Interessante como, de certa forma, o jogo subverte toda a sua narrativa para o terror da solidão como algo maior que todo o horror do jogo em si. Você só está naquele universo por ir atrás de sua esposa, o mal só existe por uma necessidade de criar vínculos familiares e os vínculos que ele cria surgem através de uma união forçada de personagens em uma família disfuncional. A existência de dois finais, um positivo e um negativo, surgem apenas para reforçar a tese desta narrativa, que mostra que a vida de Ethan só faz sentido ao lado do laço que ele escolheu para si, uma co-dependência que aproxima demais o protagonista de Eveline, sua antagonista.

Seres sociais que necessitam de laços para sobreviver, caso contrário, a existência perde todo o sentido. Faz todo sentido que a narrativa apele para o melodrama dentro do terror para contar esta história.

Faz um tempo que eu não jogo Hollow Knight e ainda me pego pensando a respeito daquele universo. É muito interessante realizar que é todo um mundo composto por vermes/insetos e que o principal tema em torno disso tudo seja a ganância, da forma mais abrangente possível, pois há ganancias de todos os tipos possíveis no jogo. Daí, a sacada mais sensacional disso tudo é que o protagonista se chama Hollow Knight, literalmente um cavaleiro oco, desprendido de todo esse materialismo e que é encarregado de libertar esse mundo.

O problema é que esse mundo é tão zoado, que a sua salvação depende de um sacrífico. É a abdicação total de tudo que é material para tentar resgatar os valores mais simples. No final principal, há uma passagem de bastão bem singela para a Hornet (protagonista da sequência) que é o simbolo da esperança dentro daquela terra, visto que é a personagem com uma aura mais ingênua, que se cobra para se superar o tempo inteiro e se tornar melhor com o passar do tempo. O vazio se sacrifica para dar lugar ao autoconhecimento.

Hollow Knight é melhor metroidvania desde o primeiro Metroid. Criação de universo impecável. A ruina de um mundo de insetos destruído pela ganância de um rei megalomaníaco e súditos completamente cegos pela criação deste universo. Briga de tribos, luz versus trevas, genocídios, experimentos terríveis. Só um filho sobrevivente das trevas e perfeitamente vazio de qualquer sentimento é capaz de salvar este mundo da infecção do Deus luminoso e da arrogância de um rei egocêntrico. Cada canto do ambiente conta uma história, o mapa desnorteante e detalhista dá vontade de explorar cada cantinho e entender o porque que aquele mundo ruiu. O simples artesão passa a ter importância, nenhum personagem ali é vazio.