem, mas devemos valorizar os momentos de humanidade que a arte nos proporciona.

Elden Ring conta a história de pessoas lutando em um mundo decadente em busca de poder e de instaurar as suas próprias Eras, que nada mais são que uma reforma ineficaz e que vão sempre levar ao mesmo fim decadente. Shadow of the Erdtree explora os pecados e a corrupção escondidas do jogo base em prol de uma imagem mais messiânica das figuras divinas e heroicas desse mundo como Marika e sua família, nuclearmente é possível de chegar de forma ainda mais clara a morte de um heroísmo e como a busca de uma figura que assumirá as dores desse mundo em um individualismo que se assemelha a um messias é dada em uma trajetória de falsidade e sangue. No fim, assim como no jogo base, a estrutura narrativa da DLC se foca em desconstruir qualquer senso de pureza, de preto no branco, ou mesmo de um futuro melhor em um sistema já quebrado e usado por forças cujas quais nem mesmo conhecemos, seja para Miquella ou para Ranni, esse paraíso só pode existir com sangue sendo derramado e cortando as raízes de todo esse mal estrutural, e uma má interpretação disso pode levar apenas a corrupção do amor e da gentileza.
Apesar de terem conceitos que poderiam ter sido melhor explorados e acabam ficando meio jogados dentro dessa estrutura que a DLC optou por seguir, a narrativa de SotE se mostra assim como a do jogo base como um dos jogos modernos mais interessantes que temos.

Nada mais simbólico que The Rising Tide reutilize um leimotif do trailer de awakening - justo o trailer que apresentou Final Fantasy XVI para o mundo - em um catártico momento que não apenas serve para finalizar mais um capítulo dessa longeva franquia, mas também para simbolizar o começo de uma nova era que se inicia. E, gostando ou não, Final Fantasy XVI é o início dessa nova era. Uma era de mudanças e experimentações justo em uma franquia tão atrelada a seu icônico combate por turno. E o futuro parace bastante animador pra ela.

Sinto que Wanted: Dead cobra uma certa maturidade na mídia para apreciar suas qualidades, não no sentido quantitativo que a pessoa pode ter jogado, mas no interesse que essa pessoa possa ter na mídia como forma de linguagem. O jogo toma diversas escolhas questionáveis em busca de uma unidade estética muito própria dele onde essa unidade parece ter suas próprias brigas internas para coexistirem e essa é a graça de Wanted: Dead e como ele é tão sutil quanto um elefante em uma loja de pires, é um jogo simples e direto como muitos jogos não ousam ser, frontal de uma forma que a esterilidade moderna não vai o aceitar. Curiosamente é nos seus pontos mais "padrões" que ele costuma falhar, isso em âmbitos narrativos e mecânicos, mas ainda é estranho o suficiente para segurar a minha atenção.